Concorrendo com 60 filmes, o documentário Triunfo foi o vencedor da 6.ª edição do festival In-Edit Brasil deste ano. O evento promove, anualmente, a exibição de documentários musicais, premiando os destaques de cada edição.
O documentário conta a história do dançarino e ativista social Nelson Triunfo, conhecido pelo apelido “Pai do Hip Hop”. O pernambucano foi um dos precursores da música e cultura black no Brasil, sendo o pioneiro na introdução do break dance no país.
Com direção de Cauê Angeli e Hernani Ramos, o filme conta, além de entrevistas com o próprio Triunfo, com depoimentos do também coreógrafo Carlinhos de Jesus, da dupla de grafiteiros Os Gêmeos, dos músicos Cajú e Castanha e de outras personalidades que reconhecem a importância do artista para a cultura hip hop, como Wilson Simoninha, Sandra de Sá e Criolo.
O Virgula Diversão conversou com Angeli sobre como foi ganhar o prêmio para eles e a importância da figura de Triunfo para a cultura black do Brasil dos anos 80 e ainda dos dias atuais. Leia a entrevisya completa:
Foi uma surpresa levar o prêmio?
Foi. A gente não estava esperando. Quando inscrevemos o filme, nossa intenção era só repercurtir o filme. Quanto mais pessoas assistissem, melhor para a gente. Era essa a ideia quando colocamos o filme no festival. Ficamos muito felizes de termos ganhado. Nós não esperávamos mesmo ganhar porque estávamos concorrendo com filmes fortes.
Esse foi só segundo festival do filme. A gente mandou para Gramado, mas ainda não sabemos se passou ou não. Mandamos para uns festivais no exterior também. A cidade de Triunfo (PE) — terra natal de Nelson — também tem um festival e mandamos para lá. Vai ser interessante o documentário sobre o Nelson competindo em Triunfo.
De onde surgiu a ideia de fazer um longa sobre o Nelson Triunfo?
O Nelson veio na produtora. Ele contou a história dele aqui para a gente. O Hernani, junto com o Nelson, resolveu começar a ir atrás da história dele, a entrevistar as pessoas, a realmente fazer uma pesquisa para levantar o filme para vermos que história a gente ia contar. O documentário começou de uma forma totalmente independente e, depois de quatro anos, conseguimos conclui-lo.
A distribuição do filme também está sendo bem independente. Há alguns lugares que entram em contato com a gente para poderem exibir o filme, como a Matilha Cultural, por exemplo.
A gente quer colocar nos Centros Educacionais Unificados (CEUs) da cidade. Nossa maior intenção é projetar o filme na periferia.
Em um momento em que as questões de raça estão tão polarizadas, qual a importância de trazer à tona um personagem como o Nelson?
Acho que com a história do Nelson reflete bem o panorama de o que é do brasileiro. Ele foi um cara que teve que trabalhar a vida inteira, que teve que fazer diferente. Que teve que dançar conforme a música. A história do Nelson é muito rica dentro desse aspecto. Ainda mais dentro da história dessa grande parcela da sociedade que é o público negro. Imagina: se a ditadura foi difícil para os brancos, para os negros foi muito pior. E o Nelson era um deles. Ele estava tentando fazer algo totalmente diferente do que estava acontecendo na época.
A grande missão do Nelson foi fazer o que fazia dentro dos salões de bailes na rua. Foi uma coisa super atípica para o momento. Esse ator do Nelson de ter levado a sua dança para a rua foi muito relevante. E ainda é muito importante nos dias atuais. Muitas pessoas estão se identificando com o filme e isso é muito bacana.
Você acredita que, mesmo em 2014, a música black permanece em um “gueto” cultural?
Não sei muito como funciona o movimento Black Music no Brasil hoje em dia. Sei que ainda tem o Furacão 2000 no Rio de Janeiro, onde ainda acontece alguns bailes tradicionais. Em Belo Horizonte, também ainda há alguns bailes tradicionais. Então, ainda existe um circuito da Black Music do funk original. Ainda existe um resquício disso no Brasil. É um movimento grande ainda, mas não é gigante que nem daquela época.
Tem algum momento das gravações ou do filme que foi particularmente emocionante ou diferente que você possa compartilhar conosco?
O ato de ter levado o Nelsão para Nova Iorque. O final do filme é ele dançando nas rodas de lá. Ele ter ido para lá, onde o hip hop nasceu, e ter falado com as pessoas de lá, trocado experiência… Isso tanto para equipe quanto para ele foi bem legal. Foi uma das melhores experiências.
Essa troca que o filme fez de acabar em Nova Iorque, dando respeito ao hip hop, foi bem bacana. No final do filme, tem o Afrika Bambaataa passando uma mensagem. Isso foi muito importante, já que foi ele quem citou pela primeira vez o termo hip hop. O cara tava no final do filme, falando do Nelsão… Foi bem bacana.
Quais são os seus projetos futuros? Tem algo semelhante?
Hoje, eu estou fazendo um documentário sobre o deputado federal Jean Wyllys, mas não é no meio da música. O próximo documentário que a gente está querendo fazer nessa temática é sobre o Germânio Mathias. Já está em desenvolvimento com a Ancine e nós vamos rodar ele pelos próximos anos.