Será que o MMA virou o segundo esporte do brasileiro?


Créditos: Carlos Prates

Há alguns anos, se fizéssemos uma pesquisa no Brasil questionando a popularidade de nomes como Júnior Cigano, Anderson Silva e José Aldo, atuais campeões do UFC, certamente poucos saberiam de quem se tratava. 

Hoje o MMA é tão popular que tem lugar garantido no horário nobre da TV. No remake da novela Guerra dos Sexos, que estreou na Globo no início deste mês, o personagem Ulisses (vivido por Eriberto Leão) luta MMA e não box, como na rodagem original dos anos 80. E este é só um dos exemplos de como o esporte ganhou a TV e o coração dos brasileiros.

DANA WHITE E A COMPRA DA MARCA

Unir vale-tudo, boxe, capoeira, judô, caratê, muay thai, jiu-jitsu, judô, aikido, wrestling, kickboxing, kung-fu e luta greco-romana num esporte só não foi motivo bastante para o MMA pegar.
 

Uma das principais razões que fizeram o MMA explodir foi a sacada do ex-lutador de boxe Dana White, presidente do UFC, que tornou o MMA um espetáculo. Ao comprar a marcar em 2001, através da Zuffa, empresa criada pelos irmãos e executivos Frank e Lorenzo Fertitta, White, que é amigo pessoal e de infância da dupla, alterou regras importantes, botando limites a confrontos, até então muitas vezers incontroláveis.

Com isso, o esporte passou a ser legalizado em 45 dos 48 estados norte-americanos, que antes proibiam a prática do MMA, e está hoje em 354 milhões de casa espalhadas no mundo todo, vista em cerca de 145 países e sendo traduzida em até 19 línguas diferentes. Com as novas regras, o UFC passou a atrair atletas campeões de um torneio concorrente, chamado Pride, que era muito mais violento, porém pouco difundido nos EUA – era muito popular no Japão e no Brasil.

Com todas essas mudanças, White viu sua marca deixar de ser apenas uma luta e virar um espetáculo. Com desdobramentos do UFC em produtos licenciados, cotas de transmissão pela TV e eventos ao redor do mundo, a marca hoje é avaliada em mais de US$ 1 bilhão.

FANÁTICOS E HATERS


Assim como acontece no futebol, existem os aficionados pelo MMA e os que repudiam o esporte. De um lado, os fanáticos exaltam o esporte e artes que reúnem as mais aprimoradas e perfeitas técnicas, enquanto que os não iniciados do assunto apontam o MMA como o “fim da civilização”, dizendo que o embate entre dois bárbaros usa o termo esporte apenas como um pretexto para a prática no octógono.

SALTO

Sexta economia mundial, o Brasil obteve um salto enorme na lista dos maiores mercados do esporte nos últimos dois anos. Com ajuda do MMA, o país saltou de quinto para o terceiro lugar do ranking, ficando atrás de Estados Unidos e Canadá.

Marshall Zelaznik, diretor-gerente de desenvolvimento internacional do UFC, já declarou diversas vezes que o mercado brasileiro é o mais atraente, vibrante e com o maior número de fãs já encontrado pela organização. Pois, além dos atletas de alto nível, o retorno em merchandising, transmissões de TV e internet e ingressos, ultrapassam a média dos eventos em outros países.

REALITY SHOW

O sucesso repentino do UFC fez com que os organizadores criassem um reality show entre lutadores, visando garimpar novos talentos para a organização e assim revelar novos campeões. E o Brasil, um dos principais mercados desse esporte, abrigou a edição de número 15. Com Vitor Belfort e Vanderlei Silva como treinadores, o TUF Brasil foi ao ar pela TV Globo entre março e junho deste ano e teve como vencedores Rony Jason entre os pesos pena (até 66 kg), e Cezar Mutante entre os médios (até 84 kg).

O resultado agradou tanto o presidente Dana White que, na última segunda-feira (01), o Ultimate Fighting Championship abriu os testes para a segunda temporada do reality show. A primeira eliminatória acontece no próximo dia 14, no Rio de Janeiro. E a nova edição, que contará com lutadores das categorias leves (até 70 kg) e meio-médios (77 kg), só aceitará lutadores entre 18 e 35 anos e com pelo menos três combates profissionais na carreira.

PRODUTOS LICENCIADOS

Antes povoadas por bolas de futebol e carrinhos dos mais diferentes estilos, as prateleiras do setor masculino das lojas de brinquedo no Brasil ganharam em 2011 um espaço especial para os produtos licenciados do UFC. E as luvas, bonecos, mini octógonos e até cinturões levaram os responsáveis pela marca do esporte a faturar quase US$ 180 milhões só no ano passado.

O preço dos brinquedos que levam a marca do UFC varia entre R$ 49,99 e R$ 200. Atualmente são mais 500 produtos diferentes ligados ao MMA.

FUTEBOL E MMA

Dono de uma academia dentro do Sport Club Corinthians Paulista, Anderson Silva é um dos diversos atletas do UFC a ser patrocinado por um time de futebol. Atual campeão da Libertadores, o timão aproveitou o sucesso dos brasileiros no MMA e também acertou com Júnior Cigano, campeão dos pesos-pesados, para divulgar sua marca.

Vale lembrar que recentemente Minotauro fechou com o Internacional de Porto Alegre, José Aldo, com o Flamengo, Rony Jason, com o Fortaleza. Já Chael Sonnen, que chegou a vestir a camisa do Palmeiras para provocar Anderson Silva, não é patrocinado por nenhum clube.

TRANSMISSÃO DE TV 

Tudo começou na TV a cabo. Em 2006, o número de assinantes do canal Combate, pioneiro nas transmissões do MMA, era de 13 mil. Atualmente, com a evolução do esporte, esse número chegou a 150 mil, de acordo com a empresa de consultoria esportiva Pluri.

Já na TV aberta o fenômeno foi mais rápido. A Rede TV! foi a primeira emissora aberta a apostar nos duelos no octógono. A explosão de audiência veio no dia 27 de agosto de 2011, quando Anderson “Spider” Silva enfretou o japonês Yushin Okami. Naquele duelo, a emissora paulista, que até então se destacava na audiência apenas aos domingos, com o humorístico “Pânico na TV”, venceu a Rede Globo, ao alcançar 12,8 pontos na hora da luta.

Vendo o sucesso da emissora concorrente com a transmissão da luta, a Globo tratou de comprar os direitos do UFC para a TV aberta e repetiu o sucesso de audiência ao transmitir o tão esperado duelo entre Anderson Silva e Chael Sonnen, no UFC 148.

Mesmo com um delay de transmissão de quase 30 minutos, a manutenção do cinturão da categoria peso-medio de Spider rendeu à Globo 19 pontos no Ibope durante a madrugada, número semelhante ao registrado nos jogos de futebol de meio de semana (detalhe: as partidas vão ao ar no horário nobre).

E, até mesmo o confronto entre Vitor Belfort e Jon Jones, também gravado e sem o mesmo apelo da revanche entre Spider e Sonnen, rendeu uma boa audiência para a Globo, que liderou durante a madrugada com 11 pontos de média.

NOVELAS

O MMA surgiu pela primeira vez nas novelas globais em Da cor do pecado, de 2004. Reprisada atualmente no Vale a pena ver de novo, a trama conta a história da família Sardinha, da qual todos os homens são lutadores e seguem os passos do pai. Só que a luta rola no antigo ringue e não no octógono, como nos dias de hoje.

Com o esporte mais difundido, o MMA apareceu como grande destaque em “Fina Estampa”, no fim de 2011 e início deste ano. Com Wallace Mu (Dudu Azevedo) e Leandro (Rodrigo Simas), a trama contou o drama de um lutador, que sofria com uma doença no coração e teve que abandonar a carreira.

Atualmente, o remeake de “Guerra dos Sexos”, dirigido por Jorge Fernando, trocou o boxe dos anos 80 pelo MMA. Anteriormente interpretado por José Mayer, o personagem Ulisses, hoje vivido por Eriberto Leão, é um personagem humilde, apaixonado pelo esporte do octógono.

EVOLUÇÃO CONSTANTE DO ESPORTE

O MMA cresceu tanto no Brasil que, atualmente, o país tem pelo menos cinco eventos de artes marciais mistas de alto nível sendo disputados. Além do UFC, os lutadores também sobem no octógono no Jungle Fight, Amazon Forest Combat, Max Fights, Shooto Brasil e Haidar Capixaba Combat.

E o questionamento que fica no ar: o MMA, através do fenômeno UFC, já pode ser considerado no país um sério concorrente ao vôlei e ao automobilismo como segundo esporte mais popular entre os brasileiros.

Em 2011, Vitor Belfort chegou a “prever” que o MMA superaria o futebol em termos de popularidade no Brasil. Será que essa hora chegou?


int(1)

Com apoio da TV, MMA faz mercado esportivo brasileiro crescer e UFC vira "novo futebol"