O nome mais esperado de 2015 é revelado logo no título do documentário em série que estreia no Brasil no próximo dia 2 de agosto: I Am Cait vai mostrar em oito episódios os primeiros passos da vida de Caitlyn Jenner, apresentando em fatos a transição que só ouvíamos falar através de episódios de Keeping Up With The Kardashians e das revistas e sites de fofoca.
Aliás, façamos um trato antes de começar a falar deste novo reality show: para compreender melhor o que ele traz, é importante deixar de lado a família que a tornou famosa para a geração mais nova, que não a viu competir e vencer os Jogos Olímpicos de Verão em Montreal em 1976. Apesar de, logo no primeiro episódio, termos a participação de sua filha Kylie Jenner, da enteada Kim Kardashian e do genro-superstar Kanye West (que chega trazendo palavras de sabedoria, como “foda-se tudo isso, seja você”), o foco do programa é em Cait e em sua nova jornada. Combinados?
I Am Cait
Créditos: Divulgação
Fomos ao evento do canal E! Entertainment Television Brasil, que é quem traz a série, e assistimos ao primeiro episódio. Nele, já foi possível ver a diferença do que podemos chamar de reality show: é realidade pra todos os lados. Começa com Cait encontrando sua mãe, Esther, de 88 anos, e suas irmãs Pam e Lisa, pela primeira vez desde a transição. As mãos nervosas, a expectativa, o cuidado com as palavras para não errar os pronomes de gênero, tudo isso é muito genuíno e capturado no calor do momento, por mais que o programa tenha um roteiro. E faz com que o espectador acabe vivendo boa parta das emoções enquanto elas se desenrolam.
Já foi dito em milhares de entrevistas que Jenner pretende usar sua imagem pública para chamar a atenção para os casos de transfobia, que anualmente levam jovens do mundo inteiro a sofrerem violência e até cometerem suicídio por não conseguirem lidar com a pressão do dia-a-dia. Durante os episódios será possível vê-la conversando com jovens que enfrentam dificuldades na hora de se afirmarem transgênero perante a sociedade ede realizarem a transição em si — que é um processo caro, que pode requerer intervenções hormonais e cirúrgicas de acordo com o caso. No primeiro episódio ele também conversa com pais de um rapaz transgênero que se suicidou semanas antes de receber seu novo documento de identidade. Faz sentido esquecer as Kardashians como dito acima, não é mesmo?
E por falar em militância e visibilidade, neste evento encontramos e quisemos conversar com Thammy Miranda, que está passando pela transição contrária à de Cait. Conversamos com ele, que pediu que nos referíssemos da forma que o enxergamos, e por isso preferimos tratá-lo no masculino (quanto ao nome, não foi feita nenhuma especificação), e pedimos para que nos contasse com o que ele se identificou mais durante o programa.
Bia Bonduki
“Definitivamente, com a família. Para os meus pais ainda é muito difícil me tratar no masculino. Já a minha transição foi bem mais cedo, e eu não precisei fazer uma troca brusca de roupas do meu armário, porque eu já usava minhas roupas parecidas com as de hoje”, conta Thammy. Ele espera que o programa ajude a aumentar a visibilidade da comunidade trans, mesmo através de um programa que seja transmitido na televisão a cabo. “Precisamos levar a nossa voz para as pessoas daqui também, existe muito suicídio e muito homicídio principalmente nas comunidades que não terão acesso a esse show”, reflete o empresário, que é envolvido em grupos de conversa de transgêneros e sabe da realidade de quem não conta com o apoio da família nesta transição. “Aqui é tudo muito enrustido, você vive uma farsa, as mães falam que não perceberam nada ao longo da vida, mas na verdade nós é que disfarçamos. A gente passa um tempo se enganando e enganando os outros”, finaliza.
E como foi o processo para o próprio Thammy?
– Eu também me enganei. De primeiro momento, eu sentia que a roupa me incomodava, o meu cabelo me incomodava, eu não sabia direito o que estava acontecendo comigo. Eu nasci em um ambiente vaidoso, de mulheres que se cuidam, então eu era somente uma pessoa que não era vaidosa. Aí você vai notando que não é só a roupa, é o peito, e você realmente se entende quando você fica nu e vê o que tem por dentro. Aí eu entendi que a minha insatisfação era o que tinha e não a roupa que eu vestia. A maturidade ajuda, também.
Voltando ao programa, se você pretende acompanhar toda a trajetória, ela começa às 19h deste domingo, dia 2, com o especial Keeping Up With The Kardashians: About Bruce (bem, o lado delas você vai precisar ver). Em seguida, às 21h, começa o especial Bruce Jenner: The Interview With Diane Sawyer, feita em abril deste ano. Por fim, às 23h, o primeiro episódio de I Am Cait. Separe lenços, uma mantinha confortável e um aperitivo para se estufar nos momentos mais tensos ou nos de maior ternura — serão muitas emoções.