Mais visto como lazer do que como esporte, o boliche brasileiro chega aos jogos Pan-Americanos de Guadalajara, no México, com grandes expectativas de medalha. Tanto a dupla feminina quanto a masculina sonham em subir no pódio. Entre os homens, que faturaram a prata no Pan do Rio de Janeiro, em 2007, a grande esperança, de acordo com o chefe da delegação, Geraldo Couto, está nas mãos de Marcelo Suartz.

Com apenas 24 anos, Marcelo se mudou para os EUA, onde reside e estuda Marketing na Webber International University, na Flórida. A mudança não foi à toa. Em busca de maior apoio para a prática do boliche, o brasileiro apostou suas fichas no forte mercado esportivo universitário norte-americano. E esta aposta já deu resultado: na temporada 2010/2011, Marcelo Suartz foi eleito o melhor jogador universitário dos Estados Unidos.

Vindo de uma família de “bolicheiros” – o pai e a mãe já integraram a seleção brasileira da modalidade -, a esperança nacional para os jogos do México afirma que “se estivesse no Brasil, não teria 20% do apoio que tem nos EUA”. Sua dupla, o experiente Márcio Vieira, de 58 anos, já esteve em quatro Pan-Americanos e deve ajuda-lo a conter os ânimos para a disputa.

Marcelo Suartz, que começou a jogar boliche em shoppings da capital paulista, acredita ser possível viver apenas do esporte, desde que seja longe do Brasil. Veja na íntegra a entrevista exclusiva que Marcelo concedeu por e-mail ao Portal Virgula, para o Especial Pan

Portal Virgula: Você vem de uma família do boliche. Eles foram sua maior inspiração para começar no esporte? O início foi como forma de lazer, em pistas de shopping, por exemplo? 
Marcelo Suartz: Com certeza, meus pais sempre foram minhas maiores inspirações, sempre indo treinar com eles, jogando torneio com eles, gravando vídeos no boliche e analisando em casa. Minha mãe foi a primeira mulher na história a fazer uma partida perfeita em um Sul-Americano. O inicio foi em boliches em São Paulo, como Planet Bowling, antigo Sampa’s, Boliche do shopping Aricanduva, Guarulhos e Center Norte. Atualmente quando estou no Brasil, eu treino no Villa Bowling localizado no shopping Vila Olimpia, em São Paulo, que é considerado um dos melhores boliche do Brasil.
 
PV – Você se mudou para os EUA para estudar e treinar boliche. Se estivesse no Brasil, você acha que teria tanto apoio como tem por aí? Seria possível se tornar jogador de boliche de alto nível estando aqui? 
MS: Não teria nem 20% do apoio que tenho aqui se estivesse no Brasil. Graças a Deus tenho o apoio do Programa Bolsa Atleta do Governo Federal desde 2005 e, com certeza, sem este programa eu não estaria aqui hoje investindo no meu boliche pra trazer melhores resultados para o Brasil. Meu clube Esporte Clube Pinheiros também me apoia bastante quando estou no Brasil. Mas em termos de treinos, nível técnico, técnicos capacitados e competições de alto nível, não existe outro lugar para melhorar no boliche do que os Estados Unidos. Treino em um dos melhores centros de treinamento do mundo aqui na Florida, Kegel Training Center

PV: Nos EUA você estuda Marketing e também faz estágio. Qual a sua pretensão para o futuro: viver do boliche ou ir para a área de marketing? 
MS: Sinceramente, considero minha educação e minha carreira a minha prioridade número 1. Mas, se vou para a área de marketing ou viver do boliche profissionalmente somente saberei ano que vem, isso depende de patrocínios, não está descartada a ideia de me tornar profissional. 

PV: Você foi apontado pelo Geraldo Couto (chefe da delegação) e pelo seu companheiro de equipe, Márcio Vieira, como a grande esperança do Brasil. Como é carregar esse peso? 
MS: Eu acho que já passei por diversos torneios em que falhei, fui além das expectativas, não soube lidar com a pressão, ansiedade e nervosismo. Isso me ajudou demais a madurecer como pessoa e atleta, desde então venho fazendo um trabalho mental muito forte por aqui para poder ter um controle emocional de alto nível. Vou dar meu melhor, seguir minha rotina e não pensar no passado ou futuro, quem sabe meu melhor não seja uma medalha de ouro? 

PV: No Pan passado, no Rio, o Brasil ficou com a medalha de prata. Dá para ter um resultado ainda melhor em Guadalajara? 
MS: Este Pan, o nível técnico será mais elevado do que nunca pela abertura a atletas profissionais. Estamos nos preparando bastante para este Pan, acredito que se estivermos no nosso dia podemos conseguir resultados que o Brasil nunca conseguiu antes. 

PV: As pessoas imaginam que para jogar boliche não precisa ter um excelente porte físico. Isso é verdade? Como funciona a sua rotina de treinamentos? 
MS: Isso é o que a maioria pensa. Para todos os esportes, quanto mais ativo, quanto mais flexibilidade, quanto mais ágil e um corpo saudável, melhor atleta você será. Se você tem 210 de média, nunca fez algum exercício e esta fora de forma, tuas chances são imensas de aumentar esta média se começar a se tratar fisicamente. Treino boliche de cinco a seis vezes na semana, cerca de duas a três horas. Na academia, treino cinco vezes na semana com exercícios analisados e desenvolvidos pelos nosso personal trainer do time de boliche da faculdade. Também faço alguma atividade aeróbica cerca de quatro vezes por semana, a corrida está presente na maioria das vezes. 

PV: Seu parceiro na seleção brasileira é bem mais velho e experiente. Qual a importância dessa mescla entre um jovem talento e um atleta rodado? 
MS: Pelo último torneio que jogamos juntos, consegui ver bem o privilégio de ter alguém mais experiente ao meu lado. Tanto na parte técnica do boliche como na parte mental vai ser muito saudável essa mescla, diferentes ideias, diferentes pensamentos, mas com um nível de confiança dentro das pistas bastante elevado o que é fundamental para um bom desempenho. 

PV: O que vocês fazem para se divertir durante o período de concentração na Vila? Será possível dar uma saída para conhecer lugares ou a noite mexicana? 
MS: Eu na verdade vou ter que estudar bastante quando não estou no boliche e claro, seguir minhas rotinas de treinamentos fora do boliche. Não vou na academia, mais preciso seguir com a minha corrida matinal antes de jogar, ótima para acordar o corpo na parte da manhã e aliviar a tensão. Acredito que será possível sair para ver as outras competições quando estivermos livres. Estou bem focado, sei o que tenho que fazer para ter chance de vencer, uma delas é descansar o suficiente.

PV: Pretende voltar para o Brasil para se dedicar ao esporte aqui no país? 
MS: Se realmente decidir seguir com o boliche profissionalmente, terei que morar nos EUA, pois a PBA (Professional Bowlers Association) é aqui nos Estados Unidos.


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Esperança do boliche brasileiro no Pan avisa: "No Brasil, não teria 20% do apoio que tenho nos EUA"

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