Quando começou a estudar Design de Mídia Digital na PUC-Rio, o niteroiense Pedro Henrique Dias, de 23 anos, passou a enfrentar, diariamente, o que chama de “saga” na ponte que separa Niterói do Rio de Janeiro. Sem carro. Parado no trânsito, teve tempo suficiente para pensar em como melhorar a vida de quem enfrenta o caos da cidade grande. E com a ajuda de dois amigos, criou o Leve, um aplicativo que promove o encontro de interessados em dividir o mesmo carro ou táxi em tempo real. “Os projetos digitais voltados para caronas eram apenas de caronas programadas, nos quais as pessoas podiam agendá-las ao longo da semana. Nós pensamos em romper com isso, porque o dia a dia das pessoas é dinâmico, elas deveriam poder pegar carona na hora que quisessem”, conta o estudante.

Para desenvolver a ideia, conseguiram o apoio da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) e hoje o aplicativo está disponível na Play Store, para o sistema Android, e em breve terá versão iOS. Logado no Facebook, o usuário solicita um destino e verá opções de outras pessoas por perto que também querem seguir para o mesmo lugar naquele horário, havendo ainda a opção de calcular uma contribuição para o motorista, um auxílio para o combustível e, mais interessante, a possibilidade de novas amizades.

Ainda em fase de expansão, o Leve agora vai receber um novo incentivo, a partir de abril. Desta vez, o Startup-Rio (iniciativa público-privada do estado para fomentar a cultura do empreendedorismo) vai apoiar o trio de jovens empreededores digitais. Mas ainda há muito caminho pela frente, acredita Pedro: “Primeiro as pessoas precisam entender que é possível se locomover de outras formas cotidianamente, e que andar de carro sozinho não é a melhor delas”. Para que o Leve funcione a pleno vapor, com cada vez mais adesões, ele acredita, os hábitos devem mudar. “Andar de carro sozinho todos os dias é como um ter prédio com um elevador particular para cada pessoa. Quando as pessoas entenderem isso, o aplicativo cairá como uma luva”, conclui.

Como surgiu a ideia do aplicativo?
O Leve foi desenvolvido por mim e mais dois amigos, o Wylliam Lima, que é programador, e a Ticiana Hugentobler, que é administradora. A Ticiana sempre foi envolvida com a temática de mobilidade e sempre batemos muito papo sobre estas questões. E eu e Wylliam já trabalhavamos juntos há um tempo. Todos estávamos saturados quanto à questão do trânsito nas grandes cidades, e sabíamos desde o princípio que o aplicativo seria apenas o primeiro passo. Só que, na época, em abril do ano passado, os projetos digitais voltados para caronas eram apenas de caronas programadas, nos quais as pessoas podiam agendá-las ao longo da semana. Nós então pensamos que romper com isso poderia ser uma boa estratégia, porque o dia a dia das pessoas é dinâmico, elas deveriam poder pegar carona quando quisessem. Foi por isso que criamos um aplicativo através do qual as pessoas podem compartilhar carros e táxis em tempo real.

Como o Leve funciona?
É muito parecido com os aplicativos que servem para pedir táxi. Criamos sistemas de avaliações e conexão com redes sociais para que as pessoas se sintam mais seguras quanto à prática. Não tivemos como premissa o lucro, e sim a colaboração. A ideia do Leve sempre foi a de criar soluções tecnológicas para deixar o trânsito e a vida das pessoas mais leves. Temos questões culturais e legais muito fortes ligadas à prática da carona. O carro é um objeto de desejo consumista do brasileiro, que pensa que ele garante o seu conforto. Mas o trânsito só tem aumentado nos últimos tempos graças ao número de carros nas ruas e à infraestrutura que não acompanha esse número.

Vocês tiveram ou estão tendo algum apoio para o projeto?
Tivemos um pequeno financiamento inicial da FAPERJ para o desenvolvimento do aplicativo, sim. Agora, fomos contemplados pelo programa Startup-RIO e a partir do meio de abril receberemos um novo financiamento, mais expressivo. Seremos orientados por empreendedores de sucesso e trabalharemos num espaço de coworking com outras pessoas que também têm projetos em fase inicial.

Na Europa, alguns países já testaram ideias parecidas. Vocês se inspiraram em algum destes modelos?
Antes de começarmos construir o aplicativo passamos um bom tempo estudando muitos similares. A própria Ticiana ficou perto de alguns projetos idênticos quando fez intercâmbio na Europa. Nos Estados Unidos também existiam outros projetos semelhantes. Sem falar nos países em que a coisa é ainda mais bonita e o uso do aplicativo foi dispensado – nestes casos as pessoas compartilham carros entre si usando apenas o famoso dedão.

E como está na prática por aqui? O Leve tem tido muita adesão?
O aplicativo ainda foi pouco divulgado porque não temos tido dinheiro para isso. Fazemos o melhor possível com os recursos que temos e disponibilizamos o aplicativo para o uso das pessoas na versão Android. Para que funcione bem é preciso uma massa de gente considerável usando. Caso contrário, quem busca um carro para dividir não obtém resultados. Acreditamos que primeiro devemos encontrar uma forma de fazer as pessoas entenderem que é possível se locomover de outras formas cotidianamente, e andar de carro sozinho não é a melhor delas. Costumamos dizer, brincando, que andar de carro sozinho todos os dias é como um prédio com um elevador particular para cada pessoa. Fazendo as pessoas entenderem isso, o aplicativo cairá como uma luva.

A sua formação acadêmica ajudou você a desenvolver estas ideias?
Estudei muitas matérias na PUC-Rio para entender o design de modo bem abrangente, mas foi num lugar ímpar de lá que construí o meu desejo por mudanças positivas na sociedade – as aulas entre as árvores lideradas pela professora Ana Branco. Passei um bom tempo da minha formação aprendendo o que chamamos de design em parceria, que é como temos tentado desenvolver os nossos projetos atuais do Leve. Já fizemos testes com moradores de condomínios da Barra. Existem alguns em que os moradores pegam trânsito para sair das próprias garagens. Tentamos juntá-los em carros compartilhados para levar quem vai para o mesmo lugar no mesmo horário. Atualmente estamos testando outras hipóteses junto a estudantes da PUC.

E pessoalmente? Quando sentiu necessidade de partilhar carona?
Hoje em dia moro na Tijuca, no Rio, mas os meus pais moram em Niterói, onde passei a maior parte da minha vida. A saga do trânsito Rio-Niterói começou quando fui estudar na PUC-Rio e precisava atravessar a ponte todos os dias.

Você tenta usar o seu aplicativo, mesmo que ainda tenha poucos usuários?
Como não tenho carro, costumo compartilhar táxis frequentemente. Vez ou outra publico no meu Facebook para que amigos vejam e, quem sabe, se interessem em dividir o táxi, caso estejam perto. Porém, até hoje ainda não fui requisitado com um pedido de compartilhamento.

Já pensaram em expandi-lo para o resto do Brasil?
Primeiro pretendemos trabalhar até onde nossos braços alcançam. Queremos fazer algo bem feito, para o público que nos é próximo. Depois, pensaremos na expansão. Mas, sabemos que quando falamos de produtos digitais, o alcance sempre pode ser maior.


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Estudante niteroiense cria aplicativo para compartilhar caronas e facilitar mobilidade no trânsito

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