Alê Monteiro expõe ao Virgula face “oculta” do marketing sobre gordofobia (Foto: Instagram/Alê Monteiro)

Autêntico e sem medo! Duas características que definem bem a personalidade de um dos maiores diretores de arte do Brasil na modernidade. Alê Monteiro contou ao Virgula mais sobre a repercussão de seu desabafo sobre homossexualidade e gordofobia e expôs a outra face do mercado publicitário, aquela “oculta”, que ninguém vê, ou finge que não vê.

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“Eu trabalho com audiovisual desde os 14 anos e eu entendo como funciona o mercado. Que são campanhas publicitárias, desfiles, etc, com padrões inatingíveis de beleza para justamente nos deixar inseguros”, dispara logo na resposta da primeira pergunta.

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Para Alê, quem se sente muito seguro no meio da publicidade tem a capacidade de se sobressair exatamente pela insegurança dos demais, algo que com ele já deixou de funcionar faz tempo. “Pessoas livres preocupam pessoas que se interessam em ter pessoas presas para enriquecer cada vez mais das suas inseguranças. Eu sou um prato muito indigesto para pessoas de paladar monolítico”.

O diretor explica que o preconceito nada tem a ver com a classe social, está intrínseco na questão educacional e comportamental. “O preconceito existe e não é sutil, é violento! Eu vivo num mercado totalmente preconceituoso, que para mascarar, coloca uma gorda na campanha publicitária, mas não contrata uma vendedora gorda. Muita hipocrisia. Sinto que sou tolerado, não digo nem aceito, por ser milionário”.

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Alê não vive aquém do que vê, mas além. “Eu sinto que sou privilegiado e uso meu lugar de destaque para dar voz as minorias e encorajar as pessoas a serem elas mesmas. A autenticidade é importante pro mundo e para a vida. Vivemos em pessoas fabricadas em série, que fazem trends, que faz a mesma dança o mesmo penteado e a mesma maquiagem e fazem procedimento para ter o rosto igual”.

Acompanhe abaixo a entrevista na íntegra com o diretor de arte Alê Monteiro.

Virgula: Qual foi o estopim para você virar a chave e se aceitar como é, procurando ser feliz sem se importar com o que os outros pensam?
Alê Monteiro: Eu trabalho com audiovisual desde os 14 anos e eu entendo como funciona o mercado. Que são campanhas publicitárias, desfiles, etc, com padrões inatingíveis de beleza pra justamente nos deixar inseguros. Um mercado que vive e lucra com a insegurança alheia. Pessoas que se aceitam param de consumir produtos que não precisam porque sabem quem são e o mercado se alimenta de pessoas que não têm opinião sobre nada e nem sobre si mesmas.
Acho que liberdade incomoda. Pessoas livres preocupam pessoas que se interessam em ter pessoas presas para enriquecer cada vez mais das suas inseguranças. Eu sou um prato muito indigesto para pessoas de paladar monolítico.
Virgula: Recentemente você declarou um faturamento de 8 milhões da sua empresa. Sente que o mercado também é preconceituoso ou não?
Alê Monteiro: Eu sinto que sou privilegiado e uso meu lugar de destaque para dar voz as minorias e encorajar as pessoas a serem elas mesmas. A autenticidade é importante pro mundo e para a vida. Vivemos em pessoas fabricadas em série, que fazem trends, que faz a mesma dança, o mesmo penteado e a mesma maquiagem e fazem procedimento pra ter o rosto igual. O preconceito existe e não é sutil, é violento! Eu vivo num mercado totalmente preconceituoso que para mascarar colocam uma gorda na campanha publicitaria, mas não contrata uma vendedora gorda… muita hipocrisia. Sinto que sou tolerado, não digo nem aceito, por ser milionário.
Virgula: Redes Sociais ajudam a disseminar ou diminuir o ódio sobre minorias?
Alê Monteiro: Acho que tudo depende de como se usa e como se consome. Na era digital tudo se dissemina com maior facilidade, porem é muito mais fácil de se consumir ódio, porque as pessoas se sentem bem com o mal-estar alheio, se sentem melhor. Facebook, Twitter, Instagram… eles transformaram a gente numa sociedade de perseguidores. E nós adoramos.
Virgula: Qual a maior dificuldade que enfrentou na vida? E no trabalho?
Alê Monteiro: Acho que ser gordo e ser gay é uma jornada muito solitária. O meu trabalho e meu pessoal sempre foi marcado por micro humilhações de pessoas que falam e fazem você acreditar que alguns lugares não são para voce. Sempre trabalhei pra deixar as pessoas mais bonitas e felizes com elas mesmas. E acho que foi nesse processo de curar que também me curei. Eu passei 25 anos da minha vida sem me olhar, sem me achar bonito.
Virgula: Qual a mensagem para quem também é gordo e gay e sofre com isso na vida e no trabalho?
Alê Monteiro: Demorei muito para entender que a aceitação tem que vir de dentro. De entender que somos únicos, e que ninguém deve se comparar com ninguém. A verdadeira beleza é da pessoa ser feliz de ser quem é. Admirar nossas cicatrizes, e entender que insegurança é normal, mas que não deve ser determinante. Eu só tô tentando achar a autoestima que roubaram de mim durante meus 32 anos, dizendo e impondo como deveria ser e como eu deveria fazer. Eu me permiti ser livre.

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Alê Monteiro expõe ao Virgula face "oculta" do marketing sobre gordofobia