Quase 20 anos após o lançamento de Trainspotting, o escritor escocês Irvine Welsh lançou Skagboys, uma prequela que conta como os protagonistas do best seller entraram no mundo das drogas nos anos 80, década a partir da qual “tudo se paralisou e ficou mumificado”.


O livro deve ser lançado em agosto no Brasil pela editora Rocco. O romancista e dramaturgo decidiu retomar agora a uma época que considera “fundamental para a conformação de seu país e que em nível político e econômico, tudo continua praticamente igual”.

Welsh explicou, em uma coletiva no Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona, que já fazia “muito tempo que queria escrever sobre os 80”, porque foi quando começou “a economia neoliberal, o desemprego, as drogas e a maciça redistribuição da riqueza entre os mais ricos”, uma situação que o faz acreditar que desde então “tudo se paralisou e ficou mumificado”.

Considerando esse contexto, Welsh se deu conta de que os personagens de Trainspotting eram “ideais” para fazer a análise da época, o que fez o autor decidir retomar todas as notas e o material que tinha escrito no processo de criação de sua estreia literária.

Mesmo com o passar do tempo o romance do escocês mantém sua força arrasadora, agora misturada com mais consciência política e carga social.

Trata-se, segundo o editor da Anagrama (que publicou “Skagboys” na Espanha), Jorge Herralde, de um “livro polifônico contado por meio de monólogos do grupo”, que mostra um “frescor demolidor de um país conduzido ao desastre pelas políticas neoliberais e o não-futuro dos punks”.

Com as políticas da Dama de Ferro como cenário de fundo, as greves de mineradores e o aumento do desemprego em um ritmo enlouquecido, a heroína começa a correr pelas ruas de Edimburgo e levar pela frente a vida de seus jovens.

“Para eles, cair na heroína significava se sentir parte de alguma coisa”, disse o escritor, que descartou que suas ações respondessem a um espírito suicida, por serem mais fruto de uma “loucura por terem achado uns aos outros”.

Este é um dos motivos pelos quais Renton e Sick Boy, dois dos protagonistas do romance, entram nas drogas e começam uma das relações mais destacadas de toda a obra, que vai amadurecendo com o passar do tempo.

“É uma amizade que te arrasta para um mundo destrutivo; no final são relações que ou você acaba com elas ou elas acabam contigo”.

Questionado sobre a comparação entre os jovens descritos no livro e os de hoje em dia, Welsh afirmou que não é a juventude que mudou, mas os “problemas que enfrentam”.

Neste sentido, criticou que os jovens “percam a oportunidade de consumir cultura local, por estarem concentrados demais em produzir cultura global”, o que negaria a existência hoje em dia de um movimento “punk” como o houve na década de 80.

Welsh considera que atualmente as coisas “não têm tempo de serem incubadas” onde nasceram e prevê que chegará um momento em que os “jovens se saturarão da era digital e voltarão a olhar para o analógico”, pois precisarão de material local para “falar de seus problemas e suas vidas”.

Além disso, Welsh mostrou condescendência com os jovens que roubam seus livros da biblioteca ou das livrarias, porque “mantém esse espírito mais underground”.

Welsh explicou que a possibilidade de levar “Skagboys” para o cinema já foi estudada.

Por enquanto, Welsh está em tour com o lançamento de “Skagboys” e acaba de lançar outro romance, “As vidas sexuais das gêmeas siamesas”.


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Autor de 'Trainspotting' lança prequela e diz que anos 80 mumificaram tudo

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