O Pai da Nouvelle Vague, a revolucionária onda que mudou o cinema por uma proposta crítica e comprometida, o cineasta Jean-Luc Godard completa nesta sexta-feira 80 anos, ligado a uma visão particular do cinema e da vida.
Poucos meses depois que seu último filme, Film Socialisme, chegou às telas de alguns países, o cineasta franco-suíço não se esquivou das polêmicas.
Acusado de “antissemita” nos Estados Unidos, Godard se negou no mês passado a receber o Oscar oferecido por Hollywood pelo conjunto de sua carreira, “magoado” porque a imprensa americana reprovou sua postura “muito pró-palestina”.
Chamado de pai da Nouvelle Vague, o autor de Acossado, considerado o filme fundador dessa rompedora corrente, abriu as portas para uma nova maneira de fazer cinema.
Filho de uma família da burguesia franco-suíça, Godard nasceu em Paris durante a Segunda Guerra Mundial. Educado na França, acabou os estudos de Etnologia, mas logo trocou pelo cinema, primeiro como crítico, até que passou para o outro lado da barreira.
O sucesso que Acossado teve entre o público e a crítica em 1959, sua narrativa diferente, com constantes mudanças de direção, foram o tiro de saída para uma geração que estava ansiosa para revolucionar os modelos da época.
“O que eu queria era partir de uma história convencional e refazer, de forma diferente, todo o cinema que já havia sido feito”, assegurou, então, Godard.
François Truffaut, Éric Rohmer e Claude Chabrol moldaram a corrente para transformá-la em um fenômeno que ultrapassou fronteiras e se instalou de forma duradoura.
Depois vieram os filmes Uma Mulher é Uma Mulher (1961), O Pequeno Soldado (1963) e Bande à Part (1964), entre outras muitas obras que completam sua ampla filmografia. Godard nunca se esquivou do papel de líder, de cabeça visível dos jovens que queriam mudar o estilo da época.
No turbulento mês de maio de 1968, enquanto os estudantes marchavam nas ruas de Paris, Godard liderou o movimento que levou o protesto contra o sistema ao Festival de Cannes. Com este festival, o diretor viveu uma história de amor e ódio. Apesar de suas seis indicações, nunca ganhou uma Palma de Ouro.
Este ano, depois de anunciado seu retorno ao La Croisette para apresentar Film Socialisme, o diretor cancelou sua participação no último minuto, vítima de um misterioso “mal grego”.
“Com o Festival irei até a morte, mas não darei um passo mais”, disse o cineasta em uma carta, alimentando a máquina dos rumores que se inquietam por seu estado de saúde. No entanto, para alguns, não foi mais que um desprezo ao tapete vermelho, ao “glamour” que sempre combateu em sua vida e em seus filmes.
Godard foi um diretor comprometido com uma certa ideia política, uma esquerda tão particular como sua obra.
A Chinesa e Week-end à Francesa são exemplos de sua particular visão da luta do proletariado.
Nos anos 1970 viajou pelo mundo, seguiu brigando com o sistema, rodou filmes que se negou a estrear, como One American Movie e British Sonunds, e começou a experimentar o vídeo.
Voltou-se para um cinema mais comercial nos anos 1980, onde se reencontrou com atores de renome, mas sem nunca renunciar à polêmica. E, depois de um período, retornou ao cinema experimental no final do século passado, com obras como Elogio do Amor.
Quentin Tarantino homenageou o diretor batizando sua produtora de “Bande à Part”.
Tão alheio à polêmica que provoca como ao entusiasmo que gera, Godard segue na crista da Nova Onda que ajudou a criar.