Todas as drag queens do mundo


Créditos: Divulgação

Drag Queen. O termo explodiu em popularidade no mundo todo nos anos 90, e já se banalizou há muito tempo. Mas contrariando previsões fatalistas, o gênero continua em alta, como provam algumas drags de sucesso.

Estrela-Guia

A provavelmente mais famosa drag do mundo é RuPaul. Norte-americano de 53 anos, RuPaul começou a se montar nos anos 80. E no final daquela década surgiu como figurante no clipe de Loveshack, da banda The B-52’s – por sinal, especialista no visual drag: no início da carreira da banda, nos anos 70, o público chegou a pensar que as vocalistas Kate Pierson e Cindy Wilson eram drags, graças às perucas “bolo de noiva” e aos vestidos de “tia dos anos 50”.

Nos anos 90, RuPaul explodiu como celebridade, e desde então foi ampliando seu espaço. Atuou em clipes, humorísticos, programas de TV, filmes, gravou discos, produziu trilhas sonoras. Em 2009, estreou o reality show televisivo RuPaul’s Drag Race, no qual aspirantes a drag queens competem entre si. RuPaul é a juíza suprema da competição. O programa completou cinco anos e continua forte e popular, inclusive entre o público brasileiro.

E não foi por acaso que a estrela de RuPaul passou a brilhar a partir dos anos 90. Essa foi a década na qual as drags saíram do gueto underground da noite gay e invadiram as casas familiares, os lares, as festas de fim de ano de empresas e demais eventos “conservadores”.

Anos 90

O estopim para a mudança foi o sucesso mundial do filme australiano Priscilla, a Rainha do Deserto (1993, de Stephan Elliott), no qual três drags (Hugo Weaving, Terence Stamp e Guy Pearce) viajam pela Austrália a bordo do ônibus Priscilla, para uma turnê de shows.

Hollywood foi rápida e em 1994 produziu sua “versão” do fenômeno. O filme Para Wong Foo, Obrigado por Tudo, Julie Newmar (de Beeban Kidron) trazia também três drags viajando pelo interior – dos EUA, claro: Patrick Swayze, Wesley Snipes e John Leguizamo viveram as personagens.

Brasil

A visibilidade dos dois filmes abriu as portas para que as drags virassem moda. E o Brasil não ficou atrás: as drags da noite gay paulistana viraram celebridades, frequentando revistas, colunas sociais e programas de TV. Explodiram Paulette Pink, Márcia Pantera, Cindy Babado, Kaká diPolly, a argentina radicada no Rio de Janeiro Isabelita dos Patins, Veronika, Silvetty Montilla, Dimmy Kier, Nany People, Léo Áquilla, Natasha Rasha, Marcelona

Muitas delas ficaram famosas nacionalmente, graças à TV. Nany People atuou como repórter no programa de Hebe Camargo no SBT, e também no Flash de Amaury Jr. na Band, além de integrar o reality A Fazenda 3; Léo Áquilla foi repórter do Noite Afora da Rede TV e também esteve no reality A Fazenda 5; Dimmy Kier, por sua vez, integrou o Big Brother Brasil 10, com seu nome original: Dicésar. Depois do BBB, Dicésar participou de programas no SBT.

Política

Tal sucesso levou algumas drags até mesmo a tentar cargos políticos. Léo Áquilla foi candidata a deputada estadual (SP) em 2006 e 2010, e a vereadora em 2008, e em 2014 tenta novamente, como deputada federal, pelo PSL. Salete Campari candidatou-se a vereadora em 2008, e a deputada estadual (SP) em 2010. Em 2014, concorre novamente como estadual, pelo PT. Silvetty Montilla concorreu a vereadora em 2012 pelo PSOL, e tenta em 2014 como deputada estadual, pelo PV.

Pré-história

O termo e o gênero drag queen nasceram nos EUA, ainda nos anos 50. Foi por lá que surgiu essa híbrida mistura entre um arquétipo feminino e a figura das travestis. No início houve muita confusão, até que se ficasse claro o que cada gênero significava.

A drag queen foi definida como a figura exagerada, over, que se compõe de um homem vestido de mulher – mas de forma espalhafatosa, brilhante, multi-colorida, carnavalesca. Essa é a essência da drag – diferente da travesti, que pode ser um homem discretamente vestido de mulher, sem excessos (o que também vale para transexuais, transformistas e cross-dressers).

Por esse raciocínio, uma das drags pioneiras dos EUA foi Divine (1945-1988). Atriz-fetiche do rei do cinema trash, John Waters, Divine virou estrela mundial ao protagonizar filmes do cineasta como Polyester (1981), Problemas Femininos (1974) e, claro, Pink Flamingos (1972) – em cuja cena final Divine come fezes caninas.

Popstar, Divine gravou discos e fez shows, tornando-se uma figura cultuada. Sua morte precoce aos 43 anos deixou uma lacuna, e sua importância para a cultura pop e gay pode ser comprovada no recente documentário I Am Divine (2013, de Jeffrey Schwarz).

Simultaneamente, artistas como Andy Warhol também lançavam drags para o mundo. O pai da pop art apadrinhava Candy Darling (1944-1974), que atuou nos filmes de Warhol e em outras produções.

As presenças de Divine e Candy Darling alavancaram a existência das drags nos EUA, nos anos 60 e 70. Nos 80, em 1984, surgiu em Nova York o Wigstock – festival realizado ao ar livre que reunia drags inacreditáveis do mundo todo. O evento ganhou um documentário, Wigstock: The Movie (1995, de Barry Shils). Em 2005, o festival morreu.

Falecidas

Também já se foram algumas drags marcantes. A noite paulistana perdeu Veronika e Simplesmente Nenê; a carioca, Laura de Vison; nos EUA, morreram Sahara Davenport, Danny LaRue e o astro da discoteca Sylvester – que “se montava” periodicamente. Aliás, o termo surgiu da cultura drag: “se montar” significa produzir o visual, se transformar (em drag).

A palavra é delas

“Ser drag é colorir o lugar, exagerar, ‘humorizar’. Existem várias imagens de ser uma drag queen. Muitos me consideram uma transformista caricata, mas acho que me enquadro no perfil drag pois amo o exagero e a diferença”, afirma Ioiô Vieira de Carvalho, drag paulistana que gerencia um bar em Sapopemba, periferia da capital.

A veterana Kaká di Polly começou a se montar há 35 anos. “Tudo mudou, o mundo mudou, e com ele nós também. Hoje podemos ser e viver da nossa arte e projetar um personagem feminino no inconsciente e dar vida própria a ele”, afirma Kaká, uma das personagens centrais do documentário São Paulo em Hi-Fi (2013, de Lufe Steffen), que retrata a cena LGBT na cidade nos anos 60, 70 e 80.

“Muita coisa mudou”, continua Dindry Buck, drag paulista atuante desde 1998. “Antes a drag se limitava apenas às casas noturnas e festas do mundinho fashion. Hoje tem drag repórter, drag DJ… As drags fazem eventos corporativos, casamentos, festas infantis, eventos sociais…”

Funcionárias

De fato, muitas drags hoje ganham a vida sem fazer shows, mas em áreas inusitadas. Na noite de São Paulo, drags DJs como Leiloca Pantoja e Ginger Hot se destacam. No mundo corporativo, Tchaka Drag Queen é a campeã absoluta, liderando o mercado com sua agência de eventos, animações e performances.

O palco, porém, ainda é o grande holofote das drags. Nas noites paulistanas continuam em alta as chamadas “caricatas”, especialistas no humor escrachado, como Michelly Summer, Thalia Bombinha, Ciocetty Caroline e a própria Silvetty Montilla, entre outras.

TV

E a TV também continua interessada no brilho dessas “criaturas” irreverentes. O programa online Papo de Camarim, do maquiador Anderson Bueno, reestreia neste domingo (21), trazendo uma delas: Nany People, que foi maquiada por Bueno com um look de diva hollywoodiana anos 50.

Enquanto isso, o mundo ainda assimila o sucesso de Conchita Wurst, a “drag barbuda” que venceu o Festival da Canção do canal Eurovision em maio, representando a Áustria. Apesar de diversas reações conservadoras, Conchita manteve-se vencedora e promete ainda fazer muito barulho.

Confira na galeria acima uma seleção de drags marcantes do Brasil e do mundo.


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Tudo sobre drag queens: quem são, de onde vieram, para onde vão

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