O rapper Emicida, que faz nesta quarta-feira (11), o segundo e último show de lançamento do seu primeiro álbum O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui (Laboratório Fantasma) defendeu em entrevista que a música independente brasileira precisa romper com o cenário atual.
“A gente tem que sair do mundinho de que a música independente do Brasil é meia dúzia de banda de rock e o Fora do eixo. A gente tem um panorama cultural imenso e enquanto a gente não ver isso como um todo vai ficar nessa discussão aí. Porque se quando você pensa na música independente brasileira vem na sua cabeça edital, Fora do Eixo e banda de rock, você não sai na rua, você não vive a rua”, afirmou ele no fim do mês passado, em conversa que participaram, além da reportagem do Virgula Música, jornalistas da revista Trip e dos sites do Na Mira do Groove e RockinPress.
“O que esses três pontos (edital, Fora do Eixo e banda de rock) movimentam anualmente não chega a 30% do que se se você pegar o forró, o tecnobrega, o pagode, o funk. Acho que conversa tá indo pro lado errado, como se o Fora do Eixo fosse a única opção na vida de todas as pessoas. A conversa deve ser como a música independente se encontra”, avaliou o rapper.
Nascido Leandro Roque de Oliveira, há 28 anos, ele falou também que não teme perder público por em seu disco apresentar uma postura aberta em relação ao rap tradicional, abrindo espeço para referências do samba, MPB, rock, cultura popular, entre outros gêneros e costurando parcerias com nomes como as cantoras Pitty, Tulipa Ruiz, Juçara Marçal, o bamba Wilson das Neves, MC Guimê, do funk ostentação. A produção do álbum é de Felipe Vassão, do estúdio Loud, e que surgiu no meio do rock alternativo.
“Eu tenho uma preocupação de perder os fãs de verdade. Eu tenho um apreço muito grande por essas pessoas. Elas estavam no Saravejo (casa noturna de São Paulo) comigo quando iam 30 pessoas me ver”, afirmou.
“Tem dois pontos: quando você cresce muitas pessoas começam a julgar você pelos que elas acreditam que você passou a fazer e não pelo que você tem realmente feito. E elas podem se desligar do acompanhamento da sua carreira. Mas essas pessoas não eram fãs de verdade da sua música. Elas eram fãs de um símbolo que era mais cômodo ver no underground. Só que o underground só é cômodo para espectador, sacou?”
Em seguida, ele resumiu a história. “Eu quero um público apaixonado por música, que tenha sensibilidade para entender o que estou fazendo, poeticamente falando.”
Na entrevista, ele também revelou que faixa polêmica, Trapadeira, que inclusive motivou um protesto de feministas no show de terça-feira no Sesc Pompeia, foi composta com ajuda involuntária de Tom Zé. O curioso é que Tom Zé também foi vítima do que o baiano chamou de “tribunal do Facebook”, termo que inclusive foi usado pelo músico para batizar seu mais recente EP.
“É um flerte com a ficção, mas nós somos o rap. Vai doer em nós. Tem esse negócio, tudo que não for pautado na realidade dura das ruas é tido como um amolecimento na postura, na ideologia, quando minha luta é por liberdade acima de qualquer outra coisa. Não quero virar refém dos temas que já cantei e nem das pessoas que me escutam”, argumentou.
“Tenho que me manter livre para criar música que eu considere relevante. E sou muito feliz de ter composto essa música e demorou, viu? Porque é nome de planta até umas horas e ninguém ajudou. Só o Tom Zé, mas sem saber. Porque eu fui lá e ele tava cuidando das plantas, ele ficava falando os nomes de cada uma e eu só aqui. O Tom Zé foi o primeiro que eu mostrei essa música e ele chapou. Ele falou um bagulho… falou que eu era o cão do segundo livro. Elogio do Tom Zé (risos).”
SERVIÇO
Emicida faz o show de lançamento de O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui no Sesc Pinheiros, nesta quarta-feira, 11, com participações especiais de artistas que estão no disco: Pitty, Juçara Marçal, Rael, Wilson das Neves, Tulipa Ruiz e Quinteto em Branco e Preto.
Rua Paes Leme, 195 – Pinheiros
Ingressos: R$ 32 (inteira), R$ 16 (meia)