Escrever para o site “Vírgula” é uma grande alegria, principalmente pela oportunidade de divulgar uma ciência pouco conhecida e, ainda assim, mal interpretada.

A Psicologia do esporte estuda os fenômenos que ocorrem antes, durante e depois das atividades esportivas, visando o aprimoramento da performance, controle da ansiedade, aumento da concentração e, sobretudo, a união e a motivação do grupo. Para que esta atuação possa obter resultados satisfatórios, o profissional responsável pelo projeto necessita de um tempo muito maior do que uma simples palestra. Os fenômenos da mente não são assim, tão fáceis de serem descobertos e muito menos alterados. Esta ciência, no Brasil, ainda não ganhou o seu espaço definitivo devido à sua má utilização e, em alguns casos, à uma banalização sócio-cultural frente ao profissional da área "psi" . Os casos decorrentes deste desleixo são incontáveis. Apenas para refrescar a mente do leitor, lembro a fatídica final da Copa do Mundo de 1950, quando o Brasil, frente aos 200 mil torcedores presentes no "maior do mundo" entregou o Mundial de presente para o Uruguai. Na noite anterior, a seleção canarinha já comemorava o campeonato na concentração. O saudoso jornalista e dramaturgo, Nelson Rodrigues, no alto de sua sensibilidade e sabedoria escreveu que "se ao invés do Flávio Costa (treinador da Seleção naquela Copa), tivéssemos um Freud no vestiário do Maracanã, muito possivelmente não aconteceria o maior silêncio do mundo". Quem não se lembra da crise convulsiva emocional do Ronaldinho na final da Copa da França em 1998? Havia algum psicólogo presente? Certamente que não. E o que dizer das Olimpíadas de 2000, quando nosso vitorioso país não obteve nenhuma medalha de ouro? Estranhamente, as pessoas que dirigem e atuam no esporte nacional ainda não perceberam que a esfera mental pode ser a determinante do fracasso ou do sucesso de uma equipe. Nos Estados Unidos, por exemplo, não há uma modalidade esportiva que não conte com um psicólogo na comissão técnica. Estamos atrasados, amigos.

<b>Brasil vence a Copa América</b>

Com muito choro argentino, assim como nos melhores tangos, levantamos, com raça e determinação, a Copa América 2004. Os “hermanitos” devem estar tentando compreender o que se passou até agora. É bom para eles baixarem a bola. Cantaram de galo durante os quatro dias que antecederam a final. O presidente da Confederação Argentina de Futebol disse, antes da decisão, que “ganhar do Brasil não era mais do que obrigação. Se perdessem, melhor nem voltar pra casa”. É bom alguém pedir para o piloto do avião mudar a rota. Nossos “queridos” irmãos perderam o campeonato, mas ganharam, de graça, uma lição de humildade e superação. Podem se considerar, agora, pós-graduados nestas disciplinas.

<b>Brasileirão 2004</b>

Tem muito time por aí precisando colocar a cabeça na ponta da chuteira. Há uma instabilidade generalizada na performance da maioria das equipes. Fluminense, Goiás e Atlético Paranaense goleiam seus adversários numa rodada, e, logo no jogo seguinte, têm sido goleados impiedosamente. O que será que anda se passando com a cabeça desta molecada? Por falar em molecada, o time do Corinthians, após a saída do jogador Rogério, conta, em seu elenco, com jogadores inexperientes, recém promovidos das categorias de base. Mesmo assim, os dirigentes nem pensam em promover um treinamento psicológico esportivo no clube. Preconceito e desinformação barram o trabalho de psicólogos nas equipes. Quem perde com tudo isso? O próprio futebol.

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<i><b>João Ricardo Cozac</b> é psicólogo formado pela PUC-SP. Atua no esporte há 11 anos. Professor de psicologia do esporte na Universidade Mackenzie de São Paulo. Presidente da Consultoria, Estudo e Pesquisa da Psicologia do Esporte (www.ceppe.com.br). Atende atletas de diversas modalidades em consultório. Atuou em grandes equipes do cenário futebolístico brasileiro. Colunista do site “Gazeta Esportiva.net” .Autor do livro ‘Com a cabeça na ponta da chuteira: um ensaio sobre a Psicologia do Esporte’, pela editora Anablume, e ‘Psicologia Esportiva: reflexões e prática’, em fase final de edição.</i>


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A Psicologia do esporte