Basquete. Brasil. Cestas. Paixão. O amálgama destas palavras pode ser humanizado na forma de Oscar Schmidt, o "Mão Santa". Maior cestinha da história, o ex-jogador de 47 anos não deixa de lado o esporte que o tornou um ídolo mundial e busca, como presidente da NLB (Nossa Liga de Basquete) e <i>manager</i> do time Telemar / Rio de Janeiro, tornar o basquete nacional cada vez mais profissional e competitivo.

Oscar faz palestras explicando como alcançou o sucesso. Humildade. Escolhas. Dedicação. Metas. Estas são algumas das palavras que o ídolo destaca quando fala do caminho até suas glórias. Na manhã da última sexta-feira, depois uma de suas bem-humoradas palestras em São Paulo, o "Mão Santa" concedeu uma entrevista <i>exclusiva</i> ao <b>Virgula Esporte</b>.

<b>Seleção Brasileira</b>

Depois do fracasso de não ter conseguido vaga para a Olimpíada de 2004, a seleção masculina busca reestruturar-se para trilhar novamente o caminho das conquistas. No dia 24 de agosto, a equipe inicia a disputa da Copa América na República Dominicana, com quatro vagas em jogo para o Mundial de 2006.

"A Seleção está em busca da sua identidade novamente. Faz um bom tempo que acumulamos alguns insucessos. Temos vários jogadores atuando no exterior e acredito que sejam eles que têm a maior chance de fazer o basquete voltar a brilhar outra vez", analisou Oscar, que teve sua maior glória com o Brasil ao vencer o Pan-Americano de 1987 contra os Estados Unidos em plena casa do adversário.

Com atletas que atuam na Europa e nos Estados Unidos, a Seleção terá o desfalque do primeiro brazuca a se firmar na NBA. O ala-pivô Nenê Hilário,do Denver Nuggets, está descontente com a administração do basquete nacional e garante não voltar a vestir a camisa verde amarela enquanto a situação não for modificada.

"Não podemos abrir mão do jogador mais importante do Brasil que é o Nenê. O Marcelinho (ala-armador campeão Brasileiro de 2005 pelo Rio de Janeiro) é o nosso melhor jogador e está na Seleção, mas o mais importante não está. É essencial que todo mundo trabalhe para que o Nenê volte a integrar a Seleção. Com ele temos uma equipe muito mais forte", garante o "Mão Santa", apelido que ganhou por seus arremessos precisos e ceteiros, em especial, no momentos derradeiros das partidas.

"Temos jogadores suficientes, mas temos que trabalhar a cabeça desses atletas. Quanto mais insucesso pior fica a mente do jogador. Então a pressão e a responsabilidade aumentam. Temos que trabalhar antes de tudo a cabeça dos jogadores", preocupa-se Oscar com relação ao aspecto psicológico dos atletas.

<b>Nossa Liga de Basquete</b>

Em meados de março deste ano, a idéia de criar uma liga independente saiu do papel. Tendo Oscar como principal idealizador e presidente, a NLB (Nossa Liga de Basquete) trouxe a proposta dos organizarem um campeonato nacional, atualmente sob gerência da CBB (Confederação Brasileira de Basquete).

"O ideal é que os clubes tomem conta dos campeonatos. Que a CBB fique com outras coisas, como, por exemplo, fiscalizar o próprio campeonato de clubes. Tem seleções, principalmente as de base, onde é muito importante investir nesse momento porque não temos boas equipes nestas categorias. Nossos jovens estão escolhendo novos esportes. Estamos perdendo terreno", comentou o maior cestinha do basquete mundial.

Apesar do empenho em aumentar o profissionalismo de um esporte — que no Brasil leva muitos jogadores suportarem logas viagens em ônibus que não comportam seus tamanhos — a NLB encontra um sério problema junto à CBB. "Para um campeonato unificado só falta a CBB saber que já existe uma Liga, mas eles não querem ouvir esta palavra. Não querem perder o poder, mas ninguém aqui quer o poder dos outros. Tentamos sempre uma conversa, mas para eles a palavra ‘liga’ não faz parte do vocabulário. Nunca fechamos a porta para CBB, mas encontramos ela fechada várias vezes", ponderou Oscar.

"A agência de marketing esportivo que vai cuidar da NBL montou seu projeto para conseguir televisões e patrocínios e nós estamos fechados para fazer nosso campeonato, que muito provavelmente será o melhor que já se fez no Brasil", disse o, agora, dirigente, que projeta o início da competição para o mês de outubro.

Apesar de nem todos os clubes estarem de acordo com a NLB, o "Mão Santa" não desanima e demonstra não querer bater de frente com ninguém. "O COC/ Ribeirão e o grupo Universo (que detém três times) não entraram com a gente. Há times dos dois lados vendo para que lado terão maior vantagem e isso é normal. Mas existem alguns outros extremamente fechados com a Liga. E se CBB quiser falar com a gente estaremos com as portas abertas", completou.

<b>Em menos de um ano, campeão Nacional</b>

Não deu tempo nem de formar uma torcida que lotasse o ginásio. Em menos de um ano de existência o Telemar / Rio de Janeiro, criado por Oscar Schmidt e dirigido pelo técnico Miguel Ângelo da Luz, conquistou os títulos carioca e brasileiro.

Mesmo fora das quadras, o eterno camisa 14 não cansa de colecionar títulos e aceitar desafios. "Basquete é o que mais sei fazer, é o que mais gostei de fazer e que sou mais capaz de fazer. Sei que tenho capacidade de montar um time competitivo. O resultado de vencer ou perder, muitas vezes, não é relevante. As oportunidades vão aparecendo dentro do meu esporte, então, eu tenho o dever de continuar fazendo isso porque é minha vida", explica o <i>manager</i> do Rio de Janeiro sobre sua dívida de gratidão com o basquete.

"Foi esse esporte que me deu tudo o que tenho hoje. E como nosso basquete tem caído muito nos últimos anos, tem regredido, então eu tenho obrigação de fazer alguma coisa para tentar muda esse cenário", completa.

<i>fim da parte I</i>


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Entrevista <i>exclusiva</i> com Oscar Schmidt