Finalmente estamos em 2010! Ano da primeira Copa do Mundo de futebol com sede no continente africano, um dos eventos mais esperados do mundo capaz de unir milhões de pessoas nos estádios onde acontecerão as partidas e também em frente de suas televisões no mundo todo.

Com sede na África do Sul, esta Copa poderia até ter sido realizada quatro anos antes no país, se não fosse uma misteriosa mudança de voto de um membro neozelandês da FIFA que deu à Alemanha a oportunidade de sediar a Copa de 2006, adiando o sonho da Copa Africana.

Sonho cultivado há mais tempo pela África do Sul: “o sonho da África do Sul de sediar a Copa começou em 1994, primeiro ano da democracia no país (após a queda do apartheid)”, afirmou o diretor-executivo do Comitê Organizador da Copa, Danny Jordaan, em comunicado enviado pela ONU à imprensa, no final de outubro de 2009.

Ainda na mesma nota, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o sul-coreano Ban Ki-moon, pediu aos organizadores da Copa do Mundo de 2010 para aproveitarem a oportunidade de sediar o torneio para mudar a imagem da África (leia mais).

Imagem que o líder sulafricano Nelson Mandela, juntamente com outras personalidades do país, vem lutando há anos para mudar. Provavelmente ao falarmos de África do Sul, uma das primeiras referências que nos vêm à mente seria justamente o Arpatheid, palavra de origem africânder e que significa “separação”, um regime onde os brancos detinham o poder e os povos restantes eram obrigados a viver separados, de acordo com regras que os impediam de ser verdadeiros cidadãos.

Por mais de um século, o país que sedia a Copa do Mundo – esse evento esportivo intercontinental que reúne países do mundo todo em disputas pacíficas – atravessou um período longo de segregação racial instituído por lei em 1948, quando os Afrikaaners (brancos de origem européia, especialmente holandesa), por meio do Partido Nacional, assumiram o controle hegemônico da política do país.

Na época da colonização européia, os dois maiores grupos na África do Sul eram os povos Zulu e Xhosa (veja quadro de curiosidades). Esta colonização expandiu-se na década de 1820 com os Afrikaners (ou Bôeres), enquanto os colonos Britânicos se assentaram no norte e no leste do país. Nesse período, conflitos surgiram entre os grupos Zulu, Xhosa e Afrikaners que competiam por território e pela exploração de metais preciosos. A partir daí, houveram pelo menos dois conflitos grandes e o início da segregação racial no país.

Mas, felizmente, após décadas de luta contra o Apartheid, este regime de segregação foi abolido por Frederik de Klerk em 1990 e, finalmente, em 1994 eleições livres foram realizadas com a libertação do líder do movimento antiapartheid, Nelson Mandela, que estava preso desde 1964, acusado de terrorismo com prisão perpétua.

Futebol na África do Sul

Embora a África do Sul já fosse adepta do futebol desde o século XIX, foi justamente por conta do Apartheid que o país chegou a ser suspenso de competições internacionais de futebol da CAF e da FIFA e só puderam retornar aos campeonatos em 1993.

Até o início da última década de 90, não havia uma Seleção única, tampouco uma Federação: brancos e não-brancos possuíam seus próprios times, seleções e associações. A Federação Branca, por exemplo, foi fundada em 1892; a Hindu, em 1903; a Bantu, em 1933; e, três anos depois da Bantu, a Parda.

A Branca foi a única que chegou a ser oficializada pela FIFA, em 1958, mesmo ano em que o país foi expulso da CAF. Dois anos depois, entretanto, a entidade máxima estabeleceu prazo de um ano para que a discriminação na seleção terminasse. Então, em 1961, já que a segregação tinha sido mantida no país, a Federação Branca foi suspensa.

Quando uma Seleção e Federação multiculturais e únicas foram criadas, logo foram reconhecidas. O apelido oficial da seleção sul-africana é Bafana Bafana, que significa “os rapazes, os rapazes”. A palavra é repetida para dar a impressão de plural, também pode ser traduzida como “os moleques”.

A primeira partida da nova Seleção foi válida já pelas eliminatórias para a Copa do Mundo FIFA de 1994, em julho de 1992, vencendo Camarões por 1 x 0. Voltaram a participar das Copas de 1998 e 2002 quando obtiveram sua primeira vitória, um 1 x 0 sobre a Eslovênia. Entretanto, os Bafana Bafana foram novamente eliminados na primeira fase, por terem a diferença mínima em relação ao saldo de gols do Paraguai.

Os Bafanas Bafanas não foram classificados para a Copa de 1996, mas, como lembra o site oficial da FIFA, “em 1996, quatro anos depois da sua readmissão no futebol internacional, a África do Sul ganhou renome e surpreendeu o continente africano ao conquistar a Copa das Nações Africanas derrotando a Tunísia na final, no Estádio Soccer City em Johanesburgo. Ironicamente, a África do Sul irá retornar 16 anos depois ao local onde conquistou o seu primeiro grande sucesso, almejando reescrever o roteiro em um palco modernizado e ainda maior”.

Depois de ficar fora da edição de 2006, a África do Sul, que se classificou automaticamente por sediar a competição, está de volta na Copa de 2010 e, de cara, os Bafana Bafana enfrentam México, Uruguai e França no Grupo A.

É bom ficar de olho nos Bafanas Bafanas, selação de uma país que, segundo matéria do site oficial da FIFA, está resgatando o orgulho sul-africano com esta Copa e que conta com o técnico brazuca Carlos Alberto Parreira.

Saiba mais sobre a seleção da África do Sul no site oficial da FIFA.


int(1)

África do Sul: do Apartheid à Copa do Mundo

Sair da versão mobile