Sérgio Bandeira de Mello é o homem forte da Petrobras quando o assunto é incentivo à cultura. Gerente de patrocínio da gigante do petróleo, Sergio – ou Gico, como é conhecido no mercado cultural – também tem ligação direta com a literatura. Escritor com oito livros publicados, sendo o mais recente Meu Tio Mendigo, lançado no fim de 2013, ele é voz de peso na indústria cultural no Brasil.

Formado em engenharia civil e especializado no segmento de petróleo, ele migrou para a comunicação da empresa por meio das letras, em 1995. “Escrevia uma coluna de humor no jornal interno da Petrobras, o editor gostou do meu texto e me chamou”, contou o carioca de 58 anos ao Virgula Diversão.

A imagem de um escritório atolado por projetos – e uma equipe que decide o que será apoiado pela empresa – já não reflete a atualidade. “Não estamos garimpando projetos na rua, como antigamento. Quando tinha recurso de Lei Rouanet, podíamos. Hoje estamos com projeto de continuidade e com projetos que são selecionados pelo nosso edital. Tem muito projeto bom que a gente não pode nem olhar”, lamenta.

A questão é que desde 2012 o investimento da petroleira está indo, por meio da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e da Sudam (SUDAM – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) para a construção de refinarias de petróleo no Nordeste. “Estamos trabalhando quase que exclusivamente com o programa de Programa Cultural, que é feito com dinheiro do orçamento próprio, que é o famoso dinheiro bom. No jargao do mercado, é o dinheiro bom é aquele que a empresa tira do bolso”, explica.

Por enquanto, as verbas de “dinheiro bom” são investidas em projetos de longo prazo, como com a coreógrafa Déborah Colker e do Grupo Corpo: “Trabalhamos com programas de longo prazo para vários campos: cinema, memoria das artes, pra parte de artes cenicas, dança, teatro”. A saída para uma maior vazão de recursos para a cultura existe, Gico garante. Mas está travada por legislações que não apoiam a cultura nos governos dos estados – é o caso de São Paulo.

Em Estados como Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, a legislação garante que uma fatia maior do ICSM (Imposto sobre circulação de mercadoria) de uma empresa pode ser investida em cultura por meio de renúncia fiscal. “Eles [Minas Gerais] mudaram muito a legislação do ICMS. Hoje em dia, a contrapartida é de 5%, então empresas pequenas, com apenas 1% de contrapartida, podem participar. Mas uma empresa gigante como a Petrobras pode entrar com 5%. “A gente vai fazer a seleção em âmbito nacional com dinheiro incentivado em Minas Gerais. E a gente espera replicar isso em outros estados”, diz Gico.

“Vocês de São Paulo, pelo amor de Deus, façam uma legislação em que possam utilizar mais recursos de ICMS para cultura, porque hoje a gente não usa praticamente nada. Temos 2,4 milhões por ano, ou seja, 200 mil por mês. No fim o que vai acontecer é que São Paulo não será contemplada”, apela. “Mesmo que fosse direcionado para regiões carentes do Estado, se fosse direcionado – mas que a gente tivesse condições de aplicar mais”, conclui.

Indagado sobre como jovens produtores culturais – sejam eles cineastas, escritores, dramaturgos, músicos – podem melhorar suas chances de se dar bem no mercado, Gico dá conselhos por experiência própria. “Quem tem vontade de fazer alguma coisa tem de virar empreendedor. Meu primeiro livro eu banquei com meu dinheiro. Fui vender como se vendia literatura de cordel, de porta em porta”, revela.

“Essa garotada que está começando, a primeira coisa que tem que fazer é tirar as ideias da gaveta. O primeiro investimento tem de ser com recurso próprio, não só com dinheiro, mas com horas de trabalho. acho que tem de ter um trabalho de excelência. E isso leva o artista a ser contemplado em editais como o da petrobras. se não for o nosso pode ser do BNDS, algum outro”, defende.

Para Gico, os editais e as Leis de Incentivo ajudam a oxigenar o mercado – e abrem espaço para talentos de fora do mundo artístico. “Se não tiver padrinho… pra filho de artista é fácil sair no Segundo Caderno [do jornal O Globo], na Ilustrada [do jornal Folha de S. Paulo]. “Essa turma toda que está começando não pode desistir da vocação. No ramo que for. Quem não é filho de artista, pra entrar no mercado, é difícil”, reflete.


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"Homem do patrocínio" da Petrobras, Gico de Mello diz que editais ajudam quem não é "filho de artista"