(por Gabriela Rassy) Não é fácil ser taxista em São Paulo. Dirigir o dia todo em lugares congestionados e acelerados não é pra todo mundo, ainda mais quando é necessário manter a educação, o bom humor e a paciência. Junte a isso, o pré-requisito mais importante de todos: conhecer os inúmeros caminhos da mega-metrópole.

“Taxista é uma profissão humilde, mas não é qualquer um que trabalha não. Tem que saber os caminhos básicos e também procurar no guia”, disse o coordenador da TáxiRápido, Adelino Silva, 49 anos, taxista desde 1984.

Pensando nisso, o prefeito de Walsall, na Inglaterra, quer garantir que os motoristas de táxi da cidade saibam entreter seus passageiros. Assim, pretende criar um exame de conversação para os futuros condutores. Além de testar o nível de inglês, o teste servirá para ver se o motorista consegue entreter o passageiro durante o percurso.

Em São Paulo, ainda não existem projetos desse tipo, mas isso não assustaria nossos motoristas. “Seria muito bom em uma cidade como São Paulo, onde quase todas as ruas têm trânsito”, disse o presidente em exercício do sindicado dos taxistas, Salvador Vieira, 53 anos, taxista desde 1973. “Seria bom para o motorista e para o passageiro, aliás, mais para o motorista, que poderia desviar a atenção do estresse do trânsito. Também geraria mais confiança no passageiro”, completou.

Assim como em Londres e outras cidades européias, aqui é preciso fazer um teste para se iniciar na profissão. Os taxistas da capital paulista passam por o que eles chamam de “escolinha”. O curso tem primeiros socorros, exames psicotécnicos e médicos, teste básico de conhecimento das ruas e legislação de táxi. Mas a preocupação com os caminhos não parece estar em primeiro lugar.

“Em primeiro lugar, tem que gostar do que faz, porque não é fácil trabalhar com isso em São Paulo. E ter consciência de que quem vem de fora da cidade vê no taxista um parente, uma pessoa que pode confiar”, disse Ismael Nogueira, 46 anos, taxista há 26 anos e diretor da Cooperativa de Táxi Vermelho e Branco.

A polêmica do GPS

Um problema que pode dar muita dor de cabeça aos passageiros é a falta de conhecimento das ruas. Tanto dele próprio quanto do motorista. Por não dirigir e, portanto, não conhecer bem as ruas, a diretora de arte Juliana Ferreira já passou sufoco dentro do táxi. “Teve uma vez que um taxista abusou da minha paciência. Estava saindo dos jardins, queria chegar no Sumaré. O motorista ‘fez uma ligação’ perguntando que caminho deveria pegar. Conclusão, em vez de cruzar, pegou a avenida deu uma volta imensa. A corrida deu uns R$ 20 a mais. Fiquei com muita raiva, porque ele foi desonesto e mau-caráter”, conta.

Para facilitar na hora de fazer uma corrida, muitos motoristas têm aderido ao uso do GPS (o famoso sistema de posicionamento global localiza você no mundo). A maquininha faz metade do trabalho e supostamente garante um caminho sem erros. “Com a facilidade do GPS é muito mais fácil achar ruas menores e fica transparente para o passageiro o caminho feito pelo taxista”, disse Salvador. “Hoje já tem bastante gente que usa e quando baratear vai ficar mais comum ainda”, completa Ismael.

Às vezes o GPS mais atrapalha do que ajuda. O estudante colegial Victor Rocha pegou um taxista que tinha uma confiança um pouco excessiva no GPS. “Peguei um táxi para um caminho que conheço bem. Quando falei o caminho para o motorista, ele me cortou e deu uma batidinha no GPS falando: ‘fica sussa, o GPS leva a gente lá.’

Infelizmente, em certo momento, o GPS mostrou o caminho errado. Em vez de seguir em frente, o motorista seguiu a indicação eletrônica e virou. “O cara preferiu confiar no GPS do que numa pessoa que sabe. Acabou que demos uma bela volta até que ele resolveu me ouvir e voltou pro caminho certo”, disse.

Mas estudos mostram que o GPS talvez não seja tão necessário. Cientistas da University College of London conseguiram comparar o cérebro dos taxistas ao tão usado aparelho. Foi feita uma análise das imagens dos cérebros dos motoristas enquanto eles dirigiam em uma simulação das ruas de Londres.

Ficou constatado que diferentes regiões do cérebro são ativadas enquanto os profissionais escolhiam opções de rota, passavam locais familiares ou observavam o comportamento de seus passageiros. Em outros estudos, foi comprovado que os taxistas possuem maior hipocampo – região do cérebro que desempenha importante papel na localização espacial.

Os passageiros

Com ou sem GPS, muitos passageiros concordam que, já que a profissão exige cordialidade, é muito importante que o profissional do volante seja uma pessoa calma. É o caso da publicitária Malu Zacarias. Como está sempre entre Rio e São Paulo e mora perto do aeroporto de Congonhas, na cidade paulista, já foi vítima do mau humor de taxistas.

“Quando entro num táxi já aviso que moro perto e faço brincadeira, porque vai sair baratinho e, no aeroporto eles têm que voltar para o final da fila. Uma vez, um homem com a maior cara amarrada até deu um soco no volante quando eu falei que ia logo ali”, conta. “Desci do táxi na hora, morri de medo dele.”

Mas para a publicitária, esse caso não generaliza a classe. “Já passei por situações em que os taxistas foram ótimos, por serem compreensivos com a curta distância ou por tentarem ao máximo ajudar”, disse. “Já viajei até Mogi de táxi e o carro quebrou no meio da viagem. O motorista, que era argentino, ligou para o seguro vir me buscar e foi muito atencioso.”

O teste final

O Virgula testou taxistas da região da avenida Paulista para saber se eles realmente conhecem alguns dos caminhos de São Paulo. A reportagem perguntou para eles se sabiam como chegar da avenida Paulista para os seguintes locais: rua João Moura (Jardim América-Sumarézinho; Zona Oeste), praça Silvio Romero (Tatuapé; Zona Leste), rua Dr. Zuquim (Santana; Zona Norte), avenida Nossa Sra. Do Sabará (Campo Grande; Zona Sul) e rua Alexandre Dumas (Chácara Santo Antônio; Zona Sul).

Para a felicidade dos passageiros, os motoristas foram bem no teste. A única rua controvérsia foi a João Moura, que Noidi Ferreira, 78 anos, 14 de táxi, chutou errado e Rodrigo Carvalho, 26 anos e pouco mais de um ano na profissão, teria que procurar pelo GPS. “Quando não sei o caminho e o passageiro não sabe indicar, uso o GPS”, disse Carvalho.

Outro novato no ramo, Robert Araújo, 27 anos, só ficou em dúvida quanto ao caminho até a Nossa Sra. Do Sabara, mas justifica: “Faz só um ano que trabalho no ramo. Sei muito pouco.” Ele aproveita e entrega: “Mas tem gente que trabalha há 30 e não sabe nada”. Nessa hora, o GPS também entra em ação. “Mas só quando muito necessário”, disse Araújo. Com dúvida sobre a Praça Silvio Romero, Elionio Cássio de Barros, 46 anos, 22 de profissão, não usa o GPS. “É bom, mas é muito caro. Olharia no guia”, disse.


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Ser taxista em São Paulo exige paciência e cérebro com GPS

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