(Por Camila da Rocha Mendes) – Com a onda de demissões que parece estar se formando em todo o mundo, incluindo aí também o Brasil, o desemprego volta a assombrar a economia. Nos Estados Unidos, centro da crise global, as demissões chegaram a seu maior nível em mais de sete anos, com 186 mil vagas cortadas na economia em novembro. No total, os EUA já foram anunciadas mais de 1 milhão de demissões. Os dados são da consultoria Challenger.

Nesta semana, a questão foi ainda mais debatida, na medida em que dezenas de grandes empresas anunciaram cortes em seus quadros de funcionários. No plano externo, um dos maiores e mais renomados bancos de investimento do mundo, o Credit Suisse, confirmou a demissão de 5,3 mil funcionário após ter registrado um prejuízo de 5,3 bilhões de francos suíços no quarto trimestre fiscal deste ano.

Brasil

A gigante da mineração mundial, a brasileira Vale anunciou o corte de 1,3 mil empregados (20% nas instalações de Minas Gerais e o restante de operações no exterior), causando preocupações – e especulações – no mercado. O setor de construção civil, que vinha de um período de extremo crescimento, deve fechar o ano contabilizando 100 mil postos de trabalho eliminados, segundo O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP).

Em entrevista à Agência Brasil, órgão vinculado ao governo federal, o presidente da entidade, Antonio de Souza Ramalho, afirmou que cálculos feitos pelos técnicos do sindicato revelam que construtoras e outras empresas do ramo, que empregavam até o mês de outubro 2,1 milhões de pessoas, devem chegar ao fim do ano tendo dispensado 4,7% dos seus trabalhadores, o que perfaz quase 100 mil trabalhadores.

Enquanto isso, outro setor, que assim como a construção civil também sofre com as restrições de crédito, procura minimizar os efeitos da crise. "As montadoras vão fazer o máximo para que isso não ocorra, tanto que várias delas estão utilizando cada vez mais medidas trabalhistas para saírem fora desta questão", afirmou em coletiva de imprensa o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider. No mês passado foram demitidas 480 pessoas, sendo 378 do segmento de automóveis e 102 de máquinas agrícolas.

Governo: divergências

Apesar dos números recordes de geração de empregos formais registrados neste ano, o desemprego deve crescer em 2009 em decorrência da crise. A previsão é do ministro Carlos Lupi (Trabalho), em entrevista a Julianna Sofia, publicada na Folha de São Paulo da quinta-feira (4). Lupi afirmou que "somente a redução das taxas de juros, agora, pode atenuar o cenário".

Até agora os números são de fato bons: nos dez primeiros meses de 2008, verificou-se a criação de 2.147.971 postos de trabalho (7,42%), saldo que se revelou o maior da série histórica para o período, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, tentou amenizar as declarações do colega dando entrevista para a imprensa em Brasília, também na quarta-feira, antes de evento de sindicatos. "Vamos tomar todas as medidas para tentar ao máximo evitar desemprego. Temos instrumentos para diminuir quantidade de desemprego", disse a ministra.

Ela admitiu que o governo precisa "destravar" o crédito para poder negociar com empresários medidas que evitem demissões. "O governo tem conversado com empresários, no sentido de manter a produção e o crédito. Agora, tem de destravar essa questão do crédito para poder, de fato, ter uma conversa nesse nível com os empresários", explicou a ministra.
 


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Crise desperta mais um fantasma: o desemprego