O especialista em efeitos visuais Jay Worth é homem de confiança de J.J. Abrams, criador da série Lost e diretor dos próximos episódios de Star Wars. Trabalhando há oito anos na produtora do cineasta, a Bad Robot, Worth supervisionou efeitos de programas bacanudos como Alias, Undercovers, Alcatraz, Fringe e o próprio Lost. Seu mais recente desafio é dos grandes. Ele está colaborando com ninguém menos que Alfonso Cuarón – vencedor do Oscar de melhor diretor por Gravidade – em uma nova série, Believe (Warner Channel).
Em teleconferência com jornalistas, Worth falou sobre trabalhar com Cuarón, criador e diretor da série, e J.J. Abrams, produtor executivo. “Poder colaborar com Cuarón foi um sonho virando realidade; ele é um dos mais incríveis diretores da atualidade. Me lembro de que, quando soube do projeto, me senti muito privilegiado”, disse o artista gráfico, que considera o nível de exigência do diretor mexicano seu maior desafio.
Believe, que estreou no Brasil pela Warner Channel na última quarta-feira (19), acompanha a história de uma menina, Bo (Johnny Sequoyah), que possui dons sobrenaturais à la X-Men (controle da natureza, previsão do futuro, telecinese e coisas do tipo). Depois da morte de seus pais, um grupo de pessoas passa a persegui-la. Para protegê-la, um homem condenado à morte, Tate (Jake McLaughlin), é libertado da prisão e recebe a missão de acompanhar a menina.
Leia, aqui embaixo, a entrevista com Jay Worth, em que ele deu detalhes sobre seu trabalho:
Você se sente pressionado por trabalhar com Cuarón, não só ganhador do Oscar de melhor diretor, mas também um perito em efeitos especiais?
Absolutamente. Mas é uma oportunidade incrível, e ele foi o principal motivo pelo qual quis fazer esta série. Eu tenho o privilégio de trabalhar na Bad Robot há oito anos e me tornei supervisor de efeitos especiais em 2008. Pude trabalhar com diretores fantásticos, como Alfonso, J.J. Abrams e Jon Favreau. Em termos de efeitos visuais, todos eles trazem um nível de conhecimento que você não tem em séries de televisão normais ou com diretores normais de TV.
Como exatamente foi essa colaboração com Cuarón?
Ele esteve envolvido desde o princípio. Nós conversamos muito. Começamos com a preparação para a sequência de abertura do piloto, imaginando como amarraríamos tudo. Foi uma desafiadora tomada contínua, sem cortes, de três minutos. Alfonso sabe exatamente o que quer e sabe quando vê isso. Ele é muito aberto para colaborar, dizendo como as coisas devem parecer. Ele esteve em Los Angeles durante a pós-produção, fazendo de tudo. Trabalhar com ele foi um sonho virando realidade. Ele é um dos mais incríveis diretores da atualidade.
Qual é a diferença entre produzir efeitos especiais para cinema e produzi-los para a televisão?
A diferença principal está no tempo que temos disponível e no volume de trabalho. Em um filme, você tem alguns meses ou até mesmo anos para trabalhar. Em uma série como Believe, você tem apenas de uma a três semanas para ter as cenas desenvolvidas, finalizadas e aprovadas.
Ha algo que distingue Believe de outras séries sobrenaturais, em termos de efeitos visuais?
Nós sempre nos empenhamos para alcançar um visual orgânico. Foi a mesma coisa em Fringe. Apesar de mostrarmos coisas fantásticas, temos de estar fundados em algum tipo de realidade para passar credibilidade. Pegamos referências do YouTube, da tecnologia, da ciência. Sempre tentamos encontrar algo que seja a base. Nós vemos como a coisa realmente funciona e, depois, exageramos um pouco ao criar o efeito.
Há algum efeito que te surpreendeu positivamente quando você viu na pós-produção?
O nível de detalhamento das borboletas do episódio piloto. Há uma cena que mostra uma borboleta de perto, sobre um vidro. É a cena preferida em que tive a oportunidade de trabalhar. Essa cena foi muito melhor do que eu poderia ter imaginado.
Qual foi o efeito especial mais difícil de desenvolver para o episódio piloto?
Foi a tempestade de pombos. Eu tinha de descobrir como fazer um tornado rodopiante de pombos que parecesse orgânico. Fizemos muitas versões, tentando achar o movimento correto, as cores, a velocidade. Teve muita pesquisa, muito desenvolvimento e muitas simulações envolvidos.
Qual é o principal atrativo da série? O que diria a uma pessoa para convencê-la a ver o programa?
Para mim, acho que tudo acaba se resumindo aos relacionamentos. Acho incrível a habilidade de Cuarón de captar as emoções dessa garota em seu envolvimento com Tate. Os relacionamentos são o centro de tudo o que fazemos para contar a história. Os elementos sobrenaturais se somam a isso, mas são só uma parte de história.
Em uma palestra, George Lucas pediu a novos cineastas que não se apaixonem pelas novas tecnologias. Ele acredita que elas têm sido usadas em excesso. Você concorda?
É como eu disse: os efeitos visuais servem para ajudar a contar histórias. As novas tecnologias são apenas uma ferramenta na caixa de ferramentas. Se as pessoas começam a confiar nelas em excesso e acabam ofuscando a história, isso não é bom. Eu sempre procuro por ferramentas melhores para continuar a contar boas histórias. Uma vez que essas ferramentas continuam a melhorar, eu não me preocupo. Definitivamente, porém, há a ideia de que o velho jeito de se fazer as coisas ainda é melhor. Se temos de explodir um carro, prefiro que ele seja explodido de verdade. Acho que há ainda muitas coisas que são mais efetivas se feitas na prática.
Você está empolgado para assistir à trilogia de Star Wars que será dirigida por J.J. Abrams?
Eu e todo o resto do mundo estamos empolgados. Trabalhar com J.J. por oito anos me tornou um fã dele. A qualidade de sua narrativa é algo incrível. Em todos os programas da Bad Robot, há sempre um alto nível de qualidade exigida por ele. Ele é o cara dos efeitos especiais, conhece a tecnologia e os programas. Por isso, J.J. gosta da forma com que Alfonso Cuarón respeita os efeitos visuais e os entende.