Manifestações, Blocos de Carnaval e agora festas: as ruas de São Paulo têm cada vez mais sido ocupadas pela população em um movimento de reapropriação do espaço público pelo paulistano, confinado nas últimas duas décadas a shopping centers.

O movimento ganhou contornos ainda mais fortes com a festa Buraco da Minhoca, que volta a acontecer no próximo dia 12, no túnel sob a Praça Roosevelt, centro da capital paulistana, após ter uma edição impedida pela Polícia Militar.

Virgula Diversão conversou com urbanistas, empresários e especialistas para saber suas opiniões a respeito do movimento de ocupação das ruas em São Paulo. Veja na galeria de imagens.

A festa começou de forma espontânea. O DJ Chico Tchelo, organizador do evento, costuma andar pelas ruas da cidade com um sistema de som acoplado à mochila. No dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo, desceu para o “buraco” com um grupo de 30 pessoas – horas depois, 100 – para evitar a lei do silêncio, que impede barulho em vias públicas após as dez da noite. “Ao voltar pra casa batizei o lugar como Buraco da Minhoca”, conta Chico ao Virgula Diversão. “Criei a página do Facebook e assim novos eventos foram acontecendo ali.”

O evento, entretanto, foi interrompido semanas depois. Na semana do Carnaval de São Paulo, a PM impediu a realização da festa, alegando falta de autorização da Secretaria de Segurança Pública. “Estamos nesse primeiro trâmite burocrático, aguardando a autorização para comunicar a PM. Mas só para deixar claro, foi um contato meu justamente com a PM que trouxe a Prefeitura para a reunião, ou seja, no dia que liguei para o capitão da PM, ele mesmo que ligou para a CET e Subprefeitura da Sé para fazermos a reunião sobre as festas e formas de regularizá-las. Para a PM, estando tudo ok com a CET e prefeitura, é só avisá-los com antecedência”, esclarece o DJ.

Ele confirma ainda a boa vontade da administração do prefeito Fernando Haddad (PT) como em relação a políticas de uso do espaço público. “Há zilhões de trâmites burocráticos, mas são heranças de outras administrações. Estão fazendo o possível para nos ajudar a regularizar as festas”, diz ele. No último ano, Haddad regulamentou o Carnaval de rua da cidade, além de sancionar as barracas de comida de rua e a atuação de artistas nas vias públicas da capital – todas proibidas até então.

Para Chico Tchelo, o paulistano deve sim tomar posse do espaço público que, pela lei, já é dele. “Se as pessoas entendessem que quanto mais gente pelas ruas, acreditando e apostando nelas, menos marginal e mais plural a rua seria”, diz.

“Quanto mais gostosa for a experiência de ficar nas ruas, mas as pessoas vão observá-las, questioná-las. Irão questionar as calçadas, o mobiliário urbano, a paisagem urbana, as construções”, defende. “Quando há o diálogo, as pessoas entendem os porquês as razões do outro ou não, mas para esta experiência acontecer, tem que haver contato humano. Ocorre que hoje as pessoas julgam as outras dentro do condomínio-clube sentadas em frente a um computador. Julgam de longe, sem a experiência do diálogo e do contato face a face, porque a cultura da segregação gerou o medo do próximo, do diferente”, conclui.

Virgula Diversão conversou com urbanistas, empresários e especialistas para saber suas opiniões a respeito do movimento de ocupação das ruas em São Paulo. Veja na galeria de imagens. 


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Liberada, festa Buraco da Minhoca voltará a SP; especialistas defendem lazer no espaço público