Patrícia Consorte, pediatra e especialista em nutrição materno-infantil

Na infância o estresse tóxico é extremamente perigoso para a saúde das crianças, podendo criar uma geração de adultos doentes, segundo Patrícia Consorte, pediatra e especialista em nutrição materno-infantil.

A médica explica os principais sintomas desse estresse e como evitá-lo. “Existem três tipos de estresse costumeiros na infância. O primeiro, de grau leve, é de curta duração e possível de ser regulado pelas próprias crianças, chamado de estresse positivo”.

“O segundo, tolerável, é mais intenso em grau e duração, capaz de impactar o sistema neuroendócrino dos pequenos – mas, também passível de ser lidado adequadamente com o suporte dos pais”.

“Já o terceiro, o tóxico, é o mais grave de todos, no qual devido a situações extremamente difíceis enfrentadas, a criança perde a capacidade de se autorregular. Com alta liberação de cortisol, seu desenvolvimento neurocelular é severamente comprometido, fato que pode levar à inúmeros problemas de saúde orgânicos, como obesidade, diabetes e, até mesmo, psicológicos, como depressão e ansiedade”.

O estresse tóxico pode ter inúmeras causas. As características mais comuns são a violência doméstica, abuso na infância, negligência, exposição à extrema pobreza, estupro, criações inflexíveis e, até mesmo, a sobrecarga de atividades, sem que tenham tempo para, realmente, serem crianças, brincar e se divertir. As crianças já podem ser expostas a ele, inclusive no ambiente intra-uterino, quando, na gravidez, as mães vivenciam os mesmos problemas ou similares, como violência doméstica ou excesso de trabalho.

“Neste cuidado, o papel do pediatra deve ser constantemente presente. Sua função é entender a fundo a rotina da criança, questionar os pais sobre isso, orientá-los sobre os principais cuidados com seus filhos e, principalmente, analisar a mãe, buscando entender se ela enfrentou depressão pós-parto, por exemplo. Qualquer mudança bruta de comportamento deve ser informada imediatamente ao médico e, acima de tudo, contar com um acompanhamento complementar de um psicólogo especializado – não apenas para as crianças, mas para toda a família”.

Os primeiro mil dias de um bebê são os mais importantes e merecem extrema atenção, uma vez que é o período no qual a criança terá seu maior desenvolvimento cerebral. Busque proporcionar tempo livre e de qualidade para as crianças. Seja brincando, entrando em maior contato com a natureza, diminuindo o tempo frente às telas, estabelecendo um horário para dormir e, praticando atividades físicas sem exagero. Tais ações, quando adotadas pelos pais e, favorecidas por políticas públicas de incentivo à educação, alimentação e moradia, são as melhores formas de prover uma infância saudável e evitar uma nova geração de adultos diabéticos, hipertensos, ansiosos e depressivos.

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Estresse na infância pode criar uma geração de adultos doentes, diz médica

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