Rodrigo Fonseca, de Cannes, especial para o Virgula
Com look neanderthal, de barba cerrada, Matthew McConaughey causou furor no 68° Festival de Cannes ao preencher uma vaga aberta pela ausência de Brad Pitt, o galã oficial do balneário francês na ultima década. Ao pisar na Croisette, o astro vencedor do Oscar por Clube de Compras Dallas (2013) virou o homem mais desejado da cidade e do evento, mobilizando uma legião de fotógrafos.
Na tarde de sábado (16), durante a coletiva de imprensa de seu novo filme, The Sea of Trees, a multidão de jornalistas mal dava bola para o realizador do longa-metragem – o sempre badalado diretor americano Gus Van Sant – e preferiu concentrar suas perguntas no ator, que é casado com a modelo mineira Camila Alves desde 2012.
“Terminar um amor pode ser uma experiência de reconstrução tão possante quanto começar uma paixão. O problema é que a dor não nos deixa ver essa experiência de renovação”, disse McConaughey, em meio a uma penca de tiradas fofas que faziam a ala feminina da plateia de Cannes amolecer ao falar das agruras de seu personagem em The Sea of Trees.
Embora fosse um dos filmes mais esperados da competição pela Palma de Ouro de 2015, o longa de Van Sant foi vaiado por não corresponder ao padrão experimental associado ao cineasta a partir do drama Elefante, pelo qual ele ganhou o prêmio máximo de Cannes em 2003. Mesmo assim, não houve uma língua avessa à produção que ousasse destilar veneno contra o trabalho de McConaughey.
“Se o público tem o direito de ovacionar um filme, por que ele não teria direito a vaiar algo que lhe desagrada? Isso é normal”, disse o ator, ganhando ainda mais a simpatia de Cannes, por onde ele passou em 2012 em concurso com os longas Obsessão e Amor bandido.
Na tela, com olheiras de panda e silhueta raquítica, o texano de 45 anos vive o professor de Física Arthur Brennan, que decide viajar para o Japão, até uma floresta chamada Sea of Trees (Mar de Árvores, em tradução literal) para se matar. Mas seu desejo de se suicidar, motivado por problemas com a mulher, Joan Brennan, (Naomi Watts), esbarra em uma série de situações místicas.
Premiere e coletiva de imprensa de The Sea of Trees no Festival de Canne
Créditos: Getty Images
“Este filme fala da tragédia da separação e do quanto é difícil conjugar os verbos amar e perder”, explicou o ator, que vem buscando se firmar como um dos intérpretes de maior prestígio de sua geração. “Nós somos os arquitetos da nossa própria história. Vez por outra, acontecem coisas misteriosas que modificam nossa obra. Mas quem faz essa modificação é uma mão externa, talvez a mão de Deus”. O tom carola das palavras de McConaughey – presentes também no discurso quase ecumênico feito por ele ao receber a estatueta do Oscar – não modificou o interesse central de Cannes por ele.
Aqui, mais do que um talento, ele é um símbolo sexual, que, logo no início da carreira, quando destacou-se ao lado de Sandra Bullock em Tempo de matar (1996), foi chamado de “o novo Paul Newman”. Esse rótulo durou pouco, sendo ofuscado conforme o ator foi se embrenhando em comédias românticas muito populares mas de zero respaldo entre os críticos, feito Como perder um homem em 10 dias (2003). “Tensão é o pior inimigo de um homem. Na hora de uma escolha, pessoal ou não, é preciso calma”, recomendou o astro, lembrando que escolheu fazer o filme de Van Sant pela discussão existencial que ele faz sobre o amor.
Para se preparar para o papel, ele propôs à atriz Naomi Watts um jogo: Um escreveria cartas para o outro, como se fossem o casal do filme. E, segundo ela, ele escreve sobre o bem-querer muito bem. “Uma carta é algo que revela muito do coração – disse o ator, que admitiu em Cannes, em resposta a uma pergunta sobre musicais, ser um pé de valsa e ter boa voz. Canto muito bem. E se eu tiver que dançar… farei com prazer”, contou.