Evento de lançamento de novas produções da FOX, em São Paulo
Créditos: gabriel quintão
Quando deixou a Bandeirantes, em janeiro, o humorista Rafinha Bastos tinha duas convicções: tocaria um projeto antigo de realizar um “reality show de mentira”, sobre seu dia a dia, e não voltaria a trabalhar em canal aberto tão cedo. O tal reality ficcional, A Vida de Rafinha Bastos (FX), foi anunciado oficialmente nesta terça-feira (10), no evento de lançamento de novas produções da FOX, em São Paulo. A determinação de largar a TV aberta, no entanto, não será cumprida. Ele está mergulhado até a cabeça na produção do humorístico Saturday Night Live Brasil, da RedeTV!.
Os dois programas têm previsão de estreia em maio e são a chance de o humorista dar a volta por cima na televisão, após meses de manchetes sobre a polêmica em que ele se envolveu com a cantora Wanessa, em setembro de 2011. “Não pensava em ‘volta triunfante à TV’. Eu apenas queria fazer projetos interessantes”, garantiu o artista, ao Virgula Diversão.
A Vida de Rafinha Bastos, que terá um episódio exibido em maio e outros 12 no segundo semestre, retratará o dia a dia do humorista de forma caricatural. O programa Saturday Night Live Brasil, capitaneado pelo artista, por sua vez, tem o desafio de representar à altura, no Brasil, o consagrado programa de comédia norte-americano Saturday Night Live (SNL). Na entrevista concedida no evento da FOX, Rafinha falou sobre os dois projetos. Confira.
O que exatamente é A Vida de Rafinha Bastos? Alguns veículos disseram que seria um reality show misturado a ficção…
É uma série de ficção. Nela, eu falo muito sobre a minha família, mas não é uma exposição da minha vida real. Não estarei com uma câmera na minha casa, mas haverá a representação de alguns elementos da minha vida pessoal. Meu pai, por exemplo, vai ser meu pai de verdade, enquanto minha mãe será uma atriz. Não gosto de ficar dando entrevistas sobre o que sinto ou o que deixei de sentir. Minha ideia sempre foi esperar para fazer a minha série de ficção em que eu pudesse explorar isso de maneira legal.
Quem serão os personagens da série?
Não existem personagens fixos, não é como um sitcom. A série é muito baseada em mim. Então, pode ter um episódio sobre um show que deu errado, outro em que estou fazendo a mudança da minha casa… Mesmo assim, há um pouco da minha realidade. Tem a minha mulher, o meu filho e o meu pai, mas eles não necessariamente estarão em todos os episódios.
O Rafinha do seriado é mais interessante que o Rafinha da vida real?
O Rafinha dos meios de comunicação é, com certeza, muito mais interessante que o Rafinha da vida real. Eu não conseguiria ver manchete alguma sobre minha vida pessoal. Eu tenho uma vida muito chata, na real.
Você conseguiu manter sua vida pessoal longe do olho furacão quando surgiu a polêmica com a Wanessa e, agora, vai mostrar sua família em um “reality de mentira”. Isso não é estranho?
A grande confusão é sobre o que é humor e o que é vida pessoal. Muito do que levo para o palco ou para a televisão não é necessariamente a minha opinião. E não necessariamente são situações reais, mas caricaturas da minha vida. Eu acho que você pode fazer uma opção muito consciente de manter a sua privacidade mesmo com máxima exposição. Apesar de eu ter estado em evidência esse tempo todo, você não vê imagens da minha mulher ou do meu filho em lugar algum. Com essa série, eu consigo passar minha realidade em forma de comédia.
A FOX concedeu liberdade total para os roteiros?
Sim, eu tive absoluta liberdade, pois todas as ideias sobre as quais conversamos foram aceitas. Essa série não tem o intuito de fazer piadas fortes. É uma série de ficção com certa doçura.
Na sua opinião, por que a reação das pessoas à sua piada com a Wanesssa foi tão intensa?
O stand-up ainda é muito novo. As pessoas não conseguem diferenciar o que é minha opinião de verdade. Muitas vezes não é. O fato de eu me apresentar de cara limpa e falar coisas absurdas ainda é muito confuso na cabeça de muita gente. As pessoas estranham o fato de eu não ser um personagem, o bêbado Zé ou a travesti Jaqueline. O que aconteceu era previsível e foi importante para que as pessoas entendessem melhor esse tipo de humor.
A reação agressiva das pessoas nunca te assustou?
Nunca, nunca, nunca. Eu tinha de ficar tranquilo, porque sabia que, em algum momento, isso iria acontecer. Eu não achava que seria com a força que foi, mas acho que o fato de eu não ter falado muito sobre o assunto contribuiu.
Você fez algumas piadas no Twitter sobre sua saída da Band e sobre o processo que a Wanessa abriu contra você…
Eu fiz comédia, cara. Eu sou comediante. É por isso que eu não fico julgando ou falando dos meus sentimentos. Até dei entrevista para a Marília Gabriela (em que ele chorou ao falar sobre o sofrimento de seu pai por conta da polêmica com Wanessa). Mas só dei a entrevista porque ela participou da minha série da FOX, senão não teria feito isso. Foi uma troca que, para mim, valia a pena.
E o Saturday Night Live, em que pé está?
Ainda estamos em um processo de pesquisa muito minucioso. Estamos aprendendo e queremos que o programa seja legal. Mas é um formato consagrado lá fora, e eu carrego isso como uma responsabilidade muito grande. Não tenho a pretensão de que seja a coisa mais revolucionária da TV brasileira. Quero que seja um programa legal, divertido e simples. E não será “o programa do Rafinha”. É um programa de muita gente.
É verdade que vocês enfrentam dificuldades para escalar o elenco desse programa?
Eu também li notas de que não estávamos conseguindo patrocínio, de que tínhamos dificuldade para escalar o elenco (risos). Gosto muito de me informar sobre essas coisas. O elenco já está pré-fechado há um bom tempo. Vou anunciar logo, logo. Eu deixei algumas peças em aberto para que pudesse conhecer mais gente, para que as pessoas viessem atrás de mim também. Teve gente que preferiu ficar em seus programas e não mudar de emissora. O projeto é arriscado, começa do zero. Entendo perfeitamente os riscos.
No Saturday Night Live original, celebridades participam do programa. Vocês cogitaram nomes?
Não tive tempo para fazer isso. Meu tempo está sendo gasto em encontrar a nossa maneira de fazer comédia, a nossa voz. Estamos patinando nisso. Se tudo der certo, encontraremos isso logo, mas estamos correndo contra o relógio. Pretendemos que a estreia seja em maio e estamos correndo para que isso aconteça.
Você precisará seguir os padrões do Saturday Night Live americano?
Na verdade, é muito mais aberto do que eu mais imaginava. Tenho condições de brincar com o formato de outra forma. Quero aumentar a quantidade de números musicais, fazer as piadas de outro jeito. Quero que haja mais tomadas externas do que o programa norte-americano. Eu estive em Nova York para ver a estrutura dos caras, e é um investimento alto. Eles criam todo o conteúdo na quarta-feira e, na sexta, já têm todos os cenários prontos. São nove cenários prontos, e eles começam tudo do zero! Hoje, nenhuma emissora no Brasil teria condições de fazer isso.
Você vê esses dois projetos como uma grande volta à TV?
É, de fato, um retorno. Quando saí da Bandeirantes, eu tinha na cabeça que queria fazer essa série. E tinha muito claro que não queria mais fazer televisão aberta. Algumas pessoas me sondaram, mas eu recusei. Eu queria fazer minha série de ficção, que a FOX aceitou super bem. Daí os caras jogam a maior franquia de comédia na minha mão. E perguntam: ‘O que acha?’. Seria a única coisa no mundo que eu aceitaria fazer. Se me oferecessem um talk show em Marte eu recusaria se fosse TV aberta. Mas esse programa é o sonho de qualquer comediante, uma oportunidade única. Por mais que haja problemas, é uma luta que vale a pena.