Simplesmente Amor, O Diário de Bridget Jones, Quatro Casamentos e um Funeral e Um Lugar Chamado Notting Hill têm algo em comum além de Hugh Grant e do fato de serem alguns dos maiores sucessos da comédia britânica da última década. Por trás desses roteiros está a mesma assinatura: Richard Curtis.
Vestido de preto da cabeça aos pés, visual qua contrasta com seus olhos azuis e o cabelo branco, Curtis apresentou hoje em Madri seu terceiro filme – e, segundo ele, último – como diretor, Questão de Tempo, no qual os ingredientes tradicionais de suas histórias de amor acrescenta gotas de ficção científica caseira: o protagonista, Tim, pode viajar no tempo.
Apesar do toque mágico, o roteirista e diretor garante que o que mais lhe interessa é falar das coisas comuns que acontecem com as pessoas normais: “O estranho é que haja tantos filmes sobre assassinos em série. Se a vida fosse assim, nós seríamos os únicos sobreviventes e provavelmente eu estaria a ponto de te matar”, brincou, em entrevista à Agência Efe.
“Mas o amor, a vida e a morte não violenta, acontecem milhões de vezes a cada dia”, compara.
Curtis diz que o que espera do filme é “que as pessoas riam um pouco e chorem um pouco, e que quando saiam do cinema pensem duas coisas: ‘primeiro, vou ligar para meu pai ou vou ligar para meu filho’, e depois, ‘amanhã tentarei ser um pouco mais feliz'”.
Com um elenco liderado por Domhnall Gleeson, Rachel McAdams e Bill Nighy, Uma Questão de Tempo narra como Tim descobre, ao completar 21 anos, que os homens de sua família têm a habilidade de voltar no tempo e mudar o passado, e sua decisão de usar esse talento para encontrar o amor de sua vida.
Curtis confessa que, em algum momento da pós-produção pensou em incluir efeitos especiais, e inclusive em 3D, para abordar as viagens no tempo, mas no final apostaram na simplicidade: para ativar os “poderes”, o protagonista só precisa entrar em um armário e apertar os punhos.
“Fomos a empresas especializadas e fizemos alguns testes, mas quando vimos o resultado, era horrível, portanto optamos por fazer um filme simples sobre viagens no tempo”, conta, rindo.
“Não foi uma questão de orçamento – na verdade desperdiçamos dinheiro descobrindo que não precisávamos fazer isso”, lembra.
Perguntado sobre “as regras” de uma boa comédia romântica, rapidamente o diretor responde que “a regra é não pensar nas regras”, e garante que “jamais” leu um livro sobre “como escrever um roteiro”.
O inglês, no entanto, não se importa em revelar algumas de suas técnicas, que bebem muito em seu passado como roteirista de TV e na redação de esquetes para sitcoms.
“Apenas convivo durante muito tempo com as ideias. Desde que começo a pensar em um filme sobre o amor, a família e as viagens no tempo, como esse, até ter certeza de que quero fazê-lo, pode passar um ano”, explica.
“Quando começo a escrever, não faço isso na ordem das cenas, mas escrevo um monte de personagens e troços de diálogos, e depois de um mês ou dois, colo todas as notas em um tabuão e digo ‘ah, aqui pode ter um filme’. E começo a trabalhar”.
Entre as comédias alheias favoritas, cita 500 Dias com Ela ou Lost in Translation e quanto a realizar uma possível adaptação literária, menciona Dickens. Mas “me sairia um filme de 25 horas”, aponta, antes de desprezar a ideia.
Assim, sem se levar a sério demais, foi como anunciou recentemente que Questão de Tempo seria sua aposentadoria da direção (não dos roteiros), após Simplesmente Amor (2003) e Os Piratas do Rock (2009).
“Agora me arrependo um pouco de ter dito isso, porque terei que cumprir, não quero parecer como um mentiroso”, brinca.
Um pouco mais a sério, Curtis explica que fez o anúncio porque tem a sensação que em seu último trabalho abordou tudo que o preocupa.
“Outros filmes se detiveram no dia do casamento, mas é aí que as coisas começam a ficar interessantes”, comenta.
Sua possível aposentadoria também tem a ver com manter certa coerência com o que prega na tela.
“(Fazer) filmes são muito estressantes, cada uma lhe toma três anos e eu quero dedicar mais tempo a meus filhos e a comer com meus amigos”, assinala. “Tenho a sensação de que terminei e que agora posso me dedicar a ter uma vida feliz, mas vamos ver”.