Amigos Olimpicos,

Após longa e exaustiva viagem, com conexão de 5 horas em Milão, pude entender na pele o que é o tão difundido espírito olímpico. No vôo procedente de Malpensa, muitos turistas, alguns atletas da delegacão italiana e alguns outros brasileiros, já não podiam disfarçar a ansiedade minutos antes do desembarque em Atenas. Muito cansado, seis horas de fuso e uma dificuldade eterna de dormir em aviões, cheguei ao novo e belíssimo aeroporto internacional com a sensação de estar chegando ao paraíso, a realização de um sonho de infância. Com os cartazes, faixas e banners de Olympic Family welcome home, o nó na garganta, a pele arrepiada e a lágrima escorrendo foram inevitáveis. Todos os passageiros se entreolhavam e sorriam, eram verdadeiros abraços com os olhos.

Para minha incrível surpresa, não houve alfândega. Os gregos, preocupados em evitar grandes filas, liberaram a maioria dos vôos de vistoria de bagagem e até mesmo da checagem de etiqueta de malas. Simplesmente, não fiz alfândega.

A vantagem é que, meia hora após o desembarque, estava almoçando um banquete típico grego na casa da família que nos hospedou. Muito felizes por nos receberem, queriam saber tudo sobre o Brasil. A casa é simples, típica de classe média operária, num bairro repleto de imigrantes albaneses e armênios, além de alguns afegãos. Mas o ambiente é muito acolhedor, muito melhor que qualquer hotel.

Fome saciada, banho tomado, camisa do Brasil e bandeira, chego ao Complexo Olímpico. Monumental construção, encontro de torcedores de vários países. O controle de acesso é rigoroso, raio X e o tradicional alisamento na entrada, sempre com muita educação. O complexo é de uma beleza ímpar, com uma cobertura de encher os olhos e passarelas acompanhadas por piscinas e lagos artificiais nas laterias, o que ajuda a refrescar um pouco e eliminar a sensação de que iremos tostar em poucos segundos. A visão da pira olímpica enfeitiça todos os turistas, em especial os japoneses, que tiram em media 56 fotos por segundo. Os australianos e britânicos invariavelmente portam um copo de cerveja e nós, brasileiros, somos sempre recebidos com admiração e alegria.

Chego ao tênis. Flávio Saretta faz um belo jogo conta o canhão Andy Roddick, número 2 do mundo. Não resiste e perde por 63 e 76, mas é aplaudido pelo público, que conta com a ilustre presença de Gustavo Kuerten. Na sequência, assisto a uma incrível série de partidas reunindo jogadores e jogadoras top ten. Enquanto a bela belga Justine Henin, número 1 do mundo desfila na quadra central, na quadra 1, vejo o russo Marat Safin, outro que já foi número 1 do mundo, derrotar Karol Kucera por 60 e 64. Na platéia, a minha frente, o jovem tenista cipriota Marcos Baghdatis, campeão juvenil de Wimbledon e que esteve disputando o aberto de São Paulo mês passado. Cumprimento pela vitória na primeira rodada, lembro do Gatorade que tomamos na mesma mesa no Unisys Arena há três semanas, ele me cumprimenta efusivamente, dizendo que se lembra de mim e que ama o Brasil. Na saída do jogo de Safin, encontro um senhor de quase 70 anos, bastante acima do peso e com uniforme de diretor do Comite Olímpico Russo. Ele está mais vermelho que um salsichão, me pergunta sobre Guga e diz que esteve no Rio de Janeiro há cinco anos para um Congresso Técnico e que nunca viu tanta carne boa na vida. Me convida para tomar uma vodca e eu, gentilmente declino.

Meu amigo Marcelo, eufórico, avisa que na quadra central temos o britânico Tim Henman contra o tcheco Jiri Novak. O estádio enche de ingleses. Henman tem um estilo vistoso, mas é surpreendido pelo sólido jogo do tcheco. No meio dos torcedores de Praga, fazemos a festa. Depois, ainda vemos jogos de Tommy Haas, Sebastian Grosjean, Rainner Schuettler, Andrei Pavel, Arnaud Clement, Nicolas Kiefer e ninguém menos do que Martina Navratilova, que aos 48 anos de idade e 126 titulos de simples, entre os quais 23 de grand Slam, faz seu debut em Jogos Olímpicos. Sua dupla vence as ucranianas por 60 e 62 e ela, visivelmente emocionada saúda o público nos quatro cantos da quadra.

No jogo de duplas entre os irmaos Black do Zimbabue contra Clement e Grosjean, da França, sento-me ao lado do treinador zimbabuano. Conversamos, tiramos fotos e festejamos a heróica vitória do país africano sobre os favoritos franceses.

Indo em direção a natação, onde tem brilhado nossa adolescente pernambucana Joanna Maranhao, o telão gigante do Complexo Olímpico mostra o jogo de basquetre entre Porto Rico e os EUA. Centenas de pessoas sentadas no chão vibram com os portoriquenhos. Italianos, suecos, eslovenos, húngaros, neozelandeses e até ingleses torcem para a ilha de Poncherello e Ricky Martin, que surpreendem os arrogantes profissionais da NBA por 92 a 73. Maior derrota da história do basquete americano.

Dormi mal, o fuso horário é complicado, mas acordei bem disposto e com a mesa do café pronta. Que delícia! Leite, queijo, ovos e carneiro assado para o desjejum. Vitória belíssima no vôlei de praia. Parada aqui nesse cyber café, a 6 euros por hora e seguimos para o judô para ver as finais. Depois tem Guga, Sá e Saretta, e basquete. O transporte é gratuito para quem tem ingresso. Não dá pra entender uma frase em lugar nenhum, mas nos viramos com mapas, guias e a orientação sempre solícita e sorridente dos milhares de voluntários. Atenas respira Olimpíadas e eu ainda acho que isso tudo é um sonho.

Abracos.

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<a href="http://www.virgula.me/especiais/virguliadas/interna_notas.php?ID=4299" target="_blank"><b><font color="#FFFFFF">As expectativas antes do embarque para Atenas</font></b></a>


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Gerson Caner direto de Atenas