(Por Fabiana de Carvalho) – Os números são tristes e assustadores. Já são 83 mortos, milhares de desabrigados, quatro cidades em estado de calamidade e o estado inteiro em estado de emergência. Chove há quase dois meses em Santa Catarina, de forma quase ininterrupta.

As pequenas tréguas não são suficientes para permitir que o solo seque e que as águas escoem. As enchentes e suas conseqüências (principalmente deslizamentos de terra) foram chamadas esta semana pelo governador catarinense, Luiz Henrinque da Silveira, de “a pior catástrofe natural da história de Santa Catarina”.

Thatiana Sousa Sestrem mora no Centro de Balneário Camboriú, um dos municípios em estado de calamidade. Ela explica que a situação é ainda pior em Itajaí, que fica a apenas 10 quilômetros de distância, e onde vive muita gente que trabalha em Balneário. “A água está baixando lentamente, mas a situação ainda é crítica. Itajaí estava 90% alagada, agora está em 80%. Algumas pessoas já estão voltando para as suas casas, vendo o que sobrou”.

Mesmo não estando em um dos bairros mais afetados de Balneário, a casa de Thatiana também correu risco. Ela conta que a água chegou a entrar, mas não a ponto de provocar alagamento. “Ficou aquela sujeira toda de barro, mas, perto das tragédias que aconteceram por aí, até que não podemos reclamar”, avalia. Ela diz que alguns de seus vizinhos tiveram prejuízos bem maiores, e foram até retirados de suas casas pelos bombeiros. “Eles perguntaram se minha família queria sair, mas achamos que não corríamos tanto perigo”.

Blumenau

Blumenau é outra cidade que está sofrendo bastante com as chuvas. Fábia Werlich, de 31 anos, foi inclusive obrigada a deixar sua casa, no bairro de Vila Nova, depois que um barranco deslizou para cima de seu prédio. “Foi sábado à noite. A terra destruiu a garagem do prédio e invadiu oito apartamentos do condomínio”. As unidades do térreo ficaram totalmente soterradas, mas, felizmente, ninguém ficou ferido.

Ela está abrigada na casa do namorado, em Água Verde, um bairro que teve apenas alguns casos isolados de deslizamento, menos graves. “As vias principais já foram desobstruídas, ontem (24) fui ver como estavam as coisas lá no prédio. Voltei a trabalhar e, aqui, na Água Verde, está tudo funcionando bem”. No entanto, Fábia explica que muita gente ainda não conseguiu retornar ao trabalho e que as aulas em toda a cidade só devem ser retomadas na próxima semana.

Jaraguá do Sul

Por estar em um vale, cercada de morros e cortada por dois rios, em Jaraguá do Sul o problema maior não são os alagamentos, mas sim os deslizamentos de terra, que já mataram 12 pessoas. Nove delas na segunda-feira (24), quando duas casas foram atingidas, cada uma com uma família dentro. Embora os estragos sejam concentrados em uma parte da cidade, o clima é de comoção entre os 130 mil habitantes.

O jornalista esportivo Julimar Pivatto, de 29 anos, que mora no bairro Rio Cerro, foi ontem ao local da tragédia. “Ontem me arrisquei a sair e fui até lá. É horrível… principalmente ver o esforço do pessoal retirando os corpos. O clima está péssimo, é assunto em qualquer lugar que você vai”, lamenta. Ele não teve a casa atingida, mas está ilhado porque mora em uma zona rural, e os dois acessos que costuma usar estão bloqueados. Sem poder sair, está há dois dias trabalhando em casa.

Com previsão de que pelo menos um dos acessos seja reaberto até quarta, mas ainda sem muita certeza, os moradores de seu bairro enfrentam dificuldades. “Ontem tivemos problemas de falta de água no bairro e, à noite, ficamos sem telefone. Nem o celular pegava. O sinal foi restabelecido hoje de manhã, mas ainda tem gente aqui sem telefone e água”.

Também em Jaraguá do Sul (foto), mas muito mais próxima do ponto mais atingido, Kelly Erdmann, de 25 anos, conta que há muita gente traumatizada. Ela mesmo admite que fica assustada a cada vez que vê o tempo fechar e começa a ouvir mais trovões. “É triste demais, eu estou com esse choro preso desde sábado. É horrível…tu imaginas um local que tu passas todo dia e que é super movimentado. Aí, do nada…a rua simplesmente sumiu…o barro cobriu cinco terrenos. É aterrorizante!”.

Como está de férias, Kelly não precisa sair, e diz inclusive que tem evitado fazê-lo. “As equipes de resgate pedem para as pessoas ficarem em casa, mas sempre tem uns curiosos que vão ao local das tragédias e acabam atrapalhando”, comenta. Como mora no bairro mais afetado – Barra do Rio Cerro – ela é quase vizinha do ponto onde as duas famílias morreram na segunda-feira. Ao lado dessas residências, havia ainda duas concessionárias de veículos. “Os carros voaram para o outro lado da rua”, diz.

“Já há 4 mil casas atingidas, as escolas não estão funcionando e o transporte público está precário, porque muitas ruas estão inacessíveis”, conta. “Mais de 200 pessoas tiveram que deixar suas casas e estão sendo abrigadas por parentes ou amigos. Mas uma coisa bonita é que há bastante solidariedade, já estão chegando muitas doações”.

Ajuda

A internet tem sido uma ferramenta importante de orientação e ajuda durante esse período. O blog Por Acaso, que antes divulgava eventos e o que acontecia em Jaraguá do Sul, agora está inteiramente dedicado à cobertura do episódio, com dicas de como ajudar os desabrigados, informações sobre interdições de trânsito e até fotos e vídeos das regiões atingidas. Em Blumenau foi criado o blog Notícias de Blumenau, exclusivamente para acompanhar a situação crítica do município. A rede RBS também criou um site, onde moradores de diversas cidades publicam seus relatos e imagens. Para acessar, clique aqui.

Para quem quiser contribuir com os desabrigados de Santa Catarina, foram abertas três contas bancárias, todas em nome do Fundo Estadual da Defesa Civil (CNPJ: 04.426.883/0001-57). As contas são as seguintes:

Banco do Brasil – Agência 3582 – c/c 80.000-7
Besc – Agência 068-0 – c/c 80.000-0
Bradesco – Agência 0348-4 – c/c 160.000-1

Turismo

Apesar da situação no estado, a procura por pacotes de fim de ano em Santa Catarina não caiu, segundo duas agências consultadas pelo Virgula. Carlos Fernandes, da Nexus Turismo, explica que nenhuma recomendação foi feita pelas autoridades, pedindo que a região fosse evitada. Ainda assim, caso as chuvas não cessem, ele diz que os operadores devem sugerir outros destinos aos clientes. Já Ana Christina Cavalcante, da Click Viagem, diz que as vendas seguem normalmente, e que a maior procura por Santa Catarina costuma acontecer em dezembro, para pacotes de reveillon. “A principio não estamos fazendo nenhuma observação. Não há recomendação do governo e/ou da Embratur”, acrescenta.

Foto de Piero Ragazzi / O Correio do Povo

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