<b>Psicologia Esportiva</b>

Fui procurado por um colega de profissão para conversar sobre mais um acontecimento que reafirma o preconceito e a desinformação dos dirigentes sobre a atuação de psicólogos no esporte. Este profissional – extremamente competente, diga-se de passagem – formulou um projeto multidisciplinar para escolinhas de futebol que, freqüentemente, cedem atletas para as equipes de base dos clubes. O projeto prevê a atuação de nutricionistas, fisioterapeutas, médicos e psicólogos. O objetivo da empreitada é melhorar o aproveitamento e preparo destas crianças para enfrentarem desafios futuros, caso obtenham êxito em suas jornadas.

O profissional apresentou suas idéias num grande clube (por razões óbvias, não posso citar o nome) e teve o projeto reprovado por conta da proibição do trabalho psicológico no perímetro desta agremiação. Sua frustração era evidente. Um profissional que trabalha de forma séria, respeitando as normas científicas, sentiu na pele o atraso cultural e a ignorância com que o aspecto psicológico esportivo
costuma ser visto no futebol brasileiro.

Confesso que fiquei estarrecido com o fato. Mais uma vez os boleiros engravatados insistem em negar a importância do treinamento psicológico no esporte. É necessário, em caráter de urgência, que os órgãos administrativos responsáveis por esta profissão se posicionem e consigam, finalmente, traçar as diretrizes necessárias para a ordenação, moralização e reconhecimento desta nova área de atuação do psicólogo. Caso contrário, a paranóia continuará colocando suas garras de fora, eliminando qualquer possibilidade de apoio psicológico e emocional aos
nossos atletas.

O Congresso Brasileiro de Psicologia Esportiva vem aí. Tomara que, no meio de tantos entraves, soluções densas e objetivas possam ser concretizadas. Que os melindres sejam deixados de lado e atitudes práticas possam ser tomadas. É o que todos nós esperamos.

<b>Guga: que seja eterno enquanto dure</b>

Amigos, assim como em todo relacionamento afetivo, chega uma hora em que, ou as coisas mudam, ou a mesmice da relação toma conta, promovendo a apatia e o desinteresse. A meu ver, o ciclo de Guga com seu treinador chegou ao fim.

Pelo visto, é só no futebol que o técnico é demitido quando as coisas não vão bem. O tenista está visivelmente apático, procurando motivos para continuar sua carreira. Guga tem oscilado bastante nas últimas partidas. Parece não conseguir sair de um círculo vicioso, de uma zona perigosa de conflito, onde sua confiança se abala pela queda brusca de rendimento, ou o inverso: seu jogo cai de nível por falta de confiança, concentração e, principalmente, pela falta de ritmo para impor seu estilo agressivo em quadra.

O atleta precisa escolher qual caminho tomar. Tem algumas opções: continuar treinando e disputar alguns poucos torneios para se manter na lista dos principais tenistas do mundo, sem grandes ambições de chegar ao top 10; chegar em casa, na bela Floripa e jogar a raqueteira no canto do quarto, curtir seus milhões, o surfe, namorar ao som de Bob Marley e, nas horas vagas, bater uma bolinha para relaxar; ou decidir por um treinamento psicológico visando o aprimoramento de sua concentração e retomada de motivação para voltar a escalar o ranking da ATP.

Em suas últimas declarações, quando afirma ter encontrado problemas de falta de concentração nas partidas em que perdeu, Guga matou a charada e fez uma auto-análise precisa. Definitivamente ele não estava tentando arrumar justificativas vazias para algumas derrotas. Guga tem consciência de seu momento e deve ser respeitado. Nosso Mané tem talento de sobra. No entanto, estão faltando gás, metas e direcionamento para o rapaz. Às vezes, o que parece ser um mistério e tarefa para pitonisas, resolve-se com um bom e racional trabalho psicológico.

<i><b>João Ricardo Cozac</b> é psicólogo formado pela PUC-SP. Atua no esporte há 11 anos. Professor de psicologia do esporte na Universidade Mackenzie de São Paulo. Presidente da Consultoria, Estudo e Pesquisa da Psicologia do Esporte <b>(www.ceppe.com.br)</b>. Atende atletas de diversas modalidades em consultório. Atuou em grandes equipes do cenário futebolístico brasileiro, como Corinthians, Cruzeiro e Goiás. Colunista do site “Gazeta Esportiva.net”. Autor do livro ‘Com a cabeça na ponta da chuteira: um ensaio sobre a Psicologia do Esporte’, pela editora Anablume e do livro ´Psicologia do Esporte: clínica, alta performance e exercício físico’, em fase final de edição.</i>


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Curtas psicológicas do esporte