Uma propaganda do Metrô e da CPTM de São Paulo gerou revolta nas redes sociais nesta terça-feira (25). Veiculada pela rádio Transamérica FM, a inserção incentiva o “xaveco” no metrô, dias após uma explosão de denúncias e prisões por estupro e crime de atentado ao pudor contra mulheres nos trens da companhia paulista.
A narração – cheia de erros grosseiros de português – diz que é normal os trens ficarem cheios nos horários de pico. E acrescenta: “Pá falá a verdade eu até gosto do trem lotado é bom pra chavecá a mulherada né mano!”. Clique aqui para ouvir. O personagem Gavião, que recita o texto, faz parte do programa Papo de Craque da rádio.
Dois deputados estaduais do PT, Alencar Santana e Luiz Claudio Marcolino, protocolaram na promotoria de Justiça de Direitos Humanos de São Paulo uma representação contra o diretor da CPTM, Mário Manoel Seabra, o diretor-presidente do Metrô, Luiz Antonio Carvalho Pacheco, e o secretário da Casa Civil, Edson Aparecido.
“Não bastasse o sofrimento vivenciado por homens e mulheres no transporte coletivo oferecido pelo governo do estado, de não assegurar transporte público digno que garanta tranquilidade e preservação do direito básico da mulher de não ter seu corpo usado como instrumento da satisfação da lascívia masculina, ao contrário, o governo do Estado de São Paulo promove uma campanha publicitária que em nada contribui para a mudança desse estado de coisas e reforça a cultura machista”, diz o texto da representação.
Imediatamente após a veiculação, usuários das redes sociais criticaram o incentivo ao “xaveco” e o tom jocoso da campanha. “Os caras fazem uma propaganda falando em xaveco no metrô lotado no meio de uma onda de prisões por abuso sexual”, aponta um usuário no Twitter.
Procurada pela reportagem do Virgula, a assessoria de imprensa do Metrô declarou que o conteúdo é “totalmente inapropriado” e que o anúncio não foi aprovado com a agência de publicidade responsável.
Leia na íntegra:
“Assim que tomou conhecimento da inserção (em forma de testemunhal), totalmente inapropriada, o Metrô consultou a agência responsável pelo plano de mídia que incluía a referida emissora de rádio. Foi informado de que seu conteúdo não só estava em desacordo com o propósito do comercial como também nunca fora informado de seu conteúdo. Advertida, a Rádio Transamérica FM tirou o comercial do ar e informou que a produção desse infeliz conteúdo é de sua inteira responsabilidade. Como jamais foi aprovado ou autorizado, esse serviço não foi nem será pago pelo Metrô. O testemunhal é uma peça publicitária que deve seguir um briefing. Neste caso, o briefing transmitido à rádio era mostrar a modernidade do Metrô de São Paulo e explicar que a lotação nos horários de pico acontece em todas as grandes cidades do mundo. Além disso, deveriam ser anunciadas as obras de expansão em andamento.“
Já a Rádio Transamérica FM disse que o texto “em nenhum momento o texto incentiva atitudes lascivas”. Leia o comunicado da emissora:
“Em nota, esclarece a Rádio Transamérica de São Paulo Ltda., que o personagem Gavião é caricato e humorístico, restando claro que o testemunhal amplamente apontado tem o exclusivo intuito de entreter e divertir o público ao passar informações úteis sobre o serviços de transporte público. Em nenhum momento o texto incentiva atitudes lascivas, pois de forma alguma faz qualquer alusão a qualquer tipo de violência ou abuso sexual. O personagem ao empregar o termo “xavecar a mulherada”, se refere única e exclusivamente à paquera, sinônimo da antiga conhecida cantada que de fato pode persuadir ou aproximar pessoas, formando ou não casais, conduta licita que acontece naturalmente na vida cotidiana em qualquer lugar com grande circulação de pessoas. Lamentavelmente, o testemunhal foi veiculado concomitantemente com a grande incidência das ocorrências de abusos sexuais e atentados ao pudor ocorridos nas linhas de transporte público, fato absolutamente condenável com o qual a emissora jamais seria complacente. Contudo, mesmo certa da inexistência de ligação entre o testemunhal feito pelo personagem Gavião e as ocorrências de atentados ao pudor ocorridas nas linhas de transporte púbico, ato no qual o agente sequer troca uma palavra com suas vítimas, mostrando-se também totalmente contrária a esse tipo de conduta que infelizmente acomete grande número de cidadãos diariamente, inibiu a emissora o tema em sua programação.”
Virgula Diversão entrou em contato com o CONAR, órgão que regula a publicidade no Brasil, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.