(Por Sarah Corrêa) – O velho aperto de mão, o sorriso amarelo no rosto e o tapinha nas costas das nossas figuras políticas hoje já vêm sendo substituídos por idas às baladas, apoio à comunidade gay e projetos sociais voltados aos jovens. Sim, os representantes do povo estão mudando sua postura para atrair uma parcela que representa cerca de 20% do eleitorado brasileiro – mais de 25 milhões de pessoas que votam estão entre os 16 e 24 anos de idade, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de junho de 2008.

Como um produto, a política é vendida de acordo com seu público alvo. Ainda mais em época de eleição, cada um prioriza um lado da sociedade e tenta aproveitar sua bagagem, como explicou ao Virgula o cientista político Claudio Couto: "É uma questão de segmentação de mercado. Como Eurico Miranda, no Rio, falava do Vasco; Turco Louco, em São Paulo, era surfista. A Soninha, trabalhou na MTV, o [Fernando] Gabeira trata de temas sensíveis aos jovens – meio ambiente, diferenças, etc".

Mas para o produto ser vendido, o cliente tem que se interessar pelo mesmo, não? Trocadilhos a parte, o que se discute há muito tempo é exatamente essa vontade do jovem em conhecer política, discutir o tema que é visto como chato, maçante e sem graça. Muitas vezes, o erro não está no desinteresse que se percebe de um lado, mas, também, na maneira como ela é passada. O envelhecimento dessa linguagem, do diálogo que se estabelece entre os candidatos e seu eleitorado é um ponto chave para entender o porquê, mesmo sendo obrigados a votar, os jovens não se sentem tão atraídos por tal questão.

"São três pontos que podem ser analisados para entender o porquê dos jovens se afastarem da política. O principal é o envelhecimento da linguagem política e o esvaziamento da agenda por temas jovens, assuntos que sejam interessantes a essa camada da população", explica Couto. Por outro lado, o cientista político deixa claro que essa discussão pode ser encarada como uma questão de gosto, apenas. Assim como há pessoas que preferem arte e, outras, futebol, há os que estão ligados mais no cenário político, ou não.

Afinal, os jovens curtem política ou não?

Esse pouco estímulo que a política oferece aos mais novos facilmente é percebido nesse grupo. Essa é a primeira eleição com voto obrigatório para Mateus Senra, que está prestes a completar 18 anos. Contudo, ele não se sente muito atraído para tal atividade. "Talvez, algum dia, eu leve mais a sério votar, mas nesse primeiro ano vai mais por obrigação mesmo. Ainda não tenho candidato – talvez anule. Seu colega Luiz Medeiros, 18, já não concorda com a obrigatoriedade do voto, mas garante que nesse ano deve ir às urnas porque se sentiu atraído pelos candidatos: "Acho errado ter que votar obrigado. Aos 16 anos não votei porque não me senti motivado pelos candidatos. Esse ano, escolho o Alckmin ou vou anular".

Mesmo com todo esse lado negativo, mas real da política brasileira, tem jovem que anda muito ligado no meio e sente na obrigação de fiscalizar o poder. Esse é o caso da Natália Martins, 17, que vota pela primeira vez, mesmo não sendo obrigada. Ela conta que desde a 8ª série se interessa por temas políticos, mas se queixa de muitos dos seu amigos, que ela considera "alienados", por só reclamarem e não fazerem nada. A jovem ainda chama a atenção para responsabilidade que vai além de colocar alguém no poder.

"Para saber se o candidato vai fazer mesmo o que promete, temos que testar. Mas esse teste pode custar muito caro. Então, não adianta somente colocá-lo lá e depois dizer que as coisas não estão boas. Tem que cobrar o que foi prometido, para que esse teste dê certo", observa Natália, que, ainda, deixa claro não ser partidária, mas, sim "a favor de fazermos as coisas por nós mesmos para conseguir um bem maior na sociedade".

De olho não somente na nova geração, mas nessa vertente apartidária, o PPS lançou a Soninha Francine na disputa pela prefeitura da cidade de São Paulo. Hoje, afastada da câmara dos vereadores por conta de sua candidatura, a ex-apresentadora da MTV construiu uma imagem ligada ao universo da mudança, da vontade de fazer acontecer, de colocar uma mulher no poder e mudar a mentalidade dos demais candidatos. Com isso, se associou muito sua postura com um eleitorado juvenil. Porém, se vista mais de perto, o mote da campanha de Soninha é justamente o contrário, é apartidário, parte "da educação política para todo tipo de gente desmistificar esse cenário e participar para o bem da sociedade", pontua Lylian Concellos, assessora da candidata.

No final das contas, o ponto de atração dos jovens como a política pode estar na postura de engajamento que alguns políticos sempre passaram, como é o caso do Fernando Gabeira, deputado estadual pelo PV-RJ, que está na luta desde os tempos de ditadura. Essa resposta ainda pode ser encontrada no jeans e ‘all star’ que Soninha nunca abandonou e suas propostas para uma nova realidade, ou no tom rosa que colore a página da deputada federal Manuela D"Avila do PCdoB, outra ativista política bastante jovem. Então, a lição que os mais velhos tomam é que a sociedade se renova e uma das atividades mais antigas, a política, também passa por transformação, como lembra Couto: "Político tem que formular uma linguagem interessante, sempre. Tem que falar sobre temas que emergem de uma esfera social para atrair o jovem".

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Jovens e a política - uma velha discussão