Devido a sua carga ideológica mais ou menos explícita, “alguns filmes contribuem com a atual situação desastrosa do mundo, principalmente os americanos”, afirmou nesta segunda-feira o diretor Oliver Stone em um debate realizado em meio ao Festival de Cinema de Xangai.
Em um simpósio realizado ao lado do cineasta honconguês Johnnie To, no Museu do Cinema de Xangai, Stone, que chegou a ser interrompido três vezes pelos aplausos do público presente, criticou o fato de Hollywood ter voltado a liberar as rédeas para filmes que exaltam o lado glorioso da guerra.
“O Resgate do Soldado Ryan”, de Steven Spielberg, por exemplo, “reflete esse espírito americano: vamos, chegamos, chutamos algumas bundas e fazemos o que tiver que ser feito, mas tudo de mentira”, assinalou o cineasta.
“‘Falcão Negro em Perigo’, de Ridley Scott, é um dos filmes mais obscenos que já foi feito. É um bom filme, funciona e é formoso tecnicamente, mas é obsceno por sua mensagem: Os EUA vão à Somália, onde todo o povo é assassinado por negros que disparam indiscriminadamente, enquanto os americanos mostram sua nobreza”, declarou Stone.
“Este tipo de filme, assim como ‘Gladiador’, gira em torno desta mentalidade e, como americanos, foi o que tivemos que assistir durante anos: filmes de guerra que nos dizem que não faz mal morrer ou nos incentivam a ir para outros países matar gente”, afirmou.
“Há milhares de pessoas como eu que não se identifica com o império americano e que devemos detê-lo, já que o mesmo impõe um mundo de loucura, desequilibrado e supostamente apoiado no domínio do ar, da terra, do mar, do espaço e do ciberespaço”, completou Stone, que ressaltou: “Temos que pensar de verdade o que estamos fazendo com os filmes e voltar a colocá-los em um bom caminho”.
Neste aspecto, Stone lembrou que “Patton – Rebelde ou Herói?” era “o filme favorito de (Richard) Nixon”, o presidente dos EUA no final da Guerra do Vietnã, que, segundo o cineasta, assistia “seis ou sete vezes o filme a cada noite para tirar esse valor e sentir essa sensação de fortaleza militar”.
De acordo com o cineasta, a consequência disso foi o bombardeio americano no Camboja contra os Vietcongs e a morte de “3 ou 4 milhões de asiáticos”.
Stone também afirmou que para abordar a violência no cinema é necessário ter um bom motivo, já que acaba fazendo com que o diretor tenha mais “responsabilidade”, e comentou que, a maioria dos filmes que a abordam, exageram com intenção dramática.
“Após estar na guerra e ver a violência em combate, posso dizer que nem tudo é tiro sendo disparado por todas as partes e 20 pessoas caindo mortas, mas algo mais complicado, sujo e feio”. Se o cinema mostrar a guerra em toda sua crueldade, ninguém “conseguirá assistir o filme”.
“Quando mostro algo mais realista na tela, seja uma luta de boxe ou um massacre em uma guerra, eu gosto de causar um impacto no público”, assim como em “Nascido em 4 de Julho”, que mostra “o efeito que uma bala só pode causar na vida de um homem”, já que o mesmo fica em uma cadeira de rodas após ser ferido em combate.
Sobre a violência bélica contida em seu “Platoon”, Stone afirmou que o mesmo não é realista, já que somente ambienta uma “fábula” sobre a guerra, enquanto, segundo ele, “O Resgate do Soldado Ryan” sim é realista, mas que “exagera” para dar essa ideia do sacrifício glorioso de seu país no conflito.
“Novamente são os EUA criando suas histórias de vitória e de heroísmo de seus soldados “, concluiu.