(Por Camilo Rocha) Se tem um aspecto da campanha que nenhum candidato pode dispensar é a comunicação. Aliás, fazer campanha é essencialmente comunicar: uma imagem, um rosto, uma postura política, com quem faz alianças e, mais importante (embora às vezes não pareça), propostas! Um candidato sem comunicação basicamente não existe.

A cada eleição, exércitos de profissionais de rádio, televisão, mídia impressa e internet são recrutados para transformar em palavras convincentes e imagens sedutoras a plataforma política de um candidato.

Sem descanso

É um trabalho bem movimentado, segundo Fabio Bittencourt, que trabalha como assessor de imprensa para o candidato a prefeito do PT em Guarulhos, Sebastião Almeida. “Além de acompanhar o candidato em atividades de campanha, o assessor de imprensa recebe ligações de vários jornalistas, faz contato com redações, marca entrevistas com o candidato, responde perguntas por email e distribui a agenda do dia seguinte aos jornalistas.”

“Tem que estar à disposição o tempo inteiro para trabalhar”, conta Joel (nome fictício), que trabalha como redator de um candidato a prefeito de uma capital da região Norte. Durante esse período, não tem domingo, feriado ou horário de expediente. “Se o cara te acorda às 3 da manhã para editar umas imagens, você tem que ir,” confirma Oswaldo Santana, editor e diretor de vídeo com quatro campanhas nas costas, entre elas a de Roseanna Sarney para governadora do Maranhão.

Joel foi inicialmente contratado como redator, mas já teve que improvisar como repórter, diretor e cinegrafista. Ele também participa de discussões sobre a linha dos programas de TV e ajuda a criar pautas, sempre com uma mentalidade publicitária. “Tem que pensar que estamos vendendo uma Coca-Cola”, diz o jornalista.

Importando profissionais

O ritmo intenso do trabalho, quando o profissional praticamente tem que viver em função do candidato, é compensado pelos ganhos. “Se o profissional for experiente, a remuneração é boa”, diz Fabio.

Boa mesmo. “Em 40 dias de campanha, vou ganhar o equivalente a seis meses de trabalho em São Paulo”, conta Joel (nome fictício), Joel não revela valores exatos, só diz que será algo entre “R$ 20 e 30 mil”. Além disso, comida e hospedagem (geralmente em hotéis) são pagos por fora.

A falta de profissionais qualificados nas regiões Norte e Nordeste leva a uma “importação” em massa de gente do Sul e Sudeste. “Chega a faltar gente em São Paulo [na época de eleições], e isso pega mal no caso das emissoras de TV, tanto que depois não querem esse pessoal de volta”, conta Santana.

Banda em turnê

A aterrissagem desse contingente de gente de fora chama a atenção em cidades mais provincianas. Um diretor experiente nessa área, que não quis se identificar, define o clima: “Equipe em campanha é uma banda em turnê pela mesma cidade”.

“Lá no Maranhão, a gente ia nos bailes de reggae e anunciavam nossa presença: ‘vamos dar um alô para os videastas que estão fazendo campanha’”, ri Santana. O destaque que os profissionais da campanha ganham nem sempre é benéfico: “Rola muito ciúmes e até ameaças de morte, vindos do pessoal ligado aos adversários. Chegaram a colocar um bilhete por baixo da porta do meu quarto no hotel. Dizia: ‘Forasteiro, cuidado com o que você tá fazendo aqui.’”

E a postura ideológica?

Outro problema que pode aparecer nesse campo são as crises de consciência, quando a ideologia ou as opiniões do jornalista divergem das do candidato. Para Bittencourt, “se houvesse conflito ideológico, ou antipatia pelo candidato, com certeza eu não estaria trabalhando na campanha.”

“É complicado, mas você tem que se desligar disso. É pela grana que você está fazendo isso”, resume Joel, mais prático. “Toda campanha digo que vai ser a última, por causa dessa crise de consciência,” confessa Santana. “Mas você pensa no dinheiro, toma uma cachaça e logo esquece.”


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COMUNICAÇÃO é a essência de qualquer campanha

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