Sempre esperamos ansiosos por um clássico, ou mesmo por uma simples partida de futebol. Não só aguardamos um grande espetáculo, um gol de placa, um drible mágico ou até mesmo um pênalti cavado. Nossa ansiedade e expectativa são também se haverão ou não mortes entre as torcidas, algum espancamento, algum tiroteio.

No clássico entre Corinthians e São Paulo não foi diferente. Mesmo com número recorde de policiais fazendo a segurança do clássico, houve tumulto. Na capital paulista, são-paulinos arrumaram confusão com corintianos que lanchavam em uma lanchonete. Em um ônibus, torcedores destruíram as portas e quebraram os vidros. As histórias se repetam, mas com torcidas diferentes. Ou não.

Nada disso mais é novidade. Nada mais nos abala no futebol. Na outra semana, três morreram por conta da briga das torcidas uniformizadas. O futebol mudou. Quem não se lembra da final da Copa São Paulo de 95 no Pacaembu? Na ocasião, as torcidas de Palmeiras e São Paulo protagonizaram um péssimo espetáculo. Os ingressos para a partida foram de graça e quem foi prestigiar os atletas, se arrependeu para o resto da vida. Cenas impressionantes, torcedores sendo espancados, sendo massacrados. E nada foi feito. Ah desculpe! Foi feito sim. As torcidas organizadas foram proibidas de existir, mas pouco tempo depois voltaram à tona e "com a corda toda".

Agora, o futebol não traz mais espetáculo fora de campo, nas arquibancadas. Além de acontecerem tumultos em quase todas as partidas, poucas pessoas vão aos estádios, não existem mais aqueles bandeirões, aquela festa quando o time entra no gramado. Estamos perdendo a vontade de ir aos jogos. Pensamos duas vezes antes de tomarmos essa decisão. Pensamos que times irão jogar, qual o caminho que teremos que fazer para desviar da rota dos assassinos e espancadores, onde estacionar o carro para que não destruam seu vidro. Tudo isso passa por nossa cabeça.

E essa palhaçada não é somente nas arquibancadas e nas ruas. Quando não são alguns torcedores que invadem o gramado, querendo bater nos jogadores, ou nos adversários, é o árbitro que violenta a moral e a ética do futebol e de todos ao seu redor. Mas esse assunto já esgotou.

Não podemos mais sair com a camisa de nosso time de coração nas ruas. Não podemos mais desfilar orgulhosamente com nossos "mantos sagrados". Não existem mais as brincadeiras quando um time ganha um clássico, pois o outro pode sacar uma arma e te matar. Não é um exagero, é a realidade.

Acredito que não haja solução, está na consciência de cada um. Não adianta a Polícia Militar bater o recorde de policiais em um jogo. Existem torcedores que vão para os estádios para brigar, para se drogar, para beber e não para assistir aos jogos.

O fato é que o futebol está podre por inteiro, desde as categorias de base, desde a formação dos árbitros e desde a formação de cada um. Só não entendo como chegou a esse ponto.


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Coluna: Ansiedade pra nada