O Mundial de Atletismo de Moscou termina neste domingo (18) em meio a fortes polêmicas sobre a falta de público nas competições assim como as impactantes declarações da saltadora russa Yelena Isinbayeva em relação ao homossexualismo.

“Isso está morto, não há ambiente”, afirmou o velocista dominicano Félix Sánchez, bicampeão olímpico (Atenas 2004 e Londres 2012), após disputar na segunda-feira passada sua eliminatória nos 400 metros com barreiras.

Vários atletas, sobretudo aqueles que participaram das sessões matinais durante os primeiros dias das competição, disseram que vão voltar de Moscou com um gosto ruim pela falta de interesse dos russos para com o evento.

“São poucas as pessoas que entraram no estádio (de Luzhniki), principalmente na maratona feminina. Quando as mulheres chegaram ao estádio, havia muito pouca gente. É algo que se fala entre os atletas”, disse à Agência Efe o maratonista equatoriano Miguel Angel Almachi.

“Todos querem ver o estádio cheio, porque o apoio das pessoas também nos estimula”, acrescentou.

O decatleta alemão Michael Schrader, que conquistou a prata em Moscou, foi taxativo em relação à ausência de espectadores: “antes da prova de salto em altura, pensei que estava em um treino. Havia umas 20 pessoas e ninguém aplaudiu”.

O presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF), Lamine Diack, declarou que não foi pego de surpresa por tão baixo nível de interesse na Rússia pela competição.

“Quando estive na Rússia em abril, reparei que havia muita promoção de (a Universíade de) Kazan, de (os Jogos Olímpicos de inverno de 2014 em) Sochi, mas não vi nada do Mundial de Atletismo. Então, o que esperavam?”, questionou.

Diack afirmou que o atletismo não pode ser comparado ao futebol e precisa de uma campanha de promoção extra: “era preciso publicidade, mas não houve. Chamei a atenção dos organizadores sobre isso”.

No entanto, três dias antes do encerramento do Mundial, Diack aparentemente notou um aumento da presença de público no estádio e suavizou o tom. “A princípio tivemos certos temores sobre o comparecimento”, disse.

O presidente da Federação de Atletismo da Rússia, Valentin Balakhnichiov, saiu à margem das críticas alegando que o público em Moscou foi maior que na última edição, em Daegu (Coreia do Sul), há dois anos, e que o estádio de Luzhniki é maior que o sul-coreano, o que gera a sensação de mais espaços vazios.

“De manhã, vinham umas 15 mil a 20 mil pessoas para as eliminatórias, e à tarde (para as finais), de 65 mil a 70 mil”, alegou.

“Acho que veio gente. Acontece que o estádio é muito grande e parece que há menos gente. Quando Isinbayeva saltou, havia bom público. Também é verdade que é a atleta mais popular da Rússia”, corroborou o maratonista espanhol Javier Guerra.

Isinbayeva, aliás, ganhou as capas dos jornais russos e internacionais, mas por mais do que as conquistas esportivas. Suas declarações contra o homossexualismo e a favor da lei anti-gay da Rússia despertaram uma enorme polêmica mundo afora.

Porém, mais tarde, a campeã e recordista mundial do salto com vara afirmou que suas palavras em apoio à lei contra a propaganda homossexual vigente na Rússia foram mal-interpretadas.

“O inglês não é minha língua materna, e acho que posso ter sido mal-interpretada quando falei que as pessoas deveriam respeitar as leis de outros países, particularmente quando são convidadas. Respeito os pontos de vista dos meus colegas de competição e quero manifestar de maneira inequívoca que me oponho a qualquer tipo de discriminação contra os gays”, afirmou a saltadora na última quinta-feira em comunicado.

Um dia antes, ela havia criticado o gesto da atleta sueca Emma Green, que competiu com as unhas pintadas com as cores do arco-íris em apoio à comunidade gay da Rússia.

“É uma falta de respeito para com nosso país, para com nossos cidadãos, porque nós somos russos. Talvez sejamos diferentes de outros europeus, mas temos uma lei que é preciso ser respeitada”, afirmou


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Mundial de atletismo termina hoje em meio a polêmicas e fracasso de público