Na Índia a pele clara é uma obsessão: as mensagens que relacionam um rosto branco com a beleza e uma vida de sucesso dominam o mercado, uma atitude “racista” contra a qual se rebelou um setor da sociedade.

À frente desse movimento contra a brancura está a campanha “O Escuro é Belo”, que critica o bombardeio a que são submetidos os cidadãos indianos com revistas repletas de fotos manipuladas de rostos famosos embranquecidos e cremes que prometem uma pele clara.

Para os promotores dessa campanha, a gota d’água foi um anúncio televisivo “essencialmente racista” no qual o astro do cinema de Bollywood, Shahrukh Khan, afirma que realizou seu sonho graças a um creme que embranqueceu sua pele.

“Quando o ‘rei Khan’ diz algo todos prestamos atenção, por isso sua mensagem faz com que nossos filhos se sintam inseguros”, denuncia a campanha em seu site.

Como antagonista à mensagem protagonizada por Khan está a atriz “morena” – como a imprensa costuma chamá-la – Nandita Das, que deu um basta à obsessão pelo branco e garantiu que, entre outras medidas, rejeita todo papel no qual lhe peçam para clarear sua pele.

“Cada vez que tenho que interpretar o papel de uma mulher de classe média ou alta eu costumo ouvir: ‘Sei que você não gosta de ser mais clara, mas você se importaria em clarear um pouco mais o seu rosto? ‘ E eu respondo: ‘Sinto muito, vocês escolheram a pessoa errada'”, explicou.

O culto à pele branca faz parte do “imaginário popular” da sociedade indiana, que tem uma estrutura de castas muito enraizada na sociedade que relaciona as pessoas de pele escura com as castas mais baixas, segundo o psicanalista indiano Sudhir Kakar.

Se dermos uma olhada em uma revista feminina na Índia, como por exemplo a última edição de “Femina”, as conclusões são reveladoras: centenas de mulheres indianas e estrangeiras de pele muito clara, frente a duas negras – uma é Rihanna – e duas indianas morenas que são entrevistadas (uma ex-prostituta e uma ativista social).

No entanto, na revista aparecem também vozes que discordam desse padrão de beleza, como a da blogueira especializada em maquiagem Samaanta Dwivedi, que afirmou ser contrária aos “anúncios brancos” e dá o seu apoio às mulheres bonitas que são “de verdade”.

Uma atitude contra a obsessão pela brancura que vai aparecendo pouco a pouco nas ruas de cidades indianas como Nova Délhi, na qual, para muitos profissionais, o reconhecimento que a pele clara representa passou a se transformar em um tema tabu.

É o caso de uma loja de fotografia em um bairro do sul da capital indiana. Vários de seus clientes – inclusive europeus brancos – criticaram que suas peles foram clareadas nas fotos sem solicitação prévia, mas seu dono afirmou que só faz esse tipo de manipulação excepcionalmente.

Do mesmo modo, nas lojas de cosméticos é possível falar, com cuidado, sobre a ampla gama de cremes para o branqueamento da pele, que possuem produtos que representam 48% do setor na Índia, segundo um estudo de 2008 do escritório de comércio italiano.

Nas livrarias, dezenas de revistas sobre moda e o culto ao corpo corroboram a predileção pela pele clara, algo que conseguem, como disse à Agência Efe Chinmoyee Kalita – relações públicas de um spa -, graças ao “photoshop e aos salões de beleza”.

“Você tem, por exemplo, esta foto (pega uma revista e mostra a capa na qual aparece uma modelo indiana). Ninguém pode ser como ela. É o efeito dos pós na pele, da maquiagem. É algo absolutamente visível”, comentou Chinmoyee.

Sua companheira Niti Gevig é da mesma opinião, mas diz ser otimista sobre a mudança de mentalidade que está ocorrendo na Índia sobre a pele branca, pois acredita que “na atualidade, as pessoas estão mais receptivas sobre a pele morena e a estão aceitando”.

A médica Madhurima Sharma, que possui uma clínica de tratamento da pele, reconheceu para a Efe que muita gente vai até ela para pedir o branqueamento de sua pele, mas afirmou que isso ocorre porque não sabem “definir seu problema”, que costuma ser a hiperpigmentação ou uma pele muito seca.

“Nós tentamos melhorar isso. Não é sobre brancura, mas sobre melhorar a condição da pele”, disse, embora um de seus tratamentos, chamado “ProClaro”, prometa melhorar em cinco sessões o tom das “peles escuras”.


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Setores da sociedade indiana se rebelam contra a obsessão pela pele clara