Uma risada aguda corta o silêncio dos corredores da Rede TV!, na região metropolitana de São Paulo. “É ele? Só pode ser ele”, diz o cinegrafista do Virgula enquanto aguarda João Kléber para a entrevista em uma sala de reunião da emissora. Depois de uma bateria de gravações, o apresentador atendeu a equipe do site para falar sobre seus projetos, humor e sua maior paixão, a TV.
Seu jargão mais recente, o “para para para”, se tornou símbolo de seu programa vespertino. O recurso é eficaz: faz suspense para os dramáticos casos apresentados nos quadros, e claro, segura a audiência. “Eu faço um programa com o povo. Quero ver dar audiência aqui. Eu faço meu entretenimento. Agora, lá você tem um programa de auditório e cai audiência, baixa o elenco da novela da Globo todo. Qual cantor nega ir na Globo? Diz um pra mim. Eu não faço programa com artista, faço com o povo”, disse o apresentador, que repudia críticas aos programas populares. “O Teste de Fidelidade é baixaria na Rede TV!. A Globo fazendo traição é entretenimento. Preconceito”, completou.
“As pessoas que me conhecem de muitos anos me dizem ‘você fazia humor intelectual, político, sátiras e foi fazer um programa popular assim’. Por que esse preconceito? É ridículo. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Às vezes, o meu programa traz uma crítica social com o humor que faço. As pessoas enxergam de outra forma”, explicou.
Na Globo
Hoje, o apresentador se foca nos programas de auditório e nas vendas de formatos para o exterior. No entanto, o passado de João Kléber foi dentro da Globo – no fim da década de 80 e início de 90 -, emissora que elogia, mas também alvo de comemorações quando lembra os dias em que bateu sua almejada audiência número 1. No período em que esteve na emissora carioca, o humorista chegou a substituir Chacrinha no programa Cassino do Chacrinha. Foi lá também onde comandou dois programas especiais de fim de ano, o Ri-Retrospectiva, onde fazia sátiras com políticos, religiosos e com a própria emissora. “Deu 33 pontos de audiência. Diga hoje quem dá 33 pontos de audiência. Tinha esquete do Collor, do Papa, do Pelé, do Brizolla, e olha que ele tinha problema com a família Marinho na época”, lembra.
João Kléber ressalta a liberdade que tinha para se criar humor naquela época. “Fiz o Silvio Santos na Globo. Foi inédito. Hoje vê os caras falando que fizeram Silvio na Globo. Eu fiz em 90. E outra, eles criaram o cenário gigantesco da Porta da Esperança”, afirmou. “Irreverência total. Eu tinha essa liberdade. Eu fazia sátira política. Imitei o Papa. Doutor Roberto [Marinho] era católico fervoroso”, completou.
“Hoje não tem mais isso. Eu tive uma escola de profissionais com quem aprendi muita coisa. Grandes diretores, grandes roteiristas. A TV Globo fervia. Era criação atrás da outra”, explicou.
Humor atual
Sem citar nomes diretamente, João Kléber deixa escapar que é fã de Marcelo Adnet e seu Tá no Ar, que satirizava a TV em geral. “A safra que está hoje aqui fazendo humor é boa. São bons humoristas. É a onda do stand up, mas surgiram muitos. E estão ficando os melhores. A geração atual não tem tanta referência como eu tinha na época”, explicou, citando Chico Anysio, Jô Soares, Agildo Ribeiro e Os Trapalhões.
Como espectador, o apresentador explica que consome de tudo, desde programas de auditório, novelas até documentários da TV paga. “Vejo Silvio Santos, Raul Gil, Big Brother, tudo”.
Ao falar sobre nomes que comandam programas de auditório, não economiza elogios para Rodrigo Faro, da TV Record. “Apresentador é uma palavra mal aplicada. Silvio Santos sempre disse que era animador de auditório, e não apresentador. O Faro é um animador de programa”, completou.
Formatos da TV
João Kléber vendeu diversos formatos de seus quadros para exterior, como o Teste de Fidelidade. “As pessoas param em Angola para assistir”, disse. No Brasil, o apresentador afirmou que falta criação de conteúdo. “O The Voice, show. Ídolos, show. O que é? É um show de calouros. A única coisa é que o povo não votava. Não tinha internet. Agora, foi produzido na Inglaterra e foi bem feito. Os caras que foram espertos e nós somos otários de comprar. Paga uma grana e pode fazer aqui. Tem que tirar chapéu para os caras. Fazem bem feito, mas é um show de calouros”, completou.
“Eu vejo muito executivo indo em feiras de comunicação mais pra fazer lobby e passear do que realmente estudar as coisas que estão acontecendo. Essa é a verdade. Por isso que a gente vai continuar comprando. Acho bobagem”, finalizou.
Programa aos domingos e internet em 2016
O apresentador afirmou que fará uma atração dominical na Rede TV! Em 2016. “É um programa de variedades, logo depois do Encrenca. Música, calouros, bastante humor, várias coisas. Um outro João Kléber”, disse, afirmando ainda que tem planos de fazer algum projeto na internet.
O projeto não é de hoje. Segundo ele, a vontade vem desde a década de 80, ainda na Globo. “O Boni terminou com o programa do Chacrinha em 88 porque achou que ele era insubstituível e não devia ter nada depois. Houve a possibilidade de eu fazer um programa aos domingos. Aí a Globo contratou o Fausto em 89, o que achei ótimo. Nem preciso dizer o talento que ele tem e fazia muito sucesso como Perdidos na Noite. Eu era um dos cotados pra fazer esse programa aos domingos. Desde 88 e 89 eu já vinha com essa ideia”, explicou.