(por Andréia Martins) – Cerca de 300 mil paulistanos usam a bicicleta para ir de casa para o trabalho ou para a escola diariamente, segundo uma pesquisa da prefeitura de São Paulo. Mas, usar a magrela para se locomover na capital paulista não é tarefa das mais fáceis. Motoristas não respeitam, não há ciclovias suficientes e você sempre pode ser surpreendido por um temporal no meio do caminho.

Wellinton Ricardo, o DJ Tom, é um desses 300 mil ciclistas, que tomou por hábito deixar seu Opalão na garagem e usar a bicicleta no dia-a-dia. Para ele, além de ser mais prático, é menos um carro na cidade. A prefeitura estima que só este ano os carros despejarão 32,458 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera paulista. Logo, a colaboração de Tom e outros ciclistas é mais que bem-vinda.

22 quilômetros

Diariamente, ele pedala pelo menos 22 quilômetros, contando apenas o trajeto de casa para o trabalho (do Imirim até a Galeria Ouro Fino, na rua Augusta, onde trabalha na loja de discos Rhythm Records) e do trabalho para casa. Se a cidade colabora com os ciclistas? “Nem um pouco”, diz Tom, que também não acredita nas promessas de ciclovias. “Acho que vai demorar e em ano de eleição, todo mundo fala muita coisa”, comenta.

Na bike, Tom carrega um case discreto pra tocar na noite, amarrado com elástico, e também uma mochila onde leva um “canivete” com várias chaves para consertar qualquer problema no veículo. Para evitar contratempos como a constante mudança de clima em São Paulo, ele guarda uma muda de roupas na loja, e assim, como ele mesmo diz, chega desarrumado e depois, “vira gente, pessoa de bem” ao trocar de roupa. Além disso, sua bike é equipada com farol, buzina, tudo para sobreviver ao trânsito caótico da capital.

Apuros

Apuros não faltam no dia-a-dia. Perto da Galeria, ele já se desentendeu com uma motorista, o que quase acabou na delegacia, e já foi atropelado por uma moto. Em outra ocasião, fez uma reclamação por email para o Jornal da Tarde para questionar a apreensão da bike de um colega, que estava amarrada num poste em frente à galeria.

“A síndica da galeria ligou para a subprefeitura dizendo que tinha uma bicicleta obstruindo a passagem dos pedestres e levaram a bike do cara sem avisar. Depois, queriam R$ 500 para liberar a bicicleta”, conta ele. A reclamação foi parar no jornal e, na resposta, o subprefeito argumentou que a apreensão se baseou na lei da Cidade Limpa. Ninguém entendeu nada. Hoje, no mesmo local que a bicicleta ficava, há um pipoqueiro que disse nunca ter tido problemas graves com a polícia, mas disse que a sindica gosta mesmo de dar dor de cabeça para o pessoal. Pelo menos com ele, até agora, ela ainda não mexeu.

A reclamação de Tom deu resultado e um grupo de ciclistas – o Bicicletada – se reuniu em frente à galeria para protestar contra a sindica. No final, a bicicleta foi recuperada sem que nada fosse pago, e hoje, Tom diz que pra evitar outra confusão deixa sua bike “estacionada” do outro lado da rua.

Cidade não ajuda

Sobre o espaço para bicicletas, tão incentivado pelo pessoal pró-meio ambiente, Tom diz que nesse quesito a cidade vai mal. “A maioria das ciclovias em São Paulo fica dentro de parques, mas também não sei onde dá pra construir ciclovias nessa cidade”, diz ele. Outro problema apontado por Tom é a falta de fiscalização. Na ciclovia da avenida Sumaré, ele conta que vê muitas motos invadirem o espaço. “Decidi usar a faixa deles também”, rebate. Sem contar a sinalização, que para Tom é “precária”.

Ah, e como um bom DJ, será que há uma trilha perfeita para andar de bike em São Paulo? “Eu carrego meu aparelho de MD no bolso com várias mixagens. Tem que ser um som que não faça você viajar tanto e nem te deixe tão acelerado, por que senão, você esquece o trânsito”. E aí colega, é perigo.


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DJ ciclista pedala para baladas e trabalho

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