Foi-se o tempo em que só quem era da Portela conhecia o feijão de Dona Vicentina, “tia” da escola de samba que teve seus atributos culinários cantados por Paulinho da Viola. Hoje, Portela, Mangueira e outras tantas abrem as portas de suas quadras, ou melhor, escancaram, para quem é de fora provar sua feijoada tradicional uma vez por mês. São onze eventos regulares deste tipo, em escolas diferentes, só no Rio de Janeiro e entorno, segundo as contas do Guia de Feijoadas das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, de Augusto Carazza e Regina Lúcia Sá. Sem dúvida, as mais famosas são as da Portela e Mangueira, que atraem turistas e cariocas de outros bairros, sobretudo da Zona Sul. No entanto, fora da capital, e nem tão longe, algumas agremiações promovem festas com samba, pagode e feijoada que, justamente por não serem tão procuradas por turistas, mantêm-se mais autênticas e fiéis às origens.

“A presença da comunidade é maior na Viradouro e na Porto da Pedra, por exemplo. Como estão mais distantes, atraem mais o público local. A feijoada também certamente é feita pelas baianas mesmo, e não tercerizam o serviço para bufês, como acontece em algumas escolas famosas”, conta Augusto Carazza, autor do Guia, lançado em janeiro deste ano pela Editora Réptil. Na Viradouro, em Niterói, o evento tem lugar no primeiro domingo de todo mês, a partir das 13 horas. Rodas de samba com convidados, apresentações dos segmentos da escola, dos casais de mestre-sala e porta-bandeira e, não podia faltar, da bateria Furacão Vermelho e Branco.

Já na Porto da Pedra, em São Gonçalo, a feijoada das tias acontece sempre no segundo sábado de cada mês, e também conta com rodas de samba, performance dos integrantes da escola e apresentação da bateria Ritmo Feroz. “A feijoada tem uma importância econômica para as escolas, porque ajuda a arrecadar receita para o Carnaval, além de ser um meio de atrair a comunidade e de reforçar a sua identidade”, explica Carazza. A feijoada é, por excelência, a comida do samba. Fala-se, é claro, da receita à moda carioca, com feijão preto, pedaços de porco generosos sem restrições – vale orelha, pé, rabo, toucinho – e carnes de boi salgadas, charque, além de linguiças, paio etc. Haja ingrediente.

E haja disposição para preparar feijoada e seus complementos obrigatórios: arroz, laranja em fatias, molho de pimenta, para mil pessoas. Às vezes, até mais. É o que fazem as “tias” do samba. Na Beija-Flor, em Nilópolis, quem comanda a equipe da cozinha é Tia Débora, da Velha Guarda da escola. Depois de um ano sem realizar a tradicional feijoada, impedida por obras no teto da quadra, a agremiação voltou a realizar o evento em julho deste ano, sempre no segundo domingo do mês, a partir das 14 horas.  Grupos de samba e pagode e a bateria nota 10 embalam as mulatas e o público, em sua maioria composto pela comunidade.

Já na feijoada da Grande Rio, escola de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, os frequentadores são em grande parte celebridades. Isso porque o evento, batizado de “Feijoadíssima”, acontece uma vez por ano e sequer é realizado na quadra da escola. Às vésperas do Carnaval, sempre no início do ano, a Grande Rio promove o evento para reunir artistas como Suzana Vieira, Paolla Oliveira, Boni, Monique Alfradique e tantos outros. No ano passado, os shows foram de Arlindo Cruz, Preta Gil e Aviões do Forró, para se ter uma ideia da grandiosidade da “Feijoadíssima”, e os ingressos custaram R$ 200,00. Nas outras escolas, as entradas, com direito a feijoada, variam de R$ 10,00 a R$ 20,00. Como se vê, tem para todos os gostos e bolsos. O que não falta é feijão e samba.


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Fora do roteiro turístico da região metropolitana, escolas de samba do RJ promovem feijoadas mensais