Geração Brasil é a atual representante do gênero; lembre outras


Créditos: Divulgação/TV Globo

Geração Brasil, a atual novela das 19h da Globo, é a mais nova representante do sub-gênero “novela tecnológica das sete”. Não é a primeira vez que a emissora investe no filão – e mais uma vez, o resultado na audiência é um tanto frustrante: a novela tem média de 20,5 pontos até o momento (capítulo 48).

Os números do Ibope refletem que Geração Brasil enfrenta resistência do público – formado ainda em grande parte por donas de casa e pessoas não familiarizadas com os códigos “internéticos” do mundo de hoje.

Geração Brasil tem um protagonista que justamente vive de tecnologia: o empresário Jonas Marra (Murilo Benício), uma espécie de Bill Gates + Steve Jobs + Mark Zuckerberg. E para narrar a saga do personagem, a linguagem da novela abusa de efeitos “modernos”: imagens a la Google Maps ilustrando as distâncias geográficas percorridas pelos personagens; projeções das telas dos smartphones usados pelos personagens; entre outros truques visuais.

A novela utiliza esses recursos na tentativa de fisgar o público jovem, habituado ao universo da internet e das redes sociais, onde tais efeitos já são banais. Mas esquece que uma grande parcela do público ainda prefere o esquema clássico do “novelão”, sem penduricalhos modernosos.

Curiosamente, a novela anterior no horário já havia sofrido baixas audiências, muito provavelmente por também abusar da aura “jovem” – Além do Horizonte (2013/2014) foi uma novela com cara de série americana, com ecos fortíssimos de Lost, Heroes e outras do mesmo naipe.

Além do Horizonte também explorava a tecnologia atual, com os personagens se comunicando por skype e envolvidos em uma trama de espionagem e sabotagem eletrônica. Tudo com cara de ficção científica, embora tais situações já façam parte de nossa realidade. Mas o público evita.

E não faz muito tempo que, no mesmo horário, a Globo exibiu Morde & Assopra (2011) – novela que também padeceu do mesmo problema. Havia um núcleo cibernético frágil, no qual o personagem Ícaro (Mateus Solano) cria uma mulher-robô, a androide Naomi (Flávia Alessandra), para substituir sua falecida namorada humana.

Pouco antes, também às 19h, a Globo havia produzido Tempos Modernos (2010). O protagonista era o empresário Leal (Antônio Fagundes) que controlava o tecnológico Edifício Titã e dialogava com o robô Frank – um “personagem” criado na cola do computador vilão Hal-9000, do filme 2001, Uma Odisseia no Espaço (1968). Havia ainda uma dupla de vilões a la Matrix: Deodora (Grazi Massafera) e Albano (Guilherme Weber).

Como se vê, a Globo apostou algumas vezes em novelas tecnológicas no horário das 19h, e no geral não agradou. Melhor sorte teve a autora Glória Perez. A sacada da novelista foi a de mesclar os temas futuristas e tecnológicos que queria desenvolver com uma base folhetinesca bem clássica e “antiga”, fisgando assim o público conservador.

Foi assim em Barriga de Aluguel (1990, que misturava inseminação artificial com uma trama de amor bastante melosa); De Corpo e Alma (1992/93, mesclando transplante de coração com strippers do Clube das Mulheres); Explode Coração (1995/96, misturando internet com a milenar cultura cigana); O Clone (2001/02, clonagem humana e a cultura muçulmana)…

Mas nada foi tão divertido no assunto como a clássica Transas e Caretas (1984). Exibida às 19h – sempre! – pela Globo, mostrava o abismo entre dois irmãos: Jordão (Reginaldo Faria), representava o passado – estava sempre de roupa social, era aristocrático, tinha aulas de harpa e residia em uma mansão colonial, com direito a uma mucama (Zezé Motta) que o abanava – detalhe politicamente incorreto. O outro irmão era Thiago (José Wilker), e simbolizava o futuro – vivia num apartamento cibernético, quase o cenário do desenho animado Os Jetsons, com detalhes futuristas e até um robô, Alcides, como mordomo. A abertura simulava um video-game estilo Atari – muito em moda na época.

De modo geral, Transas e Caretas também não cativou o público, mas deixou saudades nas crianças da época – hoje adultos totalmente inseridos no mundo tecnológico, e que gostariam de rever essa novela. Eis o motivo de uma extensa legião de noveleiros que pedem que Transas e Caretas seja uma das próximas novelas reprisadas pelo Canal Viva. Será?


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Por que as novelas que abordam a tecnologia fracassam na audiência?

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