(por Nathalia Rodrigues) – Prédios, carros, pessoas, trânsito. Essa é a paisagem que quem passa pela avenida Paulista vê todos os dias. Mas como deixar de citar as simpáticas bancas de jornal? São várias e estão sempre ali seja para comprar um chiclete, cigarro, refrigerante ou sua revista favorita. "Fiz muitos amigos por lá, hoje sinto saudades", é o que diz Isabel Obata, 83 anos, que esteve durante 34 anos à frente da primeira banca da avenida.

Foi ali, no cruzamento da Brigadeiro com a Paulista, que o negócio surgiu na década de 20. Seu sogro chegou da Itália em 1917 e começou a trabalhar com primeiro emprego que apareceu. "A banca começou como um caixote e parecia uma cabana de índio", recorda Obata. Com a morte do sogro, e depois do marido, dona Isabel, que nunca havia trabalhado, se viu apavorada e com cinco filhos para criar.

Foi quando, em 1974, tomou a frente do trabalho. Segundo ela, aquela foi a melhor época para vender jornais. "Nos domingos (dia em que mais se vendia jornal) eu vendia 130 exemplares do Estadão, 120 da Folha. Hoje, se vender 8 ou 9 já é muito". A queda se deve à concorrência que as bancas enfrentam com supermercados, postos de gasolina, cafés e principalmente as assinaturas. Mesmo enfrentando momentos em que a crise bateu à porta, a descendente de japoneses conseguiu seguir em frente sem nunca parar de trabalhar.

”Política” das bancas

Sobre os políticos que já passaram por São Paulo, dona Isabel se lembra bem: "Podem criticar o Maluf, mas na época dele, essa cidade era organizada. Ele rouba, mas os outros políticos também". "O Jânio era muito organizado e gostava de ver as ruas e as bancas bem limpinhas, não tenho o que reclamar dele". "A Erundina proibiu que os banqueiros vendessem refrigerante e sucos. Um dia sem mais nem menos funcionários da prefeitura chegaram, colocaram minha geladeira pra fora da banca e começaram a beber tudo, abriram todas latinhas, foi uma bagunça", diz ela.

Seja paulista ou turista, todos adoram zanzar pela famosa avenida. E é nela que acontecem várias comemorações como a Parada Gay, festa de Reveillon, Corrida de São Silvestre etc. Isabel afirma que apesar da movimentação e multidões de pessoas que circulam nessas datas, nenhuma é mais organizada que a dos homossexuais. Segundo a banqueira, eles são “bem educados, cumprimentam a todos e nunca quebraram nada da rua”. Atitude totalmente contrária a de alguns torcedores de futebol.

"Quando o São Paulo ganhou a libertadores eu tive um prejuízo de mais de R$ 10 mil. Os
torcedores quebraram minha banca, roubaram revistas, levaram coisas de comer, uma verdadeira tristeza", conta sobre o episódio que aconteceu em 2005 quando a legião de são-paulinos destruiu a Paulista como forma de mostrar a alegria com o título do time. E o que será que uma pessoa que lida tanto com informação prefere ler? "Depende do dia, se eu quero me distrair prefiro a TiTiTi (revista de fofocas), se quero saber das notícias sérias leio a Veja, Época, depende do meu estado de espírito".

O tempo passou e hoje dona Isabel conta tudo com muita alegria. Devido a um derrame e à crise que as bancas enfrentam, a japonesa deixou a banca e atualmente passa as tardes em casa assistindo televisão. Vida mansa? Não é isso que ela diz: "Estou louca pra voltar pro trabalho. Ficar parada me dá um desespero", finaliza. Paulista que é paulista nunca cansa de trabalhar.

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SP: banca da Paulista comemora 100 anos

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