(Por Camila da Rocha Mendes) Os efeitos mais imediatos da turbulência global – causada pela crise norte-americana – serão vistos no Brasil no mercado de câmbio e de ações. O dólar, que subiu 17,9% para R$ 1,9 só no mês de setembro, reflete a crescente aversão ao risco entre investidores.

Em meio aos problemas, investidores procuram vender ações, o que resulta no recuo das Bolsas, e adquirir ativos considerados mais seguros, como o dólar. Além disso, a crise traz a perspectiva de que as exportações brasileiras diminuirão neste ano, reduzindo a entrada de recursos estrangeiros no País. Uma oferta menor unida a uma procura maior pressiona a moeda norte-americana a subir.

Importados mais caros

Dessa forma, produtos importados ficam mais caros, aumentando a pressão inflacionária. “No varejo deveremos observar a alta nos preços de produtos eletrônicos, já que muitos são importados”, observa o Luiz Rabi, economista chefe da MCM Consultores. 

Outro ponto que pode pesar no bolso são os preços de viagens internacionais. “Como o dólar estava abaixo de R$ 1,60 há dois meses, muita gente estava planejando férias de final de ano no exterior, o que deve ficar mais caro”, avalia Luiz Rabi.

Já Cristiano Souza, economista do Banco Real, explica que a tendência de alta do dólar não é novidade, e a moeda deve recuar um pouco até o final do ano, mas permanecer em patamar elevado, a R$ 1,80. “A recente disparada foi momentânea e ocasionada pelas desconfianças geradas com a rejeição do pacote de ajuda nos EUA”, esclarece.

A divisa norte-americana já apresentava valorização contra o real antes da crise se intensificar, por conta do déficit nas transações correntes do Brasil. As transações correntes são todas as trocas de bens e serviços do País com o exterior e seu saldo negativo mostra que a economia interna está consumindo mais do que vendendo. E esse déficit tende a se agravar com a crise, uma vez que a América do Norte e a União Européia, importantes mercados consumidores, podem entrar em recessão.

Menos promoções de Natal

Além disso, os bancos brasileiros devem começar a ser mais rigorosos na concessão de financiamentos tanto para a indústria quanto para o consumidor, numa tentativa de se proteger de eventuais dificuldades causadas pelo cenário incerto da economia. “O primeiro canal de contágio (em relação à situação no exterior) será o crédito”, alerta Cristiano Souza.

A restrição ao crédito desaquece a economia, uma vez que, com menos recursos, as indústrias podem adiar ou cancelar projetos de expansão. Ao mesmo tempo, com mais dificuldade em obter e pagar empréstimos, o consumidor pode desistir de adquirir bens mais caros. Sendo assim, com a perspectiva de um menor volume de vendas e de um aumento na taxa de câmbio, o natal deve vir com menos promoções do que no ano passado, avalia Luiz Rabi.

Efeitos no longo prazo

“Os efeitos desta crise na economia real, ou seja no lado não-financeiro, ficarão mais evidentes a partir do ano que vem”, prevê Luiz. Segundo ele, a economia desaquecida pode ocasionar uma menor oferta de vagas no mercado de trabalho. “Os jovens que estão se graduando na universidade agora devem encontrar mais dificuldades para conseguir o primeiro emprego”, alerta o economista.

Com uma visão mais otimista, Cristiano, do Banco Real, afirma: “A crise internacional terá impactos negativos no Brasil, mas não serão tão intensos como em outros países”. Então, para ele, não existem ainda sinais de que o mercado de trabalho ou a inflação possam sofrer um abalo mais severo.


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Como a crise global pode afetar o bolso do brasileiro