Letícia Rodrigues rouba a cena como Sandrão em “Tremembé” e fala com o Virgula (Foto: Divulgação)
Com uma das atuações mais comentadas de “Tremembé”, nova série da Amazon Prime Video criada por Vera Egito, Letícia Rodrigues se consolida como uma das vozes mais potentes da nova geração do audiovisual brasileiro. Inspirada em crimes reais que chocaram o país, a trama mergulha no universo de um presídio feminino e revela, com intensidade e sutileza, as camadas humanas por trás das grades — um retrato de poder, afeto e sobrevivência que vem conquistando o público.
Na pele de Sandrão, líder temida e estrategista dentro da penitenciária, Letícia entrega uma performance visceral. “O grande protagonista da série é esse lugar chamado Tremembé”, conta. “Nada acontece ali sem que Sandrão saiba ou autorize. Ela é uma figura de comando, e o desafio foi me encaixar em tantas características dessa personagem que é tão diferente de mim.” A atriz diz ter precisado acessar territórios internos pouco explorados. “Sou uma pessoa doce e gentil, e precisei encontrar energias dentro de mim que raramente visito. Nem sempre é bom descobrir tudo de nós mesmos. Dá medo, confusão. Mas é isso que o ofício pede: atravessar linhas e colorir a história que precisamos contar.”
Instagram – Famosos, Música, Vídeos Engraçados, Life Style e muito mais!
TikTok – Os melhores vídeos do mundo do Entretê de um jeito que você nunca viu!
Facebook – Todas as notícias do Virgula em apenas um clique, em um só lugar!
A preparação foi intensa e diária, com orientação das preparadoras Maria Laura Nogueira e Carol Fabri, sob direção de Vera Egito, Daniel Lieff e Fabiana Winits. “Trabalhar como intérprete é não conhecer zona de conforto. Há quem trabalhe com cortes de carne; nós trabalhamos com o cultivo do mistério”, brinca. “Foi um processo de muito estudo, composição e entrega. Um trabalho coletivo, de muitas mentes criativas reunidas para dar corpo a essa história.”
Na trama, Sandrão vive um relacionamento intenso e estratégico com a personagem de Marina Ruy Barbosa. “Marina é uma atriz talentosa e experiente. O sonho de qualquer intérprete é trabalhar com artistas como ela e o elenco inteiro de Tremembé. Nós queríamos fugir do clichê, construir algo complexo, com admiração, inteligência e ambição.” O resultado, segundo Letícia, é uma relação que “ultrapassa o óbvio” e se torna um dos pontos mais fascinantes da série.
- Fernanda Bande relembra período difícil antes do BBB 24: “Nenhum real no bolso”
- Caio Afiune retoma com nova fase do projeto agro “Vida no Campo”
- Lumena Aleluia aposta em bioestímulo de colágeno no bumbum como preparação para o Carnaval
A atriz mergulhou também em um estudo profundo sobre o sistema prisional feminino. Leu reportagens, os livros de Ullisses Campbell (autor da obra que inspirou a série) e “As Prisioneiras”, de Dráuzio Varella. “O que mais me marcou foi a comparação entre as filas de visitas nos presídios masculinos e femininos. Nos masculinos, as filas são imensas. Nos femininos, quase não há visitas. Quando uma mulher é presa, a família, o companheiro, os amigos rompem o laço. Fiquei pensando nesse tempo expandido ali dentro e nessa solidão absoluta”, reflete.
Consumidora assumida do gênero true crime, Letícia acredita que o fascínio do público vem do desejo de compreender o incompreensível. “A gente tenta entender por que certas situações fogem à lógica do viver ordinário. Tremembé tem esse atrativo — é uma série profundamente brasileira, feita pelos melhores profissionais artísticos e técnicos do país. É hora de o Brasil contar suas próprias histórias.”
Além do sucesso no streaming, Letícia se destacou recentemente no teatro com o solo “116 Gramas”, espetáculo autoral que discute gordofobia de forma poética e visceral. A peça, que estreou em 2023 após cinco anos de criação, rodou diversas cidades e foi recebida com emoção pelo público. “O primeiro impeditivo na minha carreira sempre foi o peso. A peça nasceu como um expurgo, mas também como um convite à reflexão. Fico feliz em perceber que pessoas que nunca sofreram gordofobia também se sensibilizam — fala com qualquer um que já se sentiu um peixe fora d’água”, comenta.
Viver Sandrão foi um divisor de águas. “Foi muito duro chegar até aqui, mas é indubitavelmente o que eu quero fazer da minha vida. Fica em mim a maravilha de ter cruzado com pessoas tão especiais e talentosas que acreditaram e me apoiaram quando nem eu mesma imaginei que pudesse fazer.” E o que ela deseja que o público sinta ao assistir à série? “Quero que o brasileiro se orgulhe da arte que fazemos aqui. Que perceba o esforço diário de uma centena de pessoas que trabalham para que boas histórias cheguem às suas casas. É difícil, mas seguimos lutando para que o Brasil tenha soberania sobre suas próprias narrativas.”
E entre tantas cenas densas, também teve leveza. “Tem uma cena no refeitório, com Marina e Bianca Comparato, em que o resto do elenco começou a improvisar e quase atrapalhamos a gravação de tanto rir”, lembra. “A Carol Garcia começou a falar sobre camarões na moranga e o improviso acabou ficando no corte final. É quase imperceptível, mas foi uma das cenas mais engraçadas que filmamos.”
Com “Tremembé”, Letícia Rodrigues reafirma o que o público que a acompanha no teatro já sabia: ela é uma intérprete de entrega rara, dessas que não têm medo de mergulhar — mesmo quando o mergulho é fundo, escuro e transformador.
