Luisa Clasen é uma carioca criada em Curitiba que se tornou uma das maiores formadoras de opinião entre youtubers quando o assunto é cinema. Não por acaso, ela é uma dos sete jurados que irão ajudar a escolher os dois ganhadores do Prêmio Netflix Brasil 2016, que tem votações abertas até 4 de outubro.
Seu canal é o Lully de Verdade, que tem 286 mil inscritos e milhares de visualizações em cada vídeo. Mas, para ela, não foi isso que a colocou como uma das selecionadas pela comissão. “É muito especial pra mim ser escolhida para participar aqui, porque meu canal não é um canal de número, é um canal de engajamento, interatividade com o público. É o reconhecimento também da minha formação, né, sou formada em cinema, fiz vários cursos relacionados. A gente sabe que há canais de cinema muito maiores, que mereciam estar aqui tanto quanto eu, mas é muito especial por ter a ver com o que eu prezo no meu canal, essa parte mais motivacional pra quem quer fazer cinema”, disse ela, entrevista exclusiva para o Virgula durante a coletiva de imprensa que inaugurou a premiação, nesta terça-feira (13), em São Paulo.
Aquarius
Uma das maiores polêmicas do cinema brasileiro nos últimos dias, o suposto boicote ao filme Aquarius, acusado por seu próprio diretor, Kleber Mendonça Filho, na indicação do Brasil ao Oscar, foi um dos assuntos abordados durante a entrevista. Ao contrário da maioria, Lully tinha algumas críticas pra fazer ao longa. “Meu problema com Aquarius foi que eu não me identifiquei com a protagonista. Ela [Sônia Braga] está maravilhosa, o arco dramático perfeito, o filme tá redondo, mas eu não consegui embarcar na história. Estávamos até falando disso e achamos que é uma questão geracional”, opinou.
Veja aqui a lista de indicados ao Prêmio Netflix
Leia a entrevista completa
Virgula – Por que você acha que a Netflix te escolheu para fazer parte desse time de jurados com tanta gente importante para o cinema brasileiro?
Lully de Verdade: É muito especial pra mim ser escolhida pra participar aqui, porque meu canal não é um canal de número, é um canal de engajamento, interatividade com o público, então é o reconhecimento também da minha formação, né, sou formada em cinema, fiz vários cursos relacionados. A gente sabe que há canais de cinemas muito maiores, que mereciam estar aqui tanto quanto eu, mas é muito especial por ter a ver com o que eu prezo no meu canal, essa parte mais motivacional pra quem quer fazer cinema.
Virgula – Vocês chegaram a ver os filmes?
Lully – Eu vi dois até agora
Virgula – Pode falar quais?
Lully – Não (risos). Mas já temos palpite de em quem a gente acha que o povo vai votar e tal, muito provavelmente em títulos mais comerciais, mas pode ser que o público nos surpreenda.
Virgula – Você acha que essa tendência influencia pra que vocês tentem escolher algo menos comercial pra poder balancear?
Lully – Vai muito do gosto pessoal, porque não acho que existam filmes ruins, existem filmes que são feitos para determinadas pessoas, então não concordo com esses métodos de pesquisa que dizem ‘esse filme é ruim, esse filme é bom’, não. Acho que determinado filme é bom para quem gosta daquilo, então creio que é uma escolha pessoal. Eu tenho anotado tudo o que eu percebo sobre os filmes de forma objetiva, pra lembrar o que eu senti naquela ocasião, porque quando nós vamos [assistir filmes] na Netflix, nós buscamos sentimentos.
Virgula – Você que está no Youtube. Ele, além de ter milhares de youtubers, agora passou a se tornar um lugar bom para se fazer televisão, um exemplo disso é a disponibilização de todos os episódios de Castelo Rá-Tim-Bum pela Cultura. Na sua visão, qual a importância do Youtube pra influenciar a TV brasileira a fazer mais produções se inspirando em canais da rede?
Lully – Acho que isso cria dois momentos muito interessantes na história do Youtube. Nós estamos vendo muitas pessoas da velha mídia vindo pra ele, como a Marília Gabriela, o Celso Portiolli, então é muito interessante ver como as pessoas da velha mídia abraçaram a nova mídia e estão tendo sucesso e, ao mesmo tempo, temos uma valorização do caseiro. O que dá certo são aquelas coisas com cara de ‘eu que fiz’. Uma coisa que aparentemente foi feita ‘sem querer’, mas tem uma baita produção que é mascarada. Então isso é bacana.
Virgula – Você faz tudo no seu canal?
Lully – Faço tudo. Gravo, edito, publico, agendo tweets…
Virgula – Você gostou de Aquarius?
Lully – Meu problema com Aquarius foi que eu não me identifiquei com a protagonista. Ela [Sônia Braga] está maravilhosa, o arco dramático perfeito, o filme tá redondo, mas eu não consegui embarcar na história. Estávamos até falando disso e achamos que é uma questão geracional, porque, no meu ponto de vista, ela poderia ter movimentado todos os vizinhos e todo mundo ficasse lá e tudo mais, mas isso é uma coisa geracional, na minha visão ela foi um pouco egoísta.
Virgula – Você acha que isso até influenciou na escolha para o Oscar?
Lully – É aquela coisa de homens brancos, hétero cis… (risos) não sei, o filme que foi indicado eu não assisti. Ele veio todo quietinho, comendo por fora, né?