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Mesmo mostrando bom futebol, Carlos Alberto foi dispensado do São Paulo. Roger também joga bem em quase todos os clubes por onde passa, mas é sempre dispensado. Esses fatos revelam um quadro maior que está acontecendo no cenário brasileiro: o "estilo carioca de ser", que se caracteriza por um jeito meio malandro de deixar em segundo plano as obrigações e confiar que em campo tudo se resolve, não vem agradando as novas diretorias dos times nacionais. O futebol atual pede mais que qualidade durante os jogos: os clubes buscam uma postura mais profissional de seus atletas.

Na década de 80, o futebol carioca tinha em Zico seu maior expoente, que levou o Flamengo ao título Mundial e cinco Campeonatos Brasileiros. Já nos anos 90, Romário continuou a tradição do Galinho, conquistando a Copa de 94. Os dois jogadores foram, em seu tempo, ídolos nacionais e mundiais, levando o Rio de Janeiro para o mundo inteiro. Porém, hoje em dia não há um sucessor à altura desses dois craques, o que mostra a decadência do futebol apresentado por aqueles que nascem no Rio.

Nessa década surgiram dois candidatos, se é que se pode chamá-los assim, ao posto deixado por Zico e Romário. O caso clássico é o do meia Roger. Habilidoso, destacou-se no Fluminense como a nova promessa do futebol. Foi só sair do Rio que o jogador não conseguiu se consolidar em nenhum time. Passou pelo Porto, Corinthians, Flamengo e atualmente joga pelo, em crise, Grêmio. Vale lembrar que em todos esses clubes o atleta saiu pela porta dos fundos.

Na mesma linha está o recém-cortado do São Paulo Carlos Alberto. Também, revelado pelo time das Laranjeiras, foi considerado um dos craques da nova safra do futebol brasileiro. Encrenqueiro de plantão, foi, a exemplo de Roger (quanta coincidência!), para o Porto. De lá se transferiu para o Corinthians, de onde saiu brigado com o técnico Émerson Leão. Para resgatar sua carreira, Carlos Alberto voltou ao Fluminense, onde teve espaço até ser vendido para o Werder Bremen da Alemanha. Encostado por lá, foi emprestado ao São Paulo, onde nem conseguiu terminar seu período de empréstimo, sendo afastado do elenco. Mais um que prova o "jeito carioca de ser" nesta década.

E nem precisa ser do Rio de Janeiro para incorporar o estilo. O sérvio Petkovic afirmou que as praias do estado o fizeram escolher o Flamengo, onde foi ídolo por alguns anos. Mais tarde, brilhou também no Vasco. Quando veio para o Santos, em 2007, foi um fiasco. Coincidência?

Os clubes cariocas costumam aceitar alguns jogadores que em São Paulo não teriam vez, casos do meia Beto (Vasco), Obina (Flamengo) e Gabriel (Fluminense). O caso do técnico Alfredo Sampaio, que deixou o Vasco por não se entender com Edmundo, é um exemplo. Ou a possibilidade – extinta esta semana, após anunciar o fim de sua carreira – de Romário, com 42 anos, vestir a camisa do Flamengo, como foi ventilado há dois meses.

Outro sintoma de que o jeito carioca não está tão em alta como antigamente é a convocação para a seleção brasileira. No último amistoso do Brasil, contra a Suécia, o técnico Dunga convocou 22 jogadores. Apenas quatro se formaram em clubes cariocas: o goleiro Júlio César (Flamengo), o lateral-esquerdo Marcelo (Fluminense), o zagueiro Juan (Flamengo) e o meia Thiago Neves (Fluminense). Destes, apenas o goleiro e o zagueiro são titulares. Os outros dois não estão nem perto de chegar à esta situação.

<b>Diferença de estruturas dos clubes</b>

A diferença entre a organização dos clubes cariocas e paulistas também é grande. No Rio, ainda existe um clima “amador”, em que os dirigentes agem como ditadores (o caso mais emblemático é o do Vasco e seu rei eterno Eurico Miranda). Apesar de clubes como o Fluminense ensaiarem uma mudança de postura, o Rio continua sendo mais instável do que São Paulo.

No estado paulista, os times estão à frente dos cariocas no quesito planejamento. O Palmeiras mantém a mesma base há mais de um ano. O São Paulo vem mantendo a qualidade (e alguns jogadores) desde 2005, quando venceu o Mundial de Clubes. O Corinthians, apesar da queda para a Segunda Divisão no ano passado, vem se destacando nas áreas de marketing e imprensa (o site do clube é considerado um dos mais completos do Brasil).

Há tempos que um grande jogador não surge em algum clube carioca. O caso mais próximo talvez seja o de Thiago Neves, que vem mostrando muita qualidade com a camisa do Fluminense, mas não conquistou nenhum título de expressão.
Aquela velha história de jogadores que saem na noite anterior ao jogo, que não treinam com o mesmo afinco que os outros atletas mas resolvem em jogo decisivo parece estar próxima do fim. Assim como é possível dizer que o modelo de gestão ditatorial em clubes de futebol também é coisa do passado. Apostar em jogadores ‘problemáticos’ também não vem fazendo sucesso. E o futebol carioca ainda possui resquícios destes modos de conduzir o esporte. Talvez seja a hora de colocar a malandragem, cartão postal do Rio tanto quanto o Cristo Redentor, para escanteio.

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'Estilo carioca' perde espaço no futebol brasileiro

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