Ela tem somente 20 anos, é a líder do ranking na categoria street do skate há três anos e já soma duas medalhas de ouro em X-Games, as Olimpíadas dos esportes radicais. Seu nome é Leticia Bufoni e seu maior desejo é que cada vez mais meninas entrem no mundo do skate.

Paulista criada na Vila Matilde, zona leste de São Paulo, sempre gostou mais de esportes nos quais os garotos é “quem mandam”. Isso segundo a crença popular, já que cada vez mais garotas se aventuram nas quatro rodinhas, nos patins, bmx, surfe e afins, como você pode  ver nessa outra matéria do Virgula Lifestyle.

Só que, para ela, o início foi difícil. Além de seus pais não serem completamente a favor, ela não tinha amigas a quem compartilhar seu gosto pelo esporte. Mesmo assim, no grupo (de garotos) que andava, só ela que levou a prática como profissão, mesmo que tenha sido algo não planejado.

“Eu sempre andava mais com os meninos, pois eu gostava de futebol e skate. Era difícil encontrar alguém que encarasse isso sem sofrer algum tipo de preconceito. Eram mais de 10 meninos no grupo e eu fui a única que levou o esporte adiante”, lembra.

Leticia, que se mudou para Newport Beach, na Califórnia, por causa dos campeonatos que acontecem nos Estados Unidos, sabe que é difícil para o jovem que quer continuar ou até começar a prática no Brasil, já que não há boas pistas disponíveis ou competições de alto nível, com exceção das edições do X-Games e eventos de patrocinadores. Segundo a própria, em entrevista exclusiva ao Virgula Esporte, ainda assim é possível ver um aumento da qualidade das moças que andam de skate.

“O nível das skatistas brasileiras está aumentando rapidamente. O problema é que ainda faltam pistas de qualidade e torneios com alto nível de competividade. As administrações públicas deveriam se atentar para a construção e manutenção das pistas já existentes. Sem isso é praticamente impossível formar talentos”, alerta a atleta.

Estes talentos aos quais ela se refere são principalmente garotas. Leticia se coloca como a porta-voz do skate feminino para que cada vez mais mulheres se aventurem em cima do shape.

Fã de Axl Rose, vocalista do Guns n’ Roses, a jovem não vê problemas com sua idade quando chega a grandes torneios. Talvez porque tenha participado de seu primeiro X-Games com apenas 14 anos. Além disso, nunca carregou aquele peso de ter escolhido a profissão na juventude, já que tudo aconteceu da melhor forma possível e sem sustos.

“A questão da idade não influencia muito para mim. De certa maneira, foi bastante natural, pois comecei a andar de skate muito cedo. Eu jamais sonhei em ser skatista profissional, todas as vitórias e medalhas aconteceram com naturalidade, foi muito rápido. Não sei o que pode passar na cabeça dos mais experientes, mas o importante é que sempre tive o respeito de todos e isso me deixa muito feliz”, salienta Leticia.

Leia abaixo a entrevista na íntegra com Leticia Bufoni:

Virgula Esporte: Você já chegou favorita nos X-Games de Los Angeles, assim como você era em Foz do Iguaçu. Mas na competição que foi aqui no Brasil, houve uma lesão que te deixou nervosa antes da disputa. Lá teve alguma coisa desse tipo, que tirou sua concentração por um instante?

Leticia Bufoni: Nas duas competições eu estava bem focada na conquista da medalha de ouro. Em Foz foi mais complicado, pois havia a pressão de nunca ter conquistado o ouro e ainda tinha o problema da lesão. Eu estava muito nervosa, pois era pra ter ficado mais tempo parada. Depois de muito esforço, consegui voltar a andar e recebi alta poucos dias antes da competição. Não tem nada melhor do que ter levado o ouro no primeiro campeonato após a operação. O melhor de tudo é que foi aqui dentro do Brasil, com todo o apoio da torcida.

Olham para você com mais respeito hoje depois dos títulos ou isso não mudou muito, já que você é líder de ranking mundial de skate vertical já há três anos?

As vitórias e o bom desempenho ao longo dos últimos anos me credenciaram como uma skatista de alto nível. Desde então, sempre fui respeitada em todas as competições, e consegui competir de igual pra igual com as melhores do mundo.

Você imagina ser difícil pro pessoal mais velho ver você com 20 anos, tantos títulos e já com esse tempo todo na liderança do ranking?

A questão da idade não influencia muito para mim, de certa maneira foi bastante natural pois comecei a andar de skate muito cedo. Eu jamais sonhei em ser skatista profissional, todas as vitórias e medalhas aconteceram com naturalidade, foi muito rápido. Não sei o que pode passar na cabeça dos mais experientes, mas o importante é que sempre tive o respeito de todos e isso me deixa muito feliz.

Você disse em outras entrevistas que quer mudar a cara do skate, pra ele ser mais popular entre as garotas. Já está vendo algum resultado?

Acredito que sim, pois o nível das skatistas brasileiras está aumentando rapidamente. O problema é que ainda faltam pistas de qualidade e torneios com alto nível de competitividade. As administrações públicas deveriam se atentar para a construção e manutenção das pistas já existentes. Sem isso é praticamente impossível formar talentos.

Quando você morava na Vila Matilde e andava com garotos, você já os acompanhava nos rolês de skate. Não tinha nenhuma amiga que ia junto?

Eu sempre andava mais com os meninos, pois eu gostava de futebol e skate. Era difícil encontrar alguém que encarasse isso sem sofrer algum tipo de preconceito. Eram mais de 10 meninos no grupo e fui a única que levou o esporte adiante.

E isso de você querer que mais meninas curtam o skate vem já daquela época?

Sim, pois sempre tive vontade que as meninas andassem de skate e tivessem uma vida normal, sem esse tipo de preconceito contra o esporte. Eu me cuido bastante, gosto de usar roupas femininas, gosto de maquiagem e quero mostrar que isso é possível no skate feminino.

Duas medalhas de ouro só neste ano. O que mais você espera?

Vou lutar para conseguir ainda mais no próximo ano. E continuarei na batalha para ajudar transformar o skate feminino, divulgando que essa também é uma modalidade que pode e deve ser praticada por mulheres.

O que você curte de música? Essa bandana que você usa sempre tem algum significado?

Curto muito rock e gosto de tocar alguns instrumentos. Um de meus ídolos é o Axl Rose, inclusive tenho o rosto dele tatuado na batata da perna. Mas o lance de usar a bandana parecida com a do Axl é pura coincidência, eu uso mesmo para prender o cabelo durante as competições.


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Melhor skatista brasileira da atualidade, Leticia Bufoni diz que nunca pensou em ser profissional

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