(Por Camila da Rocha Mendes) Após a queda generalizada das Bolsas de Valores nesta segunda-feira (29), ocasionada pela rejeição do pacote de ajuda financeira nos Estados Unidos, o mundo todo se pergunta: e agora?

A crise demonstrou que tem força para derrubar bancos centenários e já se expandiu para outros continentes – ontem, instituições financeiras da Europa tiveram que ser socorridas pelos governos para não falirem. Autoridades de todo o mundo reconhecem a severidade dos problemas e se demonstram dispostas a atuar para conter maiores estragos.

Com o pacote barrado no Congresso dos EUA, a desconfianças aumentam no mercado financeiro. O presidente dos EUA, George W. Bush, voltou à TV nesta terça-feira (30) para dizer que a demora na aprovação do plano de ajuda ao setor financeiro, de US$ 700 bilhões, poderá piorar a cada dia a situação de crise no país. O presidente disse que a queda "dramática" vista nas Bolsas ontem terá um impacto direto em todos os setores da economia americana. "Se continuarmos nesse rumo, o estrago econômico será muito grande", disse.

Por que empacou?

O principal motivo para o projeto não ter sido aprovado está em questões políticas. “As medidas previstas no pacote são impopulares”, afirma Cristiano Souza, economista do Banco Real. A população não aceita que os US$ 700 bilhões, dinheiro público que provém de impostos, sejam utilizados para socorrer bancos que foram imprudentes.

Pesquisas, como a realizada pelo jornal USA Today, revelam que apenas cerca de um quarto dos norte-americanos apoiava a medida. Em ano de eleições no país, muitos parlamentares se preocupam ainda em mais em agradar a opinião pública, aumentando o impasse em relação ao pacote.

Contudo, Bush já confirmou que se empenhará ao máximo para chegar a uma solução e as discussões em torno do tema devem prosseguir. O pacote pode ser revisto e modificado, mas é consenso de que a atuação do Executivo é essencial para amenizar os impactos da crise. Até membros da oposição ao governo, como o líder da maioria democrata na Casa dos Representantes Steny Hoyer, já afirmaram que pretendem votar um novo projeto até o fim desta semana.

“O pacote pode até ser impopular, mas é necessário”, afirma Souza, do Real. Para ele, a aquisição dos ativos podres é essencial, pois ataca o centro dos problemas. “Estes ativos não encontrarão compradores no mercado, a única solução é o governo livrar os bancos deles”, explica.

Perspectivas

O economista vê no pacote uma solução global e mais eficaz. Caso as medidas de ajuda não sejam aprovadas, resta ao governo norte-americano atuar caso a caso, o que nem sempre se demonstra suficiente. “Se mais instituições financeiras começarem a apresentar problemas, pode ser que a Casa Branca não tenha mais recursos para socorrê-las”, pondera.

A rejeição ao pacote financeiro aumenta a desconfiança de agentes de mercado. “Voltamos ao cenário de duas semanas atrás, pois investidores temem que mais instituições quebrem”, avalia Souza. As incertezas quanto ao futuro financeiro dos EUA aumentam o nervosismo em todo o mundo e a conseqüência é uma maior volatilidade nos mercados. Ou seja, a previsão é de que oscilações acentuadas na Bolsa e no câmbio continuem ocorrendo no curto-prazo.

Porém, Souza alerta: “não há solução imediata”. Se for sancionado, o pacote pode conter a deterioração no mercado financeiro, mas a crise norte-americana já está presente na economia real. Indicadores de consumo e crescimento, assim como de inflação, demonstram que o país está em desaceleração preocupante.


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Após queda histórica nas Bolsas, como fica situação nos EUA?