Exposição sobre línguas indígenas de museu em SP está nas últimas semanas (Foto: Ciete Silvério)

A exposição Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação fica em cartaz até o dia 23 de abril no Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Governo de São Paulo. Desde a sua abertura, em outubro de 2022, a mostra, que fala sobre as línguas e culturas dos povos originários do Brasil, já atraiu mais de 145 mil visitantes.

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Com curadoria da artista, ativista, educadora e comunicadora indígena Daiara Tukano, a exposição propõe ao público uma imersão nas cerca de 175 línguas indígenas que existem e resistem no país desde o início do processo colonial e em meio a conflitos de terra, que ainda têm ameaçado a sobrevivência dos povos originários. A Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação busca mostrar outros pontos de vista sobre os territórios materiais e imateriais, histórias, memórias e identidades desses povos, trazendo à tona suas trajetórias de luta e resistência, assim como os cantos e encantos de suas culturas milenares.

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Contando com a participação de cerca de 50 profissionais indígenas – entre cineastas, pesquisadores, influenciadores digitais e artistas visuais como Paulo Desana, Denilson Baniwa e Jaider Esbell –, a mostra também conta com a consultoria especial de Luciana Storto, linguista especialista no estudo de línguas indígenas; e coordenação de pesquisa e assistência curatorial da antropóloga Majoí Gongora, em diálogo com a curadora especial do Museu da Língua Portuguesa, Isa Grinspum Ferraz. A abertura da exposição marcou, no Brasil, o lançamento da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032), instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) e coordenada pela UNESCO em todo o mundo.

Em janeiro, o Museu da Língua Portuguesa lançou uma versão virtual e gratuita de Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação (https://nheepora.mlp.org.br/), por meio da qual o visitante, em qualquer lugar do mundo, pode explorar o conteúdo da exposição. Há ainda disponível, também gratuitamente, uma série de materiais educativos e de pesquisa para download, incluindo um e-book contendo mapas produzidos exclusivamente para a mostra, por exemplo.

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O projeto conta com a articulação e o patrocínio máster do Instituto Cultural Vale, o patrocínio do Grupo Volvo e da Petrobras, e o apoio de Mattos Filho – todos por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta, ainda, com a cooperação da UNESCO, no contexto da Década Internacional das Línguas Indígenas, e das seguintes instituições: Instituto Socioambiental, Museu da Arqueologia e Etnologia da USP, Museu do Índio da Funai e Museu Paraense Emílio Goeldi.

O convite para conhecer as línguas faladas pelos povos indígenas e as transformações decorrentes da invasão colonial é também um chamado para experimentar outras concepções de mundo, e começa no próprio nome da exposição que vem da língua Guarani Mbya: nhe’ẽ significa espírito, sopro, vida, palavra, fala; e porã quer dizer belo, bom. Juntos, os dois vocábulos significam “belas palavras”, “boas palavras” – ou seja, palavras sagradas que dão vida à experiência humana na terra.

A EXPOSIÇÃO
A exposição tem uma lógica circular, não importando onde é o começo ou o fim. Atravessando todo o espaço, o visitante encontrará um rio de palavras grafadas em diversas línguas indígenas, criando um fluxo que conectará as salas em um ciclo contínuo. Num dos possíveis pontos de partida, na sala “Terra é Viva” o visitante se depara com uma floresta de línguas indígenas representando a grande diversidade existente hoje no Brasil. Nessa floresta, o público poderá conhecer a sonoridade de várias delas.

A sala ao lado, “Língua é Memória”, traz à tona históricos de contato, violência e conflito decorrentes da invasão dos territórios indígenas desde o século 16 até a contemporaneidade, problematizando o processo colonial que se autodeclara “civilizatório”. Neste ambiente, outras histórias serão contadas por meio de objetos arqueológicos, obras de artistas indígenas, registros documentais, mapas e recursos audiovisuais e multimídia. As transformações das línguas indígenas são tratadas em conteúdos que exploram a resiliência, a riqueza e a multiplicidade das formas de expressão dos povos indígenas.

Na sala “Palavra tem poder”, o público conhecerá a pluralidade das ações e criações indígenas contemporâneas a partir de seu protagonismo em diferentes espaços da sociedade, a exemplo de sua atuação no ensino, na pesquisa e nas linguagens artísticas. Os conteúdos estão distribuídos em nichos temáticos, entre eles destacamos os filmes do “Ninho do Japó”, sala de projeção com exibição de produções de autoria indígena.

Ao acompanhar o percurso do rio, os visitantes alcançam um quarto ambiente, noturno, intitulado “Palavra tem espírito”, que permite o contato com a força presente nos cantos de mestres e mestras das belas palavras. O rio que percorria o chão da exposição, agora sobe a parede como uma grande cobra até se transformar em nuvens de palavras – preparando a chuva que voltará a correr sobre o próprio rio, dando continuidade ao ciclo.


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Exposição sobre línguas indígenas de museu em SP está nas últimas semanas