O filme franco-brasileiro Amazônia inaugura, nesta quinta-feira (26), o Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro com uma atrevida proposta que transita entre o documentário e a ficção, e leva o espectador a uma aventura pela floresta amazônica com um macaco capuchinho como único protagonista.

O longa-metragem, filmado em três dimensões e dirigido pelo francês Thierry Ragobert, relata sem a ajuda de diálogos ou narração a história de um macaco de circo que sobrevive a um acidente com um pequeno avião em plena floresta amazônica.

O macaco criado em cativeiro se depara com um meio hostil cujos códigos desconhece, por isso sua luta pela sobrevivência se transforma em uma aventura nos moldes de um Robinson Crusóe ou um Indiana Jones peludo e com coleira vermelha no pescoço.

O produtor brasileiro Fabiano Gullane, um dos responsáveis pelo projeto, explicou à Agência Efe que o “grande desafio” da equipe foi “construir uma grande ficção” com os elementos naturais típicos do documentário, e para isso recorreram à inspiração das histórias de aventuras clássicas.

“Todas essas histórias do outsider, do intruso em uma nova atmosfera, que tem que construir sua jornada para sobreviver, desde as mais clássicas, sempre serviram de referência”, disse o produtor.

No entanto, a principal fonte da qual bebeu o roteiro foi “um trabalho muito sólido de análise de comportamento” dos macacos capuchinhos e do resto dos animais selvagens que aparecem no filme.

Algumas situações e perigos que espreitam o protagonista lembram por vezes o gênero de aventuras, e em outros momentos são totalmente relacionados à floresta amazônica, como a ameaça de insetos, predadores e os dilúvios tropicais e as inundações.

O longa é carregado de ação, tem momentos cômicos e guinadas inesperadas que ajudam a prender a atenção do espectador pelos 83 minutos de duração.

A câmera também mostra, com pegada de documentário, a fauna fantástica da Amazônia, sempre do ponto de vista do macaco, que fica surpreso, admirado ou teme por estes encontros repentinos.

São retratados em detalhes nas três dimensões araras, serpentes, botos, bichos preguiça, quatis, tamanduás, insetos surpreendentes e um jaguar, o maior felino da Amazônia.

Uma cuidada fotografia oferece uma visão espetacular da floresta, com paisagens panorâmicas ao entardecer ou ao amanhecer, mostrando detalhes da vegetação iluminadas pela luz tênue filtrada pela densa folhagem.

O filme, embora mostre tangencialmente a ação do homem nas imediações da selva, não pretende fazer uma leitura política ou mandar uma mensagem à conservação da Amazônia, segundo os responsáveis.

“Não tem intenção política, mas queremos mostrar como é lindo, espetacular e impressionante ter a floresta de pé”, comentou Gullane.

A filmagem durou dois anos e meio na floresta brasileira e antes contou com um período de adaptação para que os animais, na maioria selvagens, se acostumassem ao contato com o ser humano.

Para o papel principal foi eleito um macaco que não era adestrado e que aprendeu somente “algumas coreografias”, sempre com a supervisão de uma equipe científica e de autoridades ambientais brasileiras, que se certificaram que a filmagem causasse “o menor impacto possível” aos animais, segundo Gullane.

Um único macaco interpretou o papel protagonista na maior parte do filme, mas da mesma forma que as grandes estrelas de Hollywood, teve que ser substituído por “dublês” em algumas cenas específicas.

Antes da exibição no Festival do Rio, Amazônia havia estreado em julho no encerramento da 70ª edição do Festival de Veneza.


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Macaco protagoniza filme Amazônia e leva Festival do Rio para a floresta