O escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963) foi um dos principais oráculos do século XX. Através de suas assustadoras obras proféticas, Huxley projetou a sociedade futurista – que, se em seus livros lançados nas décadas de 30, 40 e 50 parecia coisa de ficção científica, hoje é uma realidade.

E por essa mesma razão – a atualidade de seus livros e a relação direta com o mundo de hoje -, vale a pena conhecer (ou reler) alguns de seus clássicos. Grande parte deles está sendo relançada pela Biblioteca Azul, selo de alta literatura da Globo Livros.

Até agora, foram relançados – com novas capas e revisão – os títulos Contraponto (1928), Admirável Mundo Novo (1932), Sem Olhos em Gaza (1936) e Os Demônios de Loudun (1952), entre outros. E devem chegar em breve As Portas da Percepção (1954) e O Tempo Deve Parar (1945), entre outros. O projeto pretende publicar até o final do ano um total de 15 livros de Huxley pertencentes à Globo Livros.

“O que faz de um clássico um clássico é a capacidade de pensar a vida, a sociedade, o homem, as relações, de uma maneira questionadora, que ajude a fazer perguntas e a respondê-las, tornando nossa vida mais rica e inteligente”, comenta Ana Lima Cecilio, editora responsável pela atual reedição de Huxley.

“Huxley é um autor cuja preocupação com o entendimento de seu mundo contemporâneo está no centro de sua obra”, continua. “Huxley parece sempre aflito para dar respostas, para apontar caminhos. Sua obra é, sim, atual e profética. Com ironia e certa dose de pessimismo, ele descreveu um mundo individualista, destruído pelo consumo desenfreado, onde os valores éticos permanecem em decadência. Lê-lo hoje é uma forma bastante contundente de compreender o presente”.

Em tempo de obras como Game of Thrones – que fascina o público com sua visão sobre a Idade Média -, será que a obra de Huxley conseguirá cativar um público que ainda não o conhece? “Os clássicos são atemporais, e sempre que um autor faz com grande destreza de estilo uma reflexão profunda, ele ultrapassa sua época. Em Admirável Mundo Novo, por exemplo, algumas coisas são notadamente datadas (as personagens se deslocam com helicópteros, as TVs são de tubo e a comunicação a distância por orelhões!)”, comenta Cecilio.

“Mas é inegável como ele acertou na organização da sociedade, no totalitarismo, no controle das massas e na manipulação genética. Qualquer bom leitor tem toda possibilidade de mergulhar na história e usá-la para pensar seu próprio mundo”, conclui.

Embora inglês, Aldous Huxley viveu nos EUA a partir do final dos anos 30 até sua morte. Personalidade marcante, acabou se tornando ícone da cultura pop – em grande parte por sua postura de apoio ao LSD (o famoso ácido lisérgico) como plataforma de novas formas de pensamento e percepção. Outra droga que serviu para experimentos de Huxley foi a mescalina, que o levou a batizar seu livro As Portas da Percepção em homenagem a um verso do poeta inglês William Blake – e acabou inspirando também o título da banda The Doors, liderada por Jim Morrison.

E até os Beatles prestaram reverência a Huxley, colocando seu rosto entre as ilustres personalidades que posam na capa do álbum Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, de 1967.


int(1)

Profético, Aldous Huxley ganha reedições de Admirável Mundo Novo e As Portas da Percepção