Nanismo, Globo e carreira: conheça Giovanni Venturini, ator que pode chegar ao Oscar (Foto: Heloísa Bortz)

Em mundo onde o preconceito, quando não é explícito, está enraizado em uma sociedade cada vez mais egoísta e em busca de seus próprios objetivos, um pequeno gigante tenta fazer a diferença, conquistando fãs pela sua sagacidade profissional e admiradores pelo seu modo de enfrentar os percalços da vida.

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O Virgula conversou nesta segunda-feira com o ator Giovanni Venturini, que estará na próxima temporada da série “Justiça”, da Globo, mas que, antes de mais nada e de tudo, pode concorrer ao Oscar de 2024, com o curta “Big Bang”, já detentor de muitos prêmios na cena cinematográfica.

Giovanni falou sobre sua carreira de mais de dez anos, do preconceito sofrido fora e dentro da própria classe, do combate ao capacitismo e da luta para ter papéis à altura do seu talento indescritível para a atuação.

“Depois de muito tempo, eu comecei a me posicionar e dizer ‘não’ para tentar mudar esses personagens e venho me posicionando na classe artística e no mercado de trabalho como um ator, antes da minha condição física. Dessa forma, consegui mudar roteiros e características pejorativas conversando com os roteiristas e diretores e construindo personagens melhores que fugissem desse clichê e desses lugares estereotipados”, contou Giovanni.

Veja abaixo a entrevista completa com o ator Giovanni Venturini.

Virgula: Qual a sua expectativa para Justiça 2? Pode nos contar mais sobre sua personagem na série?

Giovanni: A minha expectativa para Justiça 2 é muito grande, espero que essa temporada  tenha um alcance e uma repercussão tão boa quanto a primeira. É uma série que está em uma grande plataforma e em um grande canal, então tenho certeza que vai ser um sucesso. Sobre o meu personagem, ainda não posso revelar muita coisa, mas o Elias trabalha em uma Pet Shop, dando banho e tosando cachorros.

Digamos que esse seja o seu único lado fofo na história (risos), porque no geral ele não é uma pessoa de bom caráter e quer ser o sobrinho preferido do Jaime (personagem do Murilo Benício) e para isso não mede esforços em puxar o saco e até acobertar o tio. Por enquanto é só o que posso dizer, mas acompanhem a próxima temporada no ano que vem pra conhecer mais
sobre ele.

Virgula: Estar em uma empresa como a Rede Globo, com o alcance nacional, ajuda em que especificamente sobre o seu trabalho?

Giovanni: Como a própria pergunta diz, o que interfere no meu trabalho é justamente o alcance nacional e a visibilidade que eu vou ter, mas em relação a carreira consistente e sólida que eu tenho há mais de dez anos, tanto no teatro, quanto no cinema, quanto na escrita, ela vai continuar existindo e vou continuar realizando esses trabalhos, no momento não pretendo fechar essas portas.

Espero que esse espaço que eu tenho conseguido na Globo sirva para abrir portas em outros projetos e trabalhos. Acho que a visibilidade vai ajudar nessa questão de difundir a minha arte e mostrá-la para mais pessoas que não tinham acesso a ela.

Virgula: Conte-nos um fato inusitado sobre a sua carreira.

Giovanni: Vou contar um fato que está acontecendo nesse momento na minha carreira. Eu fiz um curta, chamado Big Bang, feito de forma totalmente independente e que vem ganhando muitos prêmios dentro dos festivais de cinema do mundo. Nós estamos qualificados para tentar uma vaga no Oscar.

Eu nunca imaginei chegar a premiação e agora tem essa possibilidade. Estamos ainda na fase inicial de campanha, é uma longa jornada até ser qualificado para a Short List, e a partir daí ver se ele será selecionado para a lista de cinco curtas de ficção concorrentes ao Oscar. É um
caminho longo e um tanto difícil, mas estão nos permitindo sonhar. Nunca tinha pensado nessa possibilidade, mas agora ela se mostra um pouco mais palpável e muito próxima de acontecer, vamos ficar na torcida e seguir na campanha rumo ao Oscar com Big Bang.

Virgula: O preconceito no Brasil ainda é grande? Na classe, você sente que sofre com isso?

Giovanni: Sem dúvida, o preconceito no Brasil ainda é grande em vários níveis e lutas. Preconceito racial, LGBTfobia e capacitismo estão presentes sempre. Falando especificamente do capacitismo, ele ainda é pouco difundido e é um dos preconceitos que é mais enraizado na sociedade e feito de uma forma muito naturalizada. É visível o modo como nós somos desconsiderados e invisibilizados em tudo.

Dentro da classe, é claro que eu já tive problemas com isso, principalmente lá no início. Chegavam muitos convites de personagens estereotipados, caricatos e pejorativos e eu não estava de acordo em difundir essa imagem que só reforçava o preconceitocom as pessoas com nanismo. Depois de muito tempo, eu comecei a me posicionar e dizer “não” pra tentar mudar esses personagens e venho me posicionando na classe artística e no mercado de trabalho como um ator, antes da minha condição física. Dessa forma, consegui mudar roteiros e características pejorativas conversando com os roteiristas e diretores e construindo personagens melhores que fugissem desse clichê e desses lugares estereotipados.

Virgula: Qual o maior sonho da sua carreira? E na vida?

Giovanni: Meu maior sonho nesse momento é chegar ao Oscar, como eu disse, estamos em uma campanha pra tentar uma vaga ao Oscar. Digamos que a gente está na Copa do Mundo na fase de Grupos. Agora precisamos avançar para as próximas. Meu sonho é chegar nessa final do maior prêmio de cinema mundial que é o Oscar.

Virgula: Em quem você mais se inspirou ou se inspira profissionalmente?

Giovanni: Sem dúvida nenhuma, quem mais me inspira profissionalmente é o Peter Dinklage, um ator com nanismo maravilhoso, ganhador de vários prêmios e que hoje em dia consegue fazer personagens que não necessariamente estão ligadas ao nanismo. Hoje em dia chamam ele pela qualidade e pelo baita ator que ele é. Me inspira muito tanto nessa postura artística quanto na postura política e na luta das pessoas com nanismo. Aqui no Brasil, posso citar outros tantos artistas com deficiência que me inspiram como Edu Ó, Estela Lapponi, Daniel Gonçalves, Jéssica Teixeira e a lista é infinda.


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Nanismo, Globo e carreira: conheça Giovanni Venturini, ator que pode chegar ao Oscar

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