“Manda nudes!”
Essa é uma das frases mais usadas nos últimos tempos na sociedade brasileira. Quem diria que, um dia, a nudez seria desmistificada? Atualmente, ficar nu é fácil, e todo mundo fica, e de graça – posando para projetos artísticos postados em tumblrs, sites e redes sociais, fazendo selfies para consumo próprio, ou para enviar aos pretendentes na hora da famosa frase que abre este texto.
Mas houve uma era longínqua, caro leitor, em que “toda nudez era castigada”. Posar nu era uma grande ousadia, e só fazia isso quem ganhava um certo cachê. E isso era mais comum com as mulheres (modelos, atrizes famosas, cantoras, estrelas femininas). O homem, protegido pelo machismo, guardava o corpo – a não ser dentro da indústria underground pornô e gay.
Por isso, conseguir clicar imagens de homens seminus (e nus) durante as décadas de 60, 70 e 80, era uma façanha e tanto. O fotógrafo carioca Alair Gomes (1921-1992) torna-se assim o grande pioneiro do assunto.
Durante o período mencionado, ele clicou febrilmente o corpo masculino, fosse da janela de seu apartamento em Ipanema, fosse em plena areia das praias, ou diante das piscinas, e até mesmo dentro de casa. O tema era sempre o mesmo: o deslumbrante corpo masculino, apertado dentro de sungas microscópicas, como pedia a moda da época.
E por falar em moda, não era “in” fazer malhação em academias de ginástica – isso, novamente, era coisa de gente do underground, do submundo. O povo mesmo se exercitava na praia, jogando bola, fazendo flexão, nadando, se pendurando em barras – o resultado é o típico corpo masculino dos anos 70: magro, porém atlético, sem bomba e sem bíceps gigantescos, peitorais inflados e abdômen “tanquinho”, nada disso. Era a síntese da natureza mesmo.
Toda essa exuberância pode ser conferida na exposição Alair Gomes – Percursos, que acaba de inaugurar em São Paulo, com curadoria de Eder Chiodetto. Mostrando 293 imagens (tiradas de um acervo com cerca de 170 mil negativos), a mostra apresenta algumas séries do artista, culminando com um conjunto de nus, incluindo nus frontais em ereção total.
Vale conferir o trabalho de Alair, que pode ser considerado o “pai” de vários jovens fotógrafos brasileiros gays de hoje, que realizam trabalhos de nu masculino de teor homoerótico – todos devem bater continência (desculpem o trocadilho!) para o pioneiro Alair Gomes.
Alair Gomes – Percursos
Caixa Cultural – Praça da Sé, 111 – Centro
De terça a domingo / 9h-19h
Até 4 de outubro
Entrada Franca
Alair Gomes, o pioneiro da fotografia homoerótica no Brasil
Créditos: Reprodução / Divulgação / Alair Gomes