(Por Gabriela Rassy) O filme de estréia da 32ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, “Terra Vermelha”, vai muito além de ser apenas um filme sobre a situação socio-econômica dos índios Guarani-Kaiowá. É um retrato completo das diversas facetas de seu relacionamento com o homem branco.

O filme tem um caráter bem autêntico, a começar pelos personagens índios, vividos por índios “de verdade”. Até mesmo o explorador, vivido por Matheus Nachtergaele, nem o rico e preocupado fazendeiro, interpretado por Leonardo Medeiros, são coadjuvantes nesse drama quase documental.

O fazendeiro, o capataz da fazenda, o turista, o agente que arruma trabalho – quase escravo -: todos estão envolvidos em relações com os índios. As histórias incluem desde o namoro adolescente entre um futuro xamã e a filha do fazendeiro até a falta de estrutura que leva duas índias ao suicídio logo no início da trama.

O desaparecimento da cultura, junto com o espaço destinado aos índios, leva alguns à loucura. A terra representa essa cultura perdida. Uma cena do filme mostra bem isso, quando o fazendeiro pega um punhado de terra e diz para os índios que ele a faz produtiva há mais de 60 anos, que herdou de seu pai aquela terra. O índio pega um pouco terra do chão e come. Fica clara a diferença do valor da terra para cada um. Para o fazendeiro é dinheiro, propriedade. Para o índio é vida.

O filme, escrito pelo diretor e roteirista brasileiro Luiz Bolognesi (“Bicho de Sete Cabeças”) e dirigido pelo italiano Marco Bechis, não mostra o dono da terra como mau, e sim a falta de saída dos antigos donos dela. Mostra a condição de vida e trabalho dos que não querem ficar na reserva. No começo do filme, os índios posam para turistas pintados, com flechas nas mãos. Logo que a encenação acaba, eles recebem dinheiro pelo trabalho.

“Terra Vermelha” é uma denúncia clara de uma cultura que está se perdendo, empurrada para longe de quem faz dinheiro nas fazendas e plantações. Eles não acompanham o crescimento econômico, não podem participar dele se não como semi-escravos, não têm espaço.

Muito elogiado no Festival de Veneza desse ano, o filme é, segundo o idealizador da Mostra, Leon Cakoff, “um exemplo da boa globalização, ao trazer um olhar estrangeiro para que a gente se enxergue um pouco mais a fundo.”

Terra Vermelha

Terça, 21/10 – 18:10 – Reserva Cultural Sala 1

Quarta, 29/10 – 20:00 – Cine Bombril Sala 1

Leia também: Festival de Veneza: filme com índios brasileiros é sensação


int(1)

Mostra SP - Filme de estréia retrata drama indígena

Sair da versão mobile