Milhares de pessoas compareceram na tarde de ontem, segunda-feira (21), ao Palácio de Belas Artes da Cidade do México para dar o último adeus ao escritor Gabriel García Márquez em uma cerimônia em que o vallenato e as rosas amarelas tiveram um papel preponderante.

O ato começou depois das 16h locais (18h de Brasília), pouco depois da chegada das cinzas do escritor no principal recinto cultural do México, onde são homenageadas grandes figuras do país, como Octavio Paz e Carlos Fuentes, e os mexicanos por adoção, como Chavela Vargas e García Márquez.

A urna, singela, de madeira, foi colocada no centro do vestíbulo do Palácio de Belas Artes sobre um pequeno tablado, cercada por rosas amarelas, as favoritas do autor de Cem Anos de Solidão.

A viúva do Nobel de Literatura colombiano, Mercedes Barcha, de luto rigoroso e uma flor amarela na lapela de seu paletó, e seus dois filhos, Rodrigo e Gonzalo, fizeram a primeira guarda de honra, acompanhados pelos funcionários do mais alto escalão da cultura do México, Rafael Tovar, Teresa e María Cristina García.

Seus quatro netos, todos entre lágrimas, também fizeram guarda em um recinto repleto de rosas amarelas e marcaram um dos momentos mais emotivos de um evento que foi encerrado pelos presidentes do México, Enrique Peña Nieto, e da Colômbia, Juan Manuel Santos.

No vestíbulo do Palácio de Belas Artes estava uma coroa de flores enviada pelo ex-presidente cubano Fidel Castro com os dizeres: “para meu querido amigo”.

O grande ausente na homenagem foi o líder da revolução cubana e amigo íntimo de Gabo, declarou à Agência Efe o poeta mexicano Homero Aridjis, que disse estar “impressionado pela comoção que causou a morte de García Márquez” em nível nacional e internacional.

O autor de O Amor nos Tempos do Cólera encarnava “o espírito latino-americano do ponto de vista político, social e literário”. “É filho de duas pátrias e os dois países decidiram homenageá-lo”, acrescentou.

No interior do recinto cultural, um quarteto interpretava peças clássicas e tangos, intercaladas em várias ocasiões com vallenatos interpretados por um trio, seus admiradores desfilavam em frente à urna e jogavam sempre flores amarelas.

Após mais de cinco horas de espera, jovens, adultos e idosos resistiram ao sol inclemente para ver por alguns segundos a urna na qual foram depositadas as cinzas de um dos grandes nomes da literatura.

Durante a longa espera nos arredores do Palácio, o compositor e trompetista colombiano Fernando Martínez entoou Macondo, a canção inspirada em Cem Anos de Solidão (1967), a obra com a qual Gabo transcendeu fronteiras, o hino de sua pátria, mas também boleros, cumbias e até salsa.

Admiradores do escritor também leram fragmentos de Cem Anos de Solidão enquanto era possível ouvir vallenatos no imponente recinto.

Em um ambiente festivo, os admiradores mexicanos, colombianos e de outras nacionalidades lembraram as obras favoritas do Nobel de Literatura e disseram que se sentem orgulhosos de um escritor que os levou para outras latitudes.

A professora Norma Martínez Cruz viajou de Orizaba, no estado oriental de Veracruz, até a capital mexicana para se despedir do autor, que se sentia como um mexicano.

“Li quase todos os seus romances”, relatou Norma à Efe, que disse que Gabo a fez imaginar muitas coisas e a levou até seu país, sem que nunca tivesse pisado em território colombiano. “Ele me fez voar, ser livre mentalmente”, acrescentou.

O engenheiro Marco Muñoz destacou sua forma de escrever e sua personalidade “completamente singular”. Alguma vez, disse, teve a sorte de esbarrar com o autor.

“Como mexicano, sinto orgulho que ele tenha vivido aqui por tantos anos”, disse à Efe Muñoz, que também destacou que a presença no evento dos presidentes dos dois países é uma amostra do “tamanho do senhor”.

Esther Velázquez Peña, de 82 anos e visivelmente emocionada após ver as cinzas do Nobel, contou para a Efe que sentia uma “grande admiração” por García Márquez, a quem conheceu desde que chegou e com quem se encontrou em Cuba na escola de cinema fundada pelo escritor.

Com 82 anos e professora de Ciências Políticas durante décadas na Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), confessou que não parou de chorar desde a última quinta-feira quando soube da morte do romancista.

Além de sua obra literária, da qual disse que sua favorita é Ninguém Escreve ao Coronel, também fez referência a seus trabalhos jornalísticos e à defesa que sempre fez de Cuba, sua rejeição ao embargo e sua amizade com Fidel Castro, de 87 anos, a mesma idade que tinha García Márquez ao morrer.

Carol Anet Salado, 21 anos, estudante de engenharia química, disse que compareceu o mais rápido possível ao recinto cultural porque Gabo é seu autor favorito. Sua morte, disse, “é como se tivesse perdido parte de mim”.


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Milhares de pessoas se despedem de Gabriel García Marquez no México

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